sábado, 4 de agosto de 2012

SIMÕES LOPES NETO E A HISTÓRIA DE SÃO LOURENÇO

Nem causos, nem contos e nem lendas. Essencialmente história é o que nos
revelou o escritor João Simões Lopes Neto (1865-1916) quando, entre 1911
e 1912, publicou a “Revista do 1º Centenário de Pelotas”. O autor de “Causos
do Romualdo”, “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”, lançou a revista para
as comemorações dos cem anos de fundação de Pelotas. Ele destacou o marco
inicial: a criação da freguesia (distrito) de São Francisco de Paula, em 7 de julho
de 1812. O território era parte do 3º distrito (Cerro Pelado) do município de Rio
Grande e tinha por limites o Canal São Gonçalo, a Lagoa dos Patos, o Rio
Camaquã e o “centro da Serra dos Tapes”, que o dividia da recém-criada
freguesia de Canguçu.
Mas além de relacionar fatos e personagens marcantes da história pelotense, 
Lopes Neto também escreveu sobre Canguçu e São Lourenço. Um trabalho
publicado pelo professor Eduardo Wilhelmy, em 1905, pode ser apontado como
a primeira resenha histórica de Canguçu. Quanto a São Lourenço, cremos que
esta primazia coube a Lopes Neto.
AS ORIGENS
Tal como Pelotas, São Lourenço tem origem no século 18, nas estâncias das
terras planas entre a Lagoa dos Patos e a Serra dos Tapes, ocupadas por
militares luso-brasileiros. O registro mais antigo é de 1785, quando a Estância
São Lourenço está na posse do capitão-mor Manoel Bento da Rocha. Até o início
do século 19, documentos citam o “Distrito de São Lourenço”, depois “Distrito do
Boqueirão”. Lopes Neto, porém, começa sua narrativa muito depois, na data de
11 de dezembro de 1830, quando a freguesia de Pelotas é dividida e surge a
freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão. Omite, no entanto, a lei
de 7 de abril de 1832, que cria o município de Pelotas, tendo Boqueirão como 3º
distrito. Em seguida, o escritor lista uma série de leis de desmembramento do
território, como a de 26 de abril de 1884, que criou o município de Boqueirão,
limitado pelo Arroio Correntes, Canguçu, Lagoa dos Patos e Rio Camaquã; e a
de
28 de junho de 1889 que extingüiu Boqueirão e o incorporou ao novo município
de São João da Reserva, que nem foi instalado em virtude da Proclamação da
República. 
LUTAS POLÍTICAS
Nas leis referidas por Lopes Neto, vê-se que desde 1861 houve um esforço para
que São Lourenço fosse sede distrital e se emancipasse. É o caso da lei que criou
a freguesia de São Lourenço (4º distrito de Pelotas), em 29 de abril de 1876, de
autoria do deputado liberal Saturnino de Arruda. Frise-se que por muitas décadas
o confronto de políticos conservadores e liberais barrou o progresso e a
autonomia de São Lourenço. Durante e após a Revolução Farroupilha as facções
políticas definiam o impasse: no Boqueirão, os Vieira Braga e os Gomes de
Carvalho, conservadores/monarquistas; em São Lourenço os Abreu e os
Guimarães, liberais/republicanos. A autonomia só veio com o fim da Monarquia.
Assim, em 15 de fevereiro de 1890 - sem o voto do povo - um ato de gabinete do
governo republicano do Estado criou o município de São Lourenço, tendo como 2º
 e 3º distritos, Boqueirão e Reserva.
Lopes Neto era um vibrante republicano  mas escreveu com espírito isento, talvez
até para não reavivar memórias das divergências que levaram à Revolução de
1893-1895, quando a luta política vitimou mais de dez mil gaúchos.
O FUNDADOR
Lopes Neto destaca que o fundador de São Lourenço foi José Antônio de Oliveira
Guimarães, o qual foi vereador por Pelotas de 1861 a 1864. Pelo Partido Liberal,
é claro. Por volta de 1850 ele destinou “um oitavo de légua” de sua Estância São
Lourenço “para a fundação de um povoado”, junto ao porto de sua charqueada.
A idéia partiu de seu amigo Domingos José de Almeida, o super-ministro
farroupilha, que em 1844 fundara a cidade de Uruguaiana. Por volta de 1860
Guimarães mandou construir a primeira capela, frente à atual praça central, e
comprou a imagem do mártir São Lourenço.
A COLÔNIA
Na mesma em carta que sugeriu a fundação de uma povoação junto ao Rio São
Lourenço, Almeida propôs a fundação de uma colônia na Serra dos Tapes. O
projeto que obtivera êxito em diversas regiões do Estado, tivera em Pelotas uma
série de fracassos. Guimarães assumiu a nova proposta e, conforme Lopes Neto,
em 15 de março de 1857, assinou em Rio Grande um contrato de sociedade com
Jacob Rheingantz  formando a empresa “Colônia de São Lourenço”. A importante
participação de Guimarães é omitida em dois históricos da Colônia, um publicado
em 1907, por um filho de Rheingantz, e o outro em 1957, por um escritor
 contratado pela família Rheingantz. As duas versões ocultam muitos fatos
importantes, como o de que a maioria dos primeiros imigrantes, vindos em janeiro
de 1858, acabaram indo para Pelotas, São Leopoldo e Santa Cruz. A situação
tornou-se tão dramática que Guimarães, ao final do prazo contratual de 5 anos,
abandonou a sociedade.
A CÃMARA
Com referência à vida política de São Lourenço Lopes Neto registra o advento da
República, com a posse e ação da Junta Provisória de governo. Em 7 de março de
1890 temos o registro da primeira ata da “Câmara Municipal da Vila de São
Lourenço”, com as assinaturas dos cidadãos Carlos Otho Knüpppeln e Ignácio dos
Santos Abreu, “administradores provisórios dos negócios municipais”. Mais tarde,
a 23 de abril de 1890, transcorre a solene inauguração do prédio da Câmara
Municipal. Por fim, além de citar o início das atividades de um estaleiro, Lopes
Neto enumera nomes dos primeiros conselheiros (vereadores) municipais e do
primeiro intendente: o fundador da cidade, coronel José Antônio de Oliveira
Guimarães, empossado em 18 de outubro de 1892.
João Simões Lopes Neto, como dissemos, escreveu com absoluta isenção política.
E mais: sem paixões, sem obrigação de agradar quem quer que fosse. Por isso,
seus artigos históricas são definitivos, esclarecedores. Ele não foi um animador de
auditório a contar absurdos como se história fosse; nem lançou teses exdrúxulas
para agradar governantes de plantão. Lopes Neto foi um hisoriador honesto, além
de escritor brilhante. Foi, aliás, o primeiro historiador de São Lourenço.PEDRO 
HENRIQUE CALDAS Historiador, membro do Instituto Históricoe Geográfico de
Pelotas – IHGPelFonte: LOPES NETO, João Simões. “História de Pelotas”.
Organizador: Mário Osório Magalhães Pelotas, Ed. Armazém Literário, 1994.
 Fotos: Simões Lopes Neto
 Primeira Câmara Municipal de São Lourenço, inaugurada em 23 de abril de 1890
            A segunda igreja de São Lourenço numa imagem de 1909

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