domingo, 4 de novembro de 2018

Flagrantes da Vida Real

O C... conta que o irmão dele servia o exército qdo estourou a revolução de 64. Por uma fatalidade, logo no início, e sem que ninguém estivesse entendo muita coisa, o irmão dele foi destacado para sentinela com uma senha imposta a todo ser humano que pretendesse entrar no batalhão. Altas horas da noite, aparece um jipe cheio de militares com divisas revelando serem de alto escalão. O nosso sentinela pediu a senha... ninguém conhecia a tal senha e um general que seguia á frente mandou tocar. O sentinela fez o que mandaram: abriu fogo. E tinha que acertar precisamente o general. Armou o alvoroço, correram com o general para o hospital e com o sentinela pra cadeia. A sorte do nosso sentinela, "cujo nome agora me some", é que a bala atingiu o ombro e nenhum órgão vital. O general convalescia no hospital e o sentinela amargava a sua desdita na prisão. Mas, o Deus protetor dos sentinelas lhe enviou um recurso. Servia com ele um jovem talentoso e já famoso em todo o Brasil como uma vozes mais promissoras da nossa música romântica: Altemar Dutra. Os colegas do desventurado sentinela foram até o nosso canoro recruta... Pediram a ele, que era a estrela que abrilhantava os bailes dos oficiais e tinha cartaz com o alto comando, para interceder pelo colega em má situação. Altemar assentiu e foi visitar o general no hospital. Falou com ele que o rapaz não tinha culpa, apenas cumpria ordens ... O general sensibilizou com o caso e mandou soltar o preso. O comando do Batalhão expediu um certificado militar entregou ao liberto e o mandou embora.

quarta-feira, 13 de junho de 2018


ENCONTRO COM O SELF
Joanna de Ângelis
Jung definiu o Self como a representação do objetivo do homem
inteiro, a saber, a realização de sua totalidade e de sua individualidade,
com ou contra sua vontade.
A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece, quer não. Capitaneado pelo instinto, o experimenta a sua injunção, vivenciando um processo de transformação contínuo e sublimante no rumo da individuação. Muitas vezes, experimentando a própria sombra, tem como finalidade precípua auxiliar o ego na sua integração plena durante a vigência do eixo que os vincula e os influencia reciprocamente.
Apesar da sombra ser geradora de muitos conflitos, deve-se considerar que em muitas situações ela responde por vários fatores que produzem alegria, relacionamentos felizes, motivações para se viver, apresentando uma outra face oposta à sua constituição primitiva como arquétipo.
Na integração da anima com o animus, a fim de ser conseguida a harmonia, a sombra contribui com uma boa parcela de entendimento das suas finalidades, facultando a vivência de ambos sem perturbação da persona. Sendo ela o resultado da repressão de muitos sentimentos que não puderam ser vivenciados, emerge do inconsciente e expressa-se muitas vezes de maneira afligente.
Todos creem, por exemplo, que a função do médico é sempre a de curar, para a qual deve estar sempre preparado, às ordens. Nada obstante, existem outros fatores que o levam a mudanças dessa estrutura da persona, assumindo também o comportamento de esposo e pai, de cidadão e idealista com direito a outras atividades, significando essa alteração a presença da sombra que lhe emerge do inconsciente pessoal onde estão arquivadas, desde antes da concepção, as heranças do inconsciente coletivo.
Numa análise contemporânea, à luz dos ensinamentos espíritas, esses arquivos do inconsciente coletivo são o resultado de vivências que o Espírito realizou em reencarnações transatas através dos tempos, conduzindo essas heranças impressas no seu perispírito (na consciência, enquanto as vivenciando no seu período próprio). Em razão disso, não seja de estranhar que se tornem rejeições da consciência, que as mantém estáticas e uniformes, aguardando o momento para poderem expressar se.
Desse modo, é certo que o indivíduo nasce com todas essas informações adormecidas, que vão ressumando através dos tempos, e tornando-se conscientes pelo Self. A imagem apresentada por Jung a respeito do inconsciente é bem fundamentada, porquanto ele o imaginava como um iceberg, cuja parte visível são apenas 5 % do seu volume (consciência), estando os 95 % da sua massa submersos (o inconsciente). Assim se encontra a consciência no ser humano. Faz recordar também o mesmo conceito de Freud, quando o comparou a um oceano, e a consciência a uma casca de noz sobre ele.
Em realidade, os arquivos de todas as experiências pretéritas vivenciadas ao longo das sucessivas existências corporais é imenso, presentes no inconsciente e que vão sendo revividas pela consciência, nos momentos dos grandes transes de sofrimento, nos estados alterados (de consciência), durante os estágios oníricos, quando são liberados automaticamente, permitindo que o Espírito volte a vivê-los. Em razão, portanto, desse imenso arsenal que se encontra no inconsciente e que pode flutuar na consciência, muitos conflitos e complexos da personalidade tomam corpo, conduzindo as pessoas a transtornos de variada denominação.
Quantos pacientes que se apresentam resignados na miséria, confiantes na escassez, nobres e honestos nas situações mais lamentáveis da existência socioeconômica em que se encontram!
Em tal situação prosseguem exercendo os caracteres morais de existência anterior, quando se encontravam em posição relevante, no poder, no conforto, na dignidade, e hoje experimentam o oposto, contribuindo em favor do Self harmônico, com o ego nele integrado, formando a unidade.
De igual maneira, existem aqueles que se apresentam soberbos e malcriados na pobreza, agressivos e raivosos, ostentando recursos que realmente não possuem, revivendo situações anteriores que não puderam ser dignamente cumpridas, e voltaram ao proscênio terrestre em provas e expiações rigorosas. Tal ocorre a fim de poderem valorizar as oportunidades existenciais, especialmente os desafios ou provações da riqueza, do poder, da beleza, das situações invejáveis que invariavelmente são transformadas em sítios de escravidão para os quais o retorna quando sob o açodar das recordações inconscientes.
Os muitos complexos de inferioridade ou de superioridade em que expressivo número de pessoas estorcega, não conseguindo disfarçar as mágoas da situação em que se encontram, projetando o que se demora no inconsciente, na difícil condição em que transitam no mundo, têm a sua origem nas condutas mantidas em existências anteriores que não souberam utilizar ou aplicaram de maneira ignominiosa.
Essas pessoas – portadoras do complexo de inferioridade – são rudes, ingratas, exigentes, comprazendo-se em humilhar os servos e auxiliares, mantendo-se dominadoras e inacessíveis… De maneira idêntica, outras
— portadoras do complexo de superioridade — nem sequer se permitem a convivência saudável no círculo familiar e social em que estagiam, não ocultando o conflito que as amargura… Essas heranças marcantes das experiências passadas são muito mais comuns do que podem parecer, consumindo as suas vítimas, aquelas que os conservam.
Cabe ao Self diluir essas construções vigorosas impressas na persona pelo inconsciente pessoal desde quando a psique passou a animar a matéria na concepção fetal. A adoção de condutas saudáveis com disciplina da sombra, que se apresenta como o instrumento de execução dessas frustrações do processo evolutivo, torna-se inevitável e de imediata aplicação. Mediante a reflexão é possível ao Self a constatação do que é e de como se conduz, esforçando-se por alterar as emissões mentais para outras condutas mais equilibradas, dentro dos padrões da saúde que proporciona relacionamentos edificantes e compensadores.
Mantendo a postura referente às imagens reprimidas no inconsciente, esses pacientes não têm noção do quanto devem à vida, tornando-se ingratos e reacionários, quando, ocorrendo uma mudança de atitude adquirida por intermédio da autoanálise que faculta a identificação das mazelas, poderá começar por bendizer a vida, por ascender na escala dos valores, por vencer a empáfia, passando a agradecer a oportunidade de crescimento real para a felicidade. Será mediante esse esforço que o ego se integrará no Self, sem que desapareçam os seus valores de alta significação. Conquista da individuação e da gratidão.
A individuação é a conquista mais expressiva do processo evolutivo do ser humano. Aparentemente se resume na vitória do Self em relação à sombra e ao ego, assim como à superação dos arquétipos responsáveis pelos transtornos emocionais e enfermidades de outra natureza que facultam ao ser   humano a perfeita compreensão da vida e das suas finalidades. E o momento quando a consciência toma conhecimento dos conteúdos inconscientes e prossegue realizando a sua superação, que consiste na integração dos arquétipos, a fim de que sejam evitados os conflitos habituais, ou surjam novos. Pode parecer difícil de acontecer, por exigir o grande esforço de depuração da personalidade, elegendo-se os valores mais nobres do Espírito.
Em uma análise mais simplista, pode-se asseverar que a individuação é algo semelhante à auto iluminação dos místicos ou à conquista do Reino dos Céus proposta por Jesus, quando o indivíduo se liberta das exigências imediatistas do ego para se transformar em um oceano de  amor e de tranquilidade, passando a vivenciar experiências emocionais superiores, sem tormentos nem ansiedades.
Os instintos permanecem como parte integrante do conjunto fisiológico, expressando-se nas necessidades primárias automaticamente
sem os impulsos da violência ou os ditames das paixões asselvajadas. Em diluindo-se a sombra, ocorre a harmonia do eixo egol Self, ao tempo em que outros arquétipos como a anima e o animus, a persona, proporcionam equilíbrio psicológico, qual ocorre em Jesus, que é o modelo da verdadeira individuação.
É toda uma viagem realizada pelo self integrado, fulcro energético e central da personalidade. Sendo o Self o desenhador de toda a trajetória da existência humana, desde o período infantil, que se manifesta nos períodos oníricos, nos quais se apresenta através de símbolos arquetípicos, é natural que haja uma grande ansiedade no paciente que deseja a integração no Self, a  autoconsciência, podendo orientar os arquétipos perturbadores que antes geravam os conflitos e os transtornos de comportamento por falta de conhecimento da sua realidade.
Todos podem alcançar esse momento culminante da evolução psíquica mediante o esforço que realizem para interpretar os símbolos e as angústias que lhe precedem à ocorrência. Santa Tereza d’Ávila alcançou-o mediante os momentosos êxtases que a conduziram ao estado de plenitude, de iluminação interior, assim como São Francisco de Assis, ou Michelangelo ao terminar de esculpir a estátua de Moisés, que o deslumbrou a tal ponto que exclamou emocionado:
— Parla!
Era tão viva a obra que faltava apenas falar, para se tornar um ser real… Músicos e artistas de vária procedência, cientistas e mártires, filósofos éticos e místicos conseguiram essa integração perfeita, vivenciando o estado de plenitude que os acompanhou até o momento da desencarnação.
Normalmente, um psicoterapeuta experiente pode conduzir os seus pacientes ao momento culminante da libertação dos seus transtornos quando os leva à individuação, como estágio superior e culminante da saúde integral.
Jung logrou vivenciá-la, conseguindo individuar-se por meio dos métodos psicoterapêuticos por ele próprio elaborados. O mestre suíço elucidou igualmente que é possível conseguir-se a individuação quando se logra a assimilação das quatro funções por ele descritas como sensação, pensamento, intuição e sentimento. Nos seus estudos alquímicos comparou a meta da individuação ao que sucede com a Opus ou Grande obra que os alquimistas tentaram vivenciar. E, portanto, um processo lento, contínuo e de elevação emocional.
Pode-se alcançá-lo também mediante a oração, os fenômenos mediúnicos e paranormais, as regressões psicológicas que conduzem à fase infantil ou mesmo uterina, assim como às existências passadas, a meditação, de forma que todos os conteúdos inconscientes geradores do medo e da ansiedade, das angústias e inquietações possam ser diluídos por intermédio do enfrentamento consciente, nada deixando de enigmático nos painéis do inconsciente que possa ressurgir de forma assustadora…
Essa conquista formosa torna o ser diferenciado, libertando-o dos clichês e das imposições sociais que sempre o escravizam, exigindo-lhe condicionamento, quando aspira por liberdade. Com essa conquista, o ser humano torna-se consciente de si mesmo, das responsabilidades que lhe dizem respeito no concerto da sociedade, encorajando-o para os ideais relevantes, embora raciocinando que novas situações difíceis surgirão, mas que poderão ser vencidas naturalmente.
A individuação pode ser também denominada, no seu início, de alguma forma como a participation mystique, de Lévy-Bruhl. Na etapa final, situando-se o Self como a Imago Dei, numa conquista de unidade, que não isola o indivíduo, antes, pelo contrário, favorece o seu intercâmbio com as demais pessoas que passa a ver de maneira diferenciada de quando havia o predomínio do ego. E tão complexa que se pode afirmar que tem início, mas nunca termina, porque se trata da busca da perfeição, no relativo do mundo em
que se encontra o ser humano.
Pode-se, durante o processo de individuação, examinar o desenvolvimento da sociedade desde os seus primórdios e a maneira consciente como vem lidando com as suas projeções e superando-as, mediante as conquistas do conhecimento cultural nos seus vários aspectos, especialmente naqueles de natureza psicológica.
A perfeita identificação dos conflitos vem facultando que sempre se aspire pela aquisição do bom e do belo, como metas da saúde e do bem estar. Vencendo as diferentes etapas do desenvolvimento emocional, logo surgem os primeiros alvores da individuação, em decorrência da superação ou conscientização dos arquétipos que geram sofrimento.
As denominadas virtudes religiosas, que eram tidas como heranças místicas, no momento da individuação adquirem sentido de realização, quais o amor, que se transforma numa conquista relevante, indispensável para uma existência harmônica; a bondade, que multiplica os bens dos sentimentos elevados; a fé no futuro, como condição de estímulo — sentido e significado psicológico — para se prosseguir nas lutas naturais do processo evolutivo; a compaixão, em forma de solidariedade e de compreensão das aflições do próximo; a gratidão, como coroa de bênçãos por tudo quanto se conseguiu e pode realizar-se.
A gratidão, filha dileta do amor sábio, enriquece a vida de beleza e de alegria porque com a sua presença tudo passa a ter significação enobrecida, ampliando os horizontes vivenciais daquele que a cultiva como recurso de promoção da vida em todos os sentidos.
Narra-se que certo dia, em Boston, nos Estados Unidos da América do Norte, um rebanho de carneiros era levado por uma das avenidas centrais da urbe. Um dos carneiros repentinamente caiu sem forças…
Uma criança muito pobre e mal cuidada, observando a cena, deu-se conta que deveria ser por sede que o animalzinho perdera as resistências. Tomando do seu gorro, correu a uma bica próxima e colheu algum líquido, trazendo-o ao carneiro quase desfalecido e deu-lhe de
beber.
Poucos minutos depois o animal correu e juntou-se ao grupo que seguia em frente.
Uma das pessoas que nada havia feito, num tom irônico, disse ao
menino:
— Obrigado, titio!
E pôs-se a rir zombeteiramente. Um cavalheiro que havia observado a
cena disse ao irônico:
— O carneirinho pediu-me para que agradecesse por ele, escusando-se de fazê-lo. Como eu sou dono de uma casa editora, sou conhecido como Eduardo Baer, e sempre estou procurando crianças dotadas de sentimentos nobres para cuidá-las, acabo de encontrar mais uma.
A partir deste momento, você estará sob a minha responsabilidade. .. – disse à criança aturdida. Mais tarde, a sociedade acompanharia a trajetória do Dr. Carlos Mors, que se fez conhecido pela inalterável bondade com que tratava todas as criaturas.
A gratidão do carneiro havia alcançado a sua nobre finalidade, porque jamais esmaece ou perde o seu sentido. Poder-se-ia incluir esse fato na extensa relação daqueles de natureza mitológica, da mesma forma que Hércules combateu o mal, vencendo todos os inimigos do bem pelo imenso prazer de ser grato à vida pelo seu poder. O carneiro, que é símbolo da mansuetude, e o menino gentil, que pode ser considerado como um arquétipo de misericórdia e compaixão, unindo-se no mesmo sentimento de ajuda recíproca, produziram o missionário do amor e da bondade.
Isso porque a gratidão é um dos mais grandiosos momentos do desenvolvimento ético-moral do ser humano e está ínsita na individuação, quando tudo adquire beleza e significado.
A gratidão é, portanto, um momento de individuação, quando o serhumano recorda o passado com alegria, considerando os trechos do caminho mais difíceis que foram vencidos, alegrando-se com o presente e encarando o futuro sem nenhum receio, porque os arquétipos responsáveis pelas aflições foram diluídos na consciência, não restando vestígios da sua existência.
O ego, que os mantinha em ação, alargou a sua percepção psicológica da vida e tornou-se parte vibrante do Self, que ama sem distinção nem interesse de retribuição e é grato a Deus por existir, ao Cosmo por viver nele, à mãe-Terra por ser o seu habitat, a todas as cores e vibrações da Natureza, que lhe facultam contemplação e emotividade especial, aos sons maravilhosos que o fazem vibrar, ao oxigênio que o nutre e à psique responsável pelo seu pensamento e pela faculdade de discernir que a consciência alcançou.
Quando o ser humano se der conta de que necessita abandonar as faixas menos harmônicas por onde transita, aspirará pela conquista da individuação, exercitando-se na sublime arte do amor a Deus, ao próximo e, certamente, a si mesmo, abandonando o egotismo e vivenciando o altruísmo como forma segura de realização plena, no rumo da gratidão…
A gratidão abrange, num afetuoso abraço, os sentimentos que dignificam os seres humanos e os tornam merecedores de felicidade, quando estarão instalando no íntimo o decantado Reino dos Céus, conforme proposto por Jesus, o maior psicoterapeuta da Humanidade.

Extraído da obra. Psicologia da gratidão

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

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