sábado, 29 de agosto de 2020

 Flagrantes da Vida Real


Eu tinha dois hábitos dos quais um, pelo menos, permanece: comprar livros na Livraria do sebo, do Amadeu na Rua Tamoios em BH (costume que vem desde os tempos de estudante, e é o que permanece); outro era comprar cursos de direito gravados em fita magnética da TELE-JUR. Esta empresa era de um Delegado da Policia Federal aposentado. Ele era de Passos mas aposentou no RJ e por lá ficou. Os cursos eram muito bons e um, de Direito Constitucional, foi ministrado por este que agora é Ministro do STF, Luis Roberto Barroso. Por aí pode se vê o nível dos cursos...

Naquela época Luis Barroso era Procurador do Estado do Rio de Janeiro, assim como o que ministrou o curso de Direito Penal que foi Secretário de segurança do Estado do Rio de Janeiro; não lembro o seu nome mas era muito bom.

 O Professor do curso de Direito do Trabalho era um juiz do trabalho excelente, e dele ficou a lembrança de uma aula, onde ele usou a expressão alcandorado. Pensei, pronto! Algo de novo no front.  Mas, estudante diligente não despreza o oráculo, fui consulta-lo. Daí veio que, num passado, não muito remoto, a caça era um esporte e privilégio da nobreza. Portanto, apenas aqueles oriundos do  natu nobilis podiam se dar ao luxo de ser um bom caçador. E por falar em caça: foi numa delas que Luis XV, se acidentou na floresta de Sénart e, através disso,  conheceu a Condessa  Du Barry que viria a ser sua amante sucedendo a Madame Pompadour. Pode-se ver que o bom caçador, ainda que acidentado, não perde a sua característica de predador.  Mas, volvendo ao nosso tema,  além dos cães, os falcões eram muito utilizados na idade média como animais adestrados para a caça. Costume esse originário da cultura árabe que o introduziu na Europa, quando ocupou quase toda a Península Ibérica, incluindo Portugal que daí  nasceria por desmembramento  da Espanha.

O Falcão é uma ave de rapina que,  para perscrutar o seu ambiente e localizar a sua prêsa,  precisa se colocar nos  pontos mais altos da floresta ou dos penhascos. Destarte, a sua localização no castelo medieval ficava no ponto mais elevado, sabendo que estes castelos eram muito altos. Ao poleiro do Falcão é que se dava o nome de alcândora que, como o nome denuncia, vem da lingua árabe: al-kándara. Com isso, a metáfora  alcandorar no sentido atual guarda o significado de se elevar ao mais alto posto.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

 Vidas Amargas

A vida é uma escola, e diria até, uma escola de alto nível. O trabalho do iniciado, compreendendo este como aquele que sabe ou está mais próximo de saber o que veio fazer neste 'Vale de lagrimas', é submeter às suas provas, tão faladas e pouco compreendidas. Ela começa por nos forçar a entender que o mundo é composto por uma dualidade. Aqui se digladiam duas forças antagônicas e de difícil conciliação: o mundo da matéria produzido pelo nosso livre-arbítrio e o mundo da Espiritualidade que, em última instância é o que comanda e é o que governa. Via de regra, viemos aqui para vencer o mundo da matéria caracterizado pelo monstro Leviatã que intitula a obra de Thomaz Hobbes. Na obra de Hobbes o Estado é um monstro formado pelos seres humanos.
Quando Cristo diz "aquele que quiser me seguir terá que odiar o seu pai e sua mãe", ele está usando uma linguagem de iniciado do mais alto nível. Naquela época, apenas os iniciados da Escola dos Essênios poderiam entender o que ele estava dizendo. E aqueles que foram iniciados nos mistérios de uma "antiga tradição", para usar a linguagem socrática, podem entender que Cristo se refere ao 'pai' e a 'mãe" porque eles estão lá fora, distante do seu círculo. Portanto, estão submetidos às leis da matéria e contaminados por ela. Se o iniciado se propõe a combater o materialismo terá que odia-lo. Ele é seu inimigo. Os pais são as coisas mais caras que temos e a referência feita por Cristo (simbolicamente) está a nos dizer que o neófito deve odiar o que ele tem mais apego na matéria se quiser ascender na vida espiritual. O iniciado tem que abandonar este mundo e as suas impurezas para fazer surgir um novo homem, liberto das seduções da matéria. Só assim ele estará com as suas mãos 'indenes das águas lodosas do vício". Para isso ele irá conhecer a bonança para depois conhecer o sofrimento. O sofrimento é a marca maior daqueles que se entregam ao materialismo, assim o diz Santo Agostinho: Criaste-nos para vós Senhor e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em vós. Portanto, a redenção e a sua reintegração entre os eleitos, como assevera Martinez de Pacqually, terá que se dar após vencer as provas que lhes são impostas. Para usar a linguagem de uma 'antiga tradição': terá que sorver até a última gota da "Taça da Amargura". E o seu orgulho terá que baixar até pântano produzido pela matéria putrefata de onde surgiu. Destarte, enquanto a matéria dominar o espírito e a razão não submeter as paixões, o mundo denso da matéria estará dominando. É preciso que o 'Espírito domine a matéria' para que possa haver Ordo ab Chao.