terça-feira, 18 de agosto de 2020

 Vidas Amargas

A vida é uma escola, e diria até, uma escola de alto nível. O trabalho do iniciado, compreendendo este como aquele que sabe ou está mais próximo de saber o que veio fazer neste 'Vale de lagrimas', é submeter às suas provas, tão faladas e pouco compreendidas. Ela começa por nos forçar a entender que o mundo é composto por uma dualidade. Aqui se digladiam duas forças antagônicas e de difícil conciliação: o mundo da matéria produzido pelo nosso livre-arbítrio e o mundo da Espiritualidade que, em última instância é o que comanda e é o que governa. Via de regra, viemos aqui para vencer o mundo da matéria caracterizado pelo monstro Leviatã que intitula a obra de Thomaz Hobbes. Na obra de Hobbes o Estado é um monstro formado pelos seres humanos.
Quando Cristo diz "aquele que quiser me seguir terá que odiar o seu pai e sua mãe", ele está usando uma linguagem de iniciado do mais alto nível. Naquela época, apenas os iniciados da Escola dos Essênios poderiam entender o que ele estava dizendo. E aqueles que foram iniciados nos mistérios de uma "antiga tradição", para usar a linguagem socrática, podem entender que Cristo se refere ao 'pai' e a 'mãe" porque eles estão lá fora, distante do seu círculo. Portanto, estão submetidos às leis da matéria e contaminados por ela. Se o iniciado se propõe a combater o materialismo terá que odia-lo. Ele é seu inimigo. Os pais são as coisas mais caras que temos e a referência feita por Cristo (simbolicamente) está a nos dizer que o neófito deve odiar o que ele tem mais apego na matéria se quiser ascender na vida espiritual. O iniciado tem que abandonar este mundo e as suas impurezas para fazer surgir um novo homem, liberto das seduções da matéria. Só assim ele estará com as suas mãos 'indenes das águas lodosas do vício". Para isso ele irá conhecer a bonança para depois conhecer o sofrimento. O sofrimento é a marca maior daqueles que se entregam ao materialismo, assim o diz Santo Agostinho: Criaste-nos para vós Senhor e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em vós. Portanto, a redenção e a sua reintegração entre os eleitos, como assevera Martinez de Pacqually, terá que se dar após vencer as provas que lhes são impostas. Para usar a linguagem de uma 'antiga tradição': terá que sorver até a última gota da "Taça da Amargura". E o seu orgulho terá que baixar até pântano produzido pela matéria putrefata de onde surgiu. Destarte, enquanto a matéria dominar o espírito e a razão não submeter as paixões, o mundo denso da matéria estará dominando. É preciso que o 'Espírito domine a matéria' para que possa haver Ordo ab Chao.

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