A RETALIAÇÃO ALEMÃ
A Alemanha embargou a venda de
tanques Guarani do Brasil para as Filipinas. Os alemães alegaram que foram
usadas peças do país na fabricação dos tanques e para a venda carecem de
autorização especifica. Desta forma, a venda de 24 unidades do blindado
Guarani, desenvolvido pelo Exército Brasileiro foi atropelada pela decisão
germânica.
No mês passado o Chanceler alemão
Olaf Scholz, visitou os principais
interlocutores do Mercosul buscando a integração com a União Européia. A Ministra alemã da Cooperação Econômica
e do Desenvolvimento Svenja Schulze nos prometeu uma doação superior a 200
milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) para o Fundo Amazônia. A extensa planilha
contemplada nas negociações é altamente significativa, principalmente para o
Brasil que é o maior expoente do Mercosul. Os alemães buscam nesse acordo conter
o avanço e a influência chinesa que prospera na região.
Mas, logo após a visita da missão
alemã a América do Sul a Alemanha concordou com o envio de tanques Leopard 2
para a Ucrânia para conter a invasão russa. No entanto, o pedido formulado pela
OTAN colheu o governo alemão de surpresa e, com falta de equipamentos para
municiar os tanques. Diante disso, ele teve que se voltar para os países que
têm esse equipamento, dentre os quais o Brasil.
O mesmo pedido foi formulado ao
governo Bolsonaro em abril/2022, quando também foi repelido. A questão da
recusa de Bolsonaro era política mas não ideológica, enquanto a de Lula é de
cunho ideológico com um Viés político. Bolsonaro era pró-Putin porque este era
contra a OTAN/USA de Joe Biden. Este não apoiava Bolsonaro porque ele era adepto
de Trump, adversário de Joe Biden. Lula tem o apoio de Joe Biden porque é
contra Bolsonaro/Trump.
A recusa de Lula está calcada na
bandeira que levantou pretendendo negociar a paz entre os envolvidos na guerra.
Se ele envia a ajuda pretendida pela Alemanha, estará se definindo
politicamente e isto sepultará a sua proposta pacifista. Por outro lado,
ideologicamente ele está mais para Putin do que para Biden. Mas, o apoio de
Biden é fundamental para ele enquanto o de Putin pouco ou nada significa. Se
Lula lograr êxito na negociação da paz, isto irá alcandorá-lo ao patamar de
liderança mundial. Mas, a Alemanha não vê as coisas sob este prisma e vê a
recusa de Lula uma recusa ao encilhamento alemão. Se Lula adere a essa
proposta isso poderia significar uma guinada entre os países latinos
pró-Ucrânia e a guerra, por via de consequência.
O cenário nessa região está um
tanto instável. As Filipinas já foram ocupadas pelos EUA após a guerra com a
Espanha, que também colocou Cuba como algo parecido com um protetorado
americano, até o advento de Fidel e seus corsários. Esta é a razão da sua
cultura ser fortemente marcada pelas culturas espanhola e americana. Atualmente, com a exacerbação do affaire China/Taiwan,
os EUA virou os olhos para as Filipinas onde já mantém 5 bases militares e
agora pretende instalar mais quatro, provocando apreensão entre os militares
chineses. As ilhas Filipinas dista pouco
mais de 3 mil km da China e algo em torno de 1.200km de Taiwan. Portanto, as
preocupações chinesas, com a presença
americana nas ilhas vizinhas, faz sentido. A proposta americana visa a utilizar as
Filipinas como uma ponte para acuar a China, e este é o papel desenvolvido hoje
pela Ucrânia que foi a razão da reação russa.
Quando Lula levou a Joe Biden a
sua proposta para negociar a paz na guerra da Ucrânia, não obteve nem um
amistoso sorriso. Nota-se que este tema não tem espaço na agenda americana e de
seus aliados europeus. A guerra na Ucrânia é um trunfo americano para forçar o
desgaste da Rússia, enfraquecendo o seu mais visível inimigo.
A retaliação alemã que pode se
estender a Embraer, tem por finalidade demonstrar a insatisfação com a recusa
de Lula e poderá, outrossim, levar a proeminência do intercâmbio Mercoul/União Européia
para os braços de uma Argentina, que serviria como uma quilha contra a
insubordinação de Lula. Neste caso, passaríamos para o segundo plano e a
Argentina entraria em ascenção. Este foi o procedimento dos EUA com a Coréia do
Sul em relação à Coréia do Norte; Taiwan com a China; Alemanha Democrática em
relação à Alemanha Federal. Também poderá significar um desgaste do atual
governo Lula que se ampara numa débil aprovação da comunidade internacional que
aceita cum grano salis, o seu governo
com lenço vermelho.