sábado, 25 de fevereiro de 2023

 A RETALIAÇÃO ALEMÃ

A Alemanha embargou a venda de tanques Guarani do Brasil para as Filipinas. Os alemães alegaram que foram usadas peças do país na fabricação dos tanques e para a venda carecem de autorização especifica. Desta forma, a venda de 24 unidades do blindado Guarani, desenvolvido pelo Exército Brasileiro foi atropelada pela decisão germânica.

No mês passado o Chanceler alemão Olaf  Scholz, visitou os principais interlocutores do Mercosul buscando a integração com a União Européia. A Ministra alemã da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento Svenja Schulze nos prometeu uma doação superior a 200 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) para o Fundo Amazônia. A extensa planilha contemplada nas negociações é altamente significativa, principalmente para o Brasil que é o maior expoente do Mercosul. Os alemães buscam nesse acordo conter o avanço e a influência chinesa que prospera na região.

Mas, logo após a visita da missão alemã a América do Sul a Alemanha concordou com o envio de tanques Leopard 2 para a Ucrânia para conter a invasão russa. No entanto, o pedido formulado pela OTAN colheu o governo alemão de surpresa e, com falta de equipamentos para municiar os tanques. Diante disso, ele teve que se voltar para os países que têm esse equipamento, dentre os quais o Brasil.

O mesmo pedido foi formulado ao governo Bolsonaro em abril/2022, quando também foi repelido. A questão da recusa de Bolsonaro era política mas não ideológica, enquanto a de Lula é de cunho ideológico com um Viés político. Bolsonaro era pró-Putin porque este era contra a OTAN/USA de Joe Biden. Este não apoiava Bolsonaro porque ele era adepto de Trump, adversário de Joe Biden. Lula tem o apoio de Joe Biden porque é contra Bolsonaro/Trump.

A recusa de Lula está calcada na bandeira que levantou pretendendo negociar a paz entre os envolvidos na guerra. Se ele envia a ajuda pretendida pela Alemanha, estará se definindo politicamente e isto sepultará a sua proposta pacifista. Por outro lado, ideologicamente ele está mais para Putin do que para Biden. Mas, o apoio de Biden é fundamental para ele enquanto o de Putin pouco ou nada significa. Se Lula lograr êxito na negociação da paz, isto irá alcandorá-lo ao patamar de liderança mundial. Mas, a Alemanha não vê as coisas sob este prisma e vê a recusa de Lula uma  recusa ao  encilhamento alemão. Se Lula adere a essa proposta isso poderia significar uma guinada entre os países latinos pró-Ucrânia e a guerra, por via de consequência.

O cenário nessa região está um tanto instável. As Filipinas já foram ocupadas pelos EUA após a guerra com a Espanha, que também colocou Cuba como algo parecido com um protetorado americano, até o advento de Fidel e seus corsários. Esta é a razão da sua cultura ser fortemente marcada pelas culturas espanhola e americana.  Atualmente, com a exacerbação do affaire China/Taiwan, os EUA virou os olhos para as Filipinas onde já mantém 5 bases militares e agora pretende instalar mais quatro, provocando apreensão entre os militares chineses. As ilhas Filipinas  dista pouco mais de 3 mil km da China e algo em torno de 1.200km de Taiwan. Portanto, as preocupações chinesas,  com a presença americana nas ilhas vizinhas, faz sentido.  A proposta americana visa a utilizar as Filipinas como uma ponte para acuar a China, e este é o papel desenvolvido hoje pela Ucrânia que foi a razão da reação russa.

Quando Lula levou a Joe Biden a sua proposta para negociar a paz na guerra da Ucrânia, não obteve nem um amistoso sorriso. Nota-se que este tema não tem espaço na agenda americana e de seus aliados europeus. A guerra na Ucrânia é um trunfo americano para forçar o desgaste da Rússia, enfraquecendo o seu mais visível inimigo.

A retaliação alemã que pode se estender a Embraer, tem por finalidade demonstrar a insatisfação com a recusa de Lula e poderá, outrossim, levar a proeminência do intercâmbio Mercoul/União Européia para os braços de uma Argentina, que serviria como uma quilha contra a insubordinação de Lula. Neste caso, passaríamos para o segundo plano e a Argentina entraria em ascenção. Este foi o procedimento dos EUA com a Coréia do Sul em relação à Coréia do Norte; Taiwan com a China; Alemanha Democrática em relação à Alemanha Federal. Também poderá significar um desgaste do atual governo Lula que se ampara numa débil aprovação da comunidade internacional que aceita cum grano salis, o seu governo com lenço vermelho.