terça-feira, 31 de março de 2009

O que é obsessão?

Quem deseja viver bem deve esforçar-se para evitar as obsessões. Mas há muita gente que não conhece o assunto.
Obsessão é a insistência de um Espírito mau ou ignorante sobre determinada pessoa, agindo seguida e constantemente, transmitindo-lhe idéias negativas, estimulando vícios, perseguindo-a, sugando-lhe energias e roubando-lhe sensações.
Allan Kardec especificava dessa forma a Obsessão Simples, a qual pode ocorrer na prática mediúnica (que exige conhecimento e vigilância); ela acontece quando um Espírito malfazejo se impõe ao médium, intromete-se nas comunicações de outras entidades bem intencionadas e, enfim, não lhe dá sossego para o exercício tranqüilo da mediunidade.
Os bons Espíritos não obsediam. Aconselham seus protegidos encarnados para um procedimento ético. Se não são ouvidos, retiram-se, mas não os forçam a nada.
Os perversos, ao contrário, aproximam-se geralmente atraídos por más tendências do encarnado. Ou então, buscam prejudicar pessoas boas, geralmente as que conduzem obras redentoras, para destruir-lhes o trabalho. Com esse intuito, às vezes tentam se fazer passar por "bonzinhos", dando comunicações como se fossem grandes e nobres figuras da Espiritualidade. Seriam os que Kardec chamou de "falsos profetas da Erraticidade". Se conseguem dominar o encarnado, terminam por identificar-se com seu Espírito e o conduzem como a uma verdadeira criança.



http://www.ger.org.br/o_que_e_obsessao.htm

A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO

Pense em alguém que seja poderoso.
Essa pessoa briga e grita como uma galinha ou olha e silencia, como um lobo?
Lobos não gritam.
Eles têm a aura de força e poder.
Observam em silêncio.
Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.
Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.
Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos.
Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis.
Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.
Olhe.
Sorria.
Silencie.
Vá em frente.
Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar.
Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.
Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.
Não é verdade!
Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir.
Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal.
Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.
Você pode escolher o silêncio.
Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu um pensador grego, mais de 300 anos antes de Cristo, ao afirmar:
"Me arrependo de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio".

Responda com o silêncio, quando for necessário.
Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais.
Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos. você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas.
E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.
(Aldo Novak)



março/2009

O Nevoeiro da Incredulidade

A primeira mulher a atravessar a nado o Canal da Mancha foi uma jovem de vinte anos de idade. Seu nome era Gertrude Ederle e esse fato se deu no dia 6 de agosto de 1926.

Depois dela, uma outra mulher, de trinta e quatro anos, Florence Chadwick, tornou-se a primeira mulher a atravessar o Canal da Mancha, nos dois sentidos.

Mas, em 1952, essa mesma mulher decidiu atravessar a nado os 33 km entre a Ilha de Catalina e Long Beach, na Califórnia.

O dia 4 de julho, escolhido para a proeza, não estava propício. A manhã estava muito fria e havia um nevoeiro intenso.

Ela se preparou e mergulhou na água. Contudo, mal conseguia ver os barcos que a acompanhavam. O nevoeiro era denso.

O frio e o cansaço não conseguiam fazê-la desistir. Ela podia ouvir as vozes de incentivo do treinador.

Contudo, as forças a foram abandonando. Ela continuou nadando. Era a sua determinação a lhe ordenar que prosseguisse.

Mas, um pouco antes de chegar à praia, ela pediu para ser recolhida a bordo. De nada valeram as rogativas de sua mãe e de seu treinador.

Não posso mais! Não agüento mais! Dizia ela.

Minutos depois ela descobriu que restavam apenas oitocentos metros para chegar à praia.

Ante a desolação dos que lhe seguiam os esforços de perto, incentivando-a, falou: "não estou dando desculpas, mas se eu tivesse conseguido ver a praia, poderia ter chegado até lá."

Florence Chadwinck foi vencida não pelo frio, nem pelo cansaço. Foi derrotada pelo nevoeiro.

Com os homens, ocorre de forma semelhante. O nevoeiro da incredulidade interfere em muitos caminhos.

Quando o incrédulo se vê a braços com dores profundas, permite-se a desesperança.

Quando a morte lhe vem arrebatar um ser querido, para o conduzir ao reino dos espíritos, ele se desespera. Desiste de viver.

Acredita-se sem forças e não consegue vislumbrar uma réstia de esperança. Tudo lhe parece envolto em brumas.

Por não crer que a vida prossegue para além da área física, mais se desalenta.

Se as dificuldades financeiras se avolumam, o emprego corre riscos e o chefe se mostra irritadiço, ele se angustia.

Tudo lhe parece intransponível, uma carga excessivamente pesada.

Em tal clima, alguns chegam à depressão e até ao suicídio.

E, no entanto, a anotação Evangélica estabelece que tudo é possível àquele que crê.

...................................

A fé clareia as noites mais sombrias. Nas paisagens do inverno rigoroso é ela que nos permite antever a primavera, cobrindo de flores os jardins.

Por isso, se o nevoeiro da incredulidade estiver a insistir na paisagem dos seus dias, busque estudar e meditar acerca daquilo que hoje você afirma não crer. Permita-se iluminar pelo sol que dissipa as nuvens e espanca as trevas. O sol chamado reflexão.

Autor:

Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no texto "Determinado a Vencer", do jornal Viva Feliz, pág. 6, e no livro Dicionário da Alma, verbete "Fé".

segunda-feira, 30 de março de 2009

Fugindo do Inferno - The Great Escape




Em plena 2ª Guerra Mundial, um grupo de soldados aliados luta para escapar de um campo de concentração, após os nazistas decidirem reunir em um único campo, a prova de fugas, todos os militares presos. Dirigido por John Sturges (Sete Homens e um Destino) e com Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, Charles Bronson, James Coburn e Donald Pleasence no elenco. Recebeu uma indicação ao Oscar.

Ficha Técnica
Título Original: The Great Escape
Gênero: Guerra
Tempo de Duração: 172 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1963
Estúdio: Mirisch Company
Distribuição: United Artists
Direção: John Sturges
Roteiro: James Clavell e W.R. Burnett, baseado em livro de Paul Brickhill
Produção: John Sturges e James Clavell
Música: Elmer Bernstein
Fotografia: Daniel L. Fapp
Direção de Arte: Fernando Carrere
Figurino: Kurt Ripberger
Edição: Ferris Webster


Elenco
Steve McQueen (Capitão Virgil Hilts)
James Garner (Tenente Bob Anthony Hendley)
Richard Attenborough (Roger Bartlett)
James Donald (Capitão Rupert Ramsey)
Charles Bronson (Tenente Danny Willinski)
Donald Pleasence (Tenente Colin Blythe)
James Coburn (Oficial Louis Sedgwick)
Hannes Messemer (Coronel Von Luger)
Gordon Jackson (Tenente Andy MacDonald)
John Leyton (Tenente William Dickes)
Angus Lennie (Archibald Ives)
Nigel Stock (Tenente Denys Cavendish)
Robert Graf (Werner)
Jud Taylor (Goff)
Harry Riebauer (Sargento Strachwitz)
William Russell (Sorren)
Robert Freitag (Capitão Posen)
Til Kiwe (Frick)
Hans Reiser (Herr Kuhn)



Sinopse
Em 1943 os nazistas decidem transferir os prisioneiros de guerra militares, que têm maior incidência em tentativas de fugas, para o mesmo campo, que foi projetado para impedir qualquer tipo de evasão. Mas isto foi um erro, pois apesar dos prisioneiros gozarem de certos privilégios, cada um era o melhor na sua "especialidade" e não pretendiam ficar presos até o final da guerra. Logo idealizam um audacioso plano de fuga, que previa a construção de três túneis, mas a idéia não era retirar do campo alguns prisioneiros mas sim duzentos e cinqüenta. "Big X" Bartlett (Richard Attenborough) é um soldado britânico que habilmente elabora todo o plano. Ele é auxiliado por Danny Willinski (Charles Bronson), um polonês que é especialista em fazer trincheiras. Há também dois americanos: Hendley (James Marsden), que tem talento para roubar, e Hilts (Steve McQueen), que tem um jeito rebelde, além de ter idéias próprias de como fugir e ser um recordista na tentativa de fugas. Há ainda Blythe (Donald Pleasence), um mestre na falsificação. A idéia de fazerem três túneis é que se um deles for descoberto os outros ainda servirão para a evasão. Além da fuga propriamente dita há um esquema para, após saírem do campo, chegarem até a Inglaterra ou qualquer outro país neutro.

A importância da Crise

A maioria de nós se acha numa crise - por causa da guerra, por causa de um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba? Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento, politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensa pressão a todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas observando a vida tranqüilamente" isso é simples maneira de evitar o problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por certo.

Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança, indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou devemos investigar e descobrir a verdade contida no problemas?

A maioria de nós se acha numa crise - por causa da guerra, por causa de um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba? Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento, politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensa pressão a todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas observando a vida tranqüilamente" isso é simples maneira de evitar o problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por certo. Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança, indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou devemos investigar e descobrir a verdade contida no problemas? A maioria de nós enfrenta uma crise com angústia; cansamo-nos e dizemos: "Quereis ter a bondade de resolver este problema?" Quando falamos, procuramos uma solução e não a compreensão do problema. De modo idêntico quando tratamos da questão da reencarnação, do problema se há ou não há continuidade, do que entendemos por continuidade, do que entendemos por morte: para compreendermos tal problema, o problema da continuidade ou não continuidade, não devemos buscar uma solução fora do problema. Precisamos compreender o próprio problema - e trataremos disso noutra reunião, porque a nossa hora está quase esgotada.

Minha tese é que há necessidade de confiança em nós mesmos - e já expliquei suficientemente o que entendo por confiança em nós mesmos. Não é a confiança decorrente da capacidade técnica do conhecimento técnico, do preparo técnico. A confiança que nasce do autoconhecimento é inteiramente diferente da confiança da agressividade e da capacidade técnica; e aquela confiança nascida do autoconhecimento é essencial para dissiparmos a confusão em que vivemos. É bem óbvio que não podeis obter esse autoconhecimento por intermédio de outra pessoa, porque o que vos é dado por outro é mera técnica. Aquela confiança criadora em que há a alegria de descobrir, o êxtase de compreender, só pode nascer quando eu compreendo a mim mesmo, o processo total de mim mesmo; e o compreender a nós mesmos não constitui empresa tão complexa, podemos começar em qualquer nível da consciência. Mas, como eu disse no último domingo, para termos essa confiança é necessária a intenção de conhecermos a nós mesmos. Nesse caso, não me deixo facilmente persuadir: desejo conhecer tudo o que há em mim e, assim, estou aberto para toda informação relativa a mim mesmo, quer provenha de outra pessoa, quer provenha do meu próprio interior. Estou aberto para o consciente e para o inconsciente, no meu interior, aberto para todo pensamento e todo sentimento, em constante movimento dentro em mim, urgindo, surgindo e desaparecendo. Certamente, essa é a maneira de possuirmos aquela confiança: conhecer a nós mesmos, exatamente como somos, e não visarmos a um ideal daquilo que deveríamos ser, ou presumir que somos isso ou aquilo, o que é de fato absurdo. É absurdo porque, em tal caso, estamos apenas aceitando uma idéia preconcebida, quer nossa, quer de outrem, do que somos ou do que gostaríamos de ser. Para compreenderdes a vós mesmos, assim como sois, precisais estar voluntariamente abertos, espontaneamente acessíveis a todas as suas próprias solicitações, a todos os impulsos do vosso ego. E começando a compreender o fluxo, o movimento, a rapidez da vossa própria mente, vereis como dessa compreensão nasce a confiança. Não é a confiança agressiva, brutal, assertiva, mas a confiança do saber o que se passa em nós mesmos. Sem essa confiança, por certo, não podemos dissipar a confusão; e sem dissiparmos a confusão que existe em nós e ao redor de nós, como poderemos achar a verdade concernente a qualquer relação?

Nessas condições, para descobrir o que é verdadeiro, ou qual é a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa à reencarnação ou a qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas intenções. Se estas consistem em procurar a segurança, o conforto, então e bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem de, abrir a porta às perturbações, às tribulações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.

Krishnamurti - Bangalore - Índia - 18 de julho de 1948.

Do livro: Novo Acesso à Vida

SEGURANÇA ÍNTIMA

Redação do Momento Espírita

http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1385&let=S&stat=0



Os que vivem no mundo desejam ter tranqüilidade

No entanto, algumas pessoas que convivem conosco são portadoras de grande segurança íntima.

Recebem impactos dolorosos sem desespero. Enfrentam obstáculos grandiosos sem alterar o humor.

De certa forma, as invejamos. Prezaríamos ser como elas.
E podemos. Existem pequenas regras que, se observadas, nos auxiliarão a construir essa segurança íntima, tão almejada.
1ª comecemos a edificação da paz em nós, observando que todos precisamos pensar por nós mesmos, embora as influências das idéias alheias;

2ª aceitemo-nos como parcelas da imensa família humana, verificando que os nossos percalços não são maiores que os dos outros;
3ª compreendamos que, por sermos espíritos imperfeitos, no atual estágio, não estamos isentos de cometer determinados erros. Erros que nos devem convidar a parar e reexaminar questões;
4ª aprendamos que a estrada dos nossos entes queridos pode ser muito diferente da nossa. Não desejemos para eles o que a vida não lhes oferece;
5ª saibamos zelar pela condução da nossa vida, sem interferir na do próximo, desde que cada viajor no carro da existência tem seu próprio roteiro;
6ª auxiliemos os familiares nos contratempos que lhes surjam, assim como desejamos ser amparados, na nossa marcha;
7ª afastemo-nos dos julgamentos precipitados e das condenações indevidas;
8ª compreendamos que cada criatura é um ser individual com seus anseios, compromissos, conquistas, virtudes e paixões, e abstenhamo-nos de impor condições ou exigir que tenham conosco esta ou aquela postura.

9ª reflitamos que nos compete proteger o corpo que nos diz respeito.
Desta forma, não provoquemos desastres que nos ameacem ou ameacem os outros.

Respeitemos em cada ser vivo uma obra da criação.

Optemos pela simplicidade no cotidiano.
Estejamos atentos às pequenas coisas, pois, em síntese, são elas que promovem a nossa felicidade hoje, e no futuro.
Construamos o nosso refúgio de serenidade, permitindo-nos usufruir das experiências sem abalos que nos façam sucumbir à tristeza, desânimo ou desespero.

* * *

A serenidade não é uma aquisição espiritual que se possa conseguir num toque de mágica.
É fruto do trabalho duro e áspero da paciência em ação.
E ninguém possui a serenidade que não construiu.
Eis porque é necessária a vigilância em nós mesmos.
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro Calma, cap. Segurança íntima.

www.momento.com.br

* * *
SERENIDADE
Elio Mollo
03 dez 2007

Sereno é o vôo elevado do pássaro;
da nuvem alta que se desloca no céu;
do movimento da água do córrego,
que sem qualquer violentação
ensina ao que o contempla
o significado da pacificação.

Ser sereno significa:
estar claro, simples,
sem qualquer animosidade.
É ser ponderado
e ter suavidade na ação,
consciente de que a paz
não é nenhuma ilusão.

Serenidade é diferente de inquietação,
mas é semelhante a brisa que agita as flores,
ou de um lago com suas águas em modulação,
batendo às margens entoando suave canção.

A serenidade está na espontaneidade
que faz parte de cada individualidade,
com a completa ausência da superioridade,
envolvendo suas relações com gentil amabilidade.

A serenidade está na certeza do amanhã;
Na convicção da boa ação;
No sorriso que brota voluntário e sincero;
No abraço do amigo irmão;
No sentir Deus no fundo do coração.

* * *

Com esta mensagem eletrônica
seguem muitas vibrações de paz e amor
para você
---------
http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/

O que está contido nos ensinos do Cristo

O que está contido nos ensinos do Cristo



Agora pois permanecem a fé, a esperança e a caridade, essas três virtudes das quais a caridade é a maior.

(I AOS CORÍNTIO S, XIII, 13)

Venha a nós o vosso reino.

(MATEUS, VI, 10)


"Arrependei-vos, porque vem perto o reino de Deus." Foram estas, como :já vimos, as primeiras palavras recordadas dos ensinos públicos do Cristo.

Os fariseus lhe perguntaram: "Quando chegará o reino de Deus?" Ele lhes respondeu: "O reino de Deus não virá com ostentação. Ninguém poderá dizer: ei-lo aqui! ei-lo ali! vede-o! O reino de Deus está dentro de vós."

Está dentro de nós a luz, o divino e inextinguível espírito de verdade. Quão longe vagamos, esquecidos dessas palavras do Cristo, buscando aquilo que se acha no nosso próprio coração!

Buscais por meio de profundos estudos descobrir Deus, seu reino e seu Espírito. O Espírito de Deus, porém, não está no sopro forte do Dogmatismo, devastando tudo em sua passagem; não está no terremoto dos credos guerreiros, dilacerando e convulsionando o mundo religioso; não está no zelo ardente que persegue e consegue; mas na voz tranqüila e débil que, sem nunca se extinguir, fala na alma de cada um de nós. Obscurecida freqüentemente, abafada muitas vezes por influências adversas e insignificantes cuidados, desprezada, desconhecida; mas, apesar disso, existindo seguramente no âmago da nossa alma, nos homens inteligentes e nos selvagens, nos nômades proscritos da civilização, como no cristão que vive mais conforme com os preceitos do seu Senhor.

"Venha a nós o vosso reino."

Repetimos muitas vezes essas palavras da prece do Cristo, sem buscarmos compreender perfeitamente seu sentido profundo, sem nos lembrarmos que o reino cujo advento imploramos é, se aceitamos a interpretação do Cristo, uma soberania cuja vinda não podemos testemunhar, à qual não podemos determinar sede num ponto designado, visto que o trazemos dentro de nós. Pedimos, mesmo sem conhecê-lo, que o Espírito de Deus se firme dentro de nós e nos dirija. Pedimos a soberania da consciência lúcida, a vinda do desenvolvimento ético e espiritual e que, quando ele venha, seja o poder diretor da nossa raça.

A consciência é o delegado de Deus, dirigindo com justiça o coração do homem. É somente sob a sua direção que o homem terá uma vida satisfatória. Essa é a doutrina do Cristo. Com que simplicidade e força ele o exprimiu'' "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados."

Fome e sede, não da vitória de um dogma ou de uma seita; não de ver triunfantes um ritual, certas cerimônias, as longas e palavrosas preces nas sinagogas; não de prata e ouro, mas fome e sede de justiça, que é o reino dos céus dentro de nós. Cristo manda fazer o bem por amor do bem; praticar a justiça sem calcular a sua recompensa, pois esta pertence a Deus. Aceitai as conseqüências. Não indagueis sobre o que vos será dado.

As coisas podem parecer ir mal, os homens podem buscar desvirtuá-las, persegui-Ias e desacreditá-las: pouco deve importar isso, quando o próprio Jesus declara abençoado o que pratica a justiça. Que o abandonem, que mesmo lhe arranquem o pão da boca; só no fim ele será saciado. Se buscarmos cumprir a justiça de Deus antes de tudo, tudo o mais, diz-nos o Cristo, nos será dado de sobressalente.

Ele, porém, apresenta isso como um fato e não como um motivo. O motivo deve ser a fome e a sede de justiça e não a perspectiva do lucro. Conformarmo-nos com a lei humana por uma obediência forçada, com temor ao castigo e com a esperança de uma recompensa. A lei de Deus só deve ser cumprida por amor.

Cristo em parte alguma disse que eram abençoados os que praticassem o bem para alcançarem o céu ou escapar do inferno.

O temor não entra como móvel na sua doutrina. Ele não buscou como salmista, inculcar o medo de Deus; sua sabedoria tinha uma origem mais elevada. Baseava-se no amor perfeito e o amor repele o temor.

Um poeta exprimiu perfeitamente o pensamento cristão quando disse:

"Somente pelo bem, ao bem amemos; não por temor ao inferno ou à previdência, das venturas do céu seguir devemos os ditames da nossa consciência."

Esse assunto básico de uma religião, é de grande importância prática. Apreciaremos mal a constituição espiritual do Cristo, se não percebermos que ele procura reformar o mundo, despertando no homem o adormecido amor da justiça, por amor dela mesma; e não estimulando a sua cobiça ou fazendo jogo com o seu temor: Se um menino, saindo das mãos de seus mestres, tornar-se um homem honesto unicamente por julgar que a honestidade o livra das penas da lei, ele poderá ser um negociante honrado e, como tal, recomendável, mas não será um discípulo do Cristo. Se um professor de religião exibir o mais ardente zelo pela sua Igreja, atuado por um motivo não mais elevado que aquele que levou Luiz XIV a revogar o Édito de Nantes, isto é, a salvação de sua alma do inferno, ele poderá ser útil membro da Igreja, mas não um cristão. Não há cristianismo sem a base permanente do amor à justiça.

Não desesperemos de que um dia a moralidade pública e privada será a base de civilização. Uma pequena previsão nos animará. Quando lançamos os olhos para a nossa juventude, não nos virá o pensamento de que não somos o que devíamos ser, de que a nossa natureza prometia mais do que a educação nos deu? Não sentiremos muitas vezes, que havia em nós germes de virtudes que raramente foram estudados, generosos impulsos que não procuramos excitar, nobres aspirações que nunca tentamos pôr em prática? Serão somente essas as convicções que nos virão? Levantar-nos-emos no templo para agradecer a Deus por não sermos como os outros homens? Não está escrito que o homem foi feito à imagem do seu Criador?

Não devemos desanimar pelo fato dessa mudança implicar uma reforma radical para o egoísmo hoje dominante, apesar de ser produzida para a nossa regeneração. O Cristo admitia. Ele via quão cego era o mundo que o cercava, em relação às coisas do céu, e por isso disse: "Não verá o reino de Deus senão aquele que nascer de novo."

Aqui se interpõe uma consideração que se sugere por si mesma. A consciência só, por mais ativa que seja, não basta para reformar o mundo, se não tiver instrução e desenvolvimento.

O mais sincero amor da justiça só pode dar frutos segundo a luz e os conhecimentos adquiridos; mas, essa luz- pode ser fraca e esses conhecimentos escassos. Além do resultado que devemos esperar dele para o progresso geral da civilização, não nos facultará o sistema do Cristo os elementos que ainda nos faltam?

A resposta prende-se ao assunto de que me ocupei no capítulo 2°., da parte primeira desta obra; Jesus, como aí vos fiz lembrar, ao terminar sua vida terrena, declarou aos que o seguiam: "Eu tinha ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não o posso fazer agora. Contudo, o espírito de verdade quando vier, vos ensinará toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas só dirá o que tiver ouvido."

Se o Cristo, em virtude do seu poder, previu isso, é porque tal entra nos planos de Deus, que em certa fase do progresso humano permitia que as revelações espirituais ao homem viessem perenemente de um mundo mais adiantado que este; se o autor do Cristianismo indica aí a fonte, onde ele crê que a consciência, se pode aqui empregar a palavra, irá beber a luz e os conhecimentos, a vós deixo o cuidado de decidir. Nas páginas precedentes vos forneci os elementos para essa decisão.

Rogo-vos, contudo, observeis que tendes de decidir, não se a massa toda das alegadas comunicações espirituais de hoje poderá educar convenientemente à consciência, mas, se quando presidirem no meio a prudência e reverência, um Espírito de verdade, vindo de uma esfera ultramundana e falando, não por si mesmo, mas pelo que aprendeu na sua celestial morada, não será o mensageiro espiritual prometido pelo Cristo para regenerar a humanidade. Prometido condicionalmente, pois que a base de tudo, a condição indispensável para que o fato se dê é a lealdade para com a consciência. A promessa foi feita àqueles que têm fome e sede de justiça. É a sua fome e a sua sede que se saciarão na fonte espiritual.

Reprimo a tentação de alargar-me sobre isso. Uma recapitulação não quer dizer uma repetição do trabalho. Permiti, contudo, que faça uma negação, desnecessária para as almas pensadoras, mas precisa para evitar uma interpretação má.

Longe de mim, asseverar que em nossos dias e nesta geração, a severidade seja sempre deslocada, que as penalidades legais sejam inúteis; ainda menos, que não se deva ensinar às crianças os sofrimentos que lhes advirão da prática do mal e os gozos que resultarão para elas da prática do bem, pois que isso é a rigorosa obrigação do educador.

Digo, porém, que o Cristo repele, no sentido que ligamos a esta palavra, a força, o medo e o lucro egoístico, como móvel dos nossos atos.

Somente vos faço lembrar que para a reforma do mundo o Cristo confia em influências mais elevadas, mais nobres, num impulso tão poderoso como a fome e a sede, na caridade que não visa o interesse, regozija-se com a verdade e prende os homens como por uma cadeia de aço, à prática do que é justo.

Outros ensinamentos característicos do Cristo se nos manifestam claramente: O ensino do perdão em grau ainda desconhecido entre nós; o perdão concedido ao irmão que nos ofende, mesmo setenta vezes sete vezes; a promessa do perdão àqueles que perdoam, pois que a delinqüente, excomungada pela sociedade, foi mandada embora, livre e sem condenação, apenas com o conselho de não mais pecar.

A beneficência, principalmente em favor dos cansados e sobrecarregados, é outra feição pronunciada desses ensinos, do mesmo modo que o auxílio ao pobre, o socorro ao estrangeiro, ao faminto, ao nu, ao enfermo e ao encarcerado, considerando que o que fazemos a eles, fazemos a Deus.

Somos prevenidos contra o perigo das riquezas, contra o exagerado cuidado pelo dia de amanhã, contra a ansiosa procura de empregos e posições. Os tesouros que a traça e a ferrugem destroem, os assentos mais elevados nos festins, os primeiros lugares nas sinagogas, são declarados coisas indignas de ocupar a atenção do homem.

São prescritas a mansidão, a paz e mesmo a não resistência ao mal que nos queiram fazer; a pureza nos pensamentos e nos atos, a resignação à vontade de Deus.

Pelo Cristo somos animados a ter fé e esperança, baseando-nos na certeza de que o Pai conhece as nossas necessidades e as satisfará, antes que nós lho peçamos; mas, sobretudo e além de tudo, como sinal e testemunho do nosso apostolado, como um perfeito cumprimento dos preceitos de Deus, somos concitados a fazer alguma coisa maior que a fé, maior que a esperança, e que se eleva como a lei suprema: - a caridade.

Isso não é mais que um esboço, pois o espaço não me permite dizer mais. Não merecerá esse sistema espiritual a honra de ser considerado como inspirado? Não será ele proveitoso como doutrina, como censura, como correção e como instrução no que se refere à retidão?

Possa esta geração prosseguir nas doutrinas espíritas, sem nunca se afastar dos seus preceitos!

Com o auxílio dos Espíritos que pela triunfal transformação da morte partiram antes de nós para a feliz região sideral, com o auxílio da plácida voz que nos aconselha e do Cristo, nosso guia principal, com segurança e proveito interrogaremos o Inexplorado. Precisamos conhecer suas leis; precisamos da evidência que os seus fenômenos nos dão. Nas fronteiras dos dois mundos encontramos influências muito mais necessárias, muito mais poderosas que qualquer das terrenas: influências benévolas, destinadas a reerguer a moral degenerada e auxiliar o progresso espiritual.

Robert Dale Owen – Região em Litígio entre este mundo e o outro

Clamor do Sexo (Splendor in the Grass, 1961)






» Direção: Elia Kazan
» Roteiro: William Inge
» Gênero: Drama/Romance
» Origem: Estados Unidos
» Duração: 124 minutos
» Tipo: Longa

» Sinopse: A história de Bud (Warren Beatty) e Deanie (Natalie Wood), um casal de estudantes, no estado do Kansas, no final dos anos 1920. Apesar da grande paixão do casal, o romance sofre forte resistência pela repressão sexual da sociedade da época. O "crack" da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, atinge as respectivas famílias de diferentes maneiras, dificultando ainda mais o sucesso deste amor.

» Elenco ::.
- Ator/Atriz Personagem

- Gary Lockwood -

- Natalie Wood

- Pat Hingle
- Sandy Dennis -

- Warren Beatty -

- Barbara Loden -

- Audrey Christie

A DOUTRINA DO CORAÇÃO

PREFÁCIO

Sob o título de A DOUTRINA DO CORAÇÃO publicamos aqui uma série de documentos, consistindo principalmente de extratos de cartas recebidas de amigos indianos. Elas não são apresentadas como sendo de alguma "autoridade", mas meramente por conterem pensamentos que alguns de nós consideraram úteis e que desejamos compartilhar com outros. Elas são dirigidas apenas para aqueles que estão procurando resolutamente viver a Vida Superior, e são endereçadas especialmente àqueles que sabem que esta vida conduz a uma entrada definitiva na Senda do Discipulado sob a orientação daqueles Grandes Seres que a trilharam no passado, e que permanecem na Terra para ajudar os outros a trilhá-la por sua vez. Os pensamentos destas cartas são pensamentos que pertencem a todas as religiões, mas a forma e sentimento são indianos. A devoção é daquele tipo nobre e intenso conhecido no Oriente como Bhakti - a devoção que entrega a pessoa inteira e incondicionalmente a Deus e ao Homem Divino através de quem Deus se manifesta na carne ao devoto. Esta Bhakti não encontrou em parte alguma expressão mais perfeita do que no Hinduísmo, e os autores destas cartas são hindus, acostumados com a riqueza luxuriante do sânscrito, e colocam o inglês [idioma original do livro - NT], mais áspero, em alguma débil harmonia com a suavidade poética de sua língua materna. A fria e reservada dignidade do anglo-saxão e sua reticência emocional são completamente estranhas à efusão de sentimento religioso que emana do coração oriental tão naturalmente como o canto da cotovia. Aqui e ali, no Ocidente, encontramos um verdadeiro Bhakta (devoto), como São Tomás à Kempis, Santa Teresa, São João da Cruz, São Francisco de Assis, Santa Elizabeth da Hungria. Mas em sua maioria, o sentimento religioso no Ocidente, por mais profundo e verdadeiro que seja, tende ao silêncio e busca ocultar-se. Para aqueles que evitam a expressão do sentimento religioso estas cartas não terão valor, e não são dirigidas a eles.

Passemos agora a considerar um dos mais marcados contrastes da Vida Superior. Todos nós reconhecemos o fato de que o Ocultismo nos faz exigências de caráter que requerem certo isolamento e uma rígida autodisciplina. Tanto da parte de nossa muito amada e venerada Instrutora, Helena Blavatsky, como da parte das tradições da Vida Oculta, aprendemos que a renúncia e o férreo autocontrole são requisitos para aquele que há de passar pelos portões do Templo. O Bhagavad-Gitâ constantemente reitera o ensinamento da indiferença à dor e ao prazer, do perfeito equilíbrio sob todas as circunstâncias, sem o que nenhum Yoga verdadeiro é possível. Esta faceta da Vida Oculta é reconhecida em teoria por todos, e alguns estão obedientemente lutando para se modelarem à sua semelhança. A outra faceta da Vida Oculta é abordada na Voz do Silêncio [de Helena Blavatsky - NT], e consiste naquela simpatia para com tudo o que sente, naquela rápida resposta a todas as necessidades humanas, a perfeita expressão daquilo que deu o nome de "Mestres da Compaixão" para Aqueles a quem servimos. É para isto, em seu aspecto prático e cotidiano, que estas cartas dirigem nossos pensamentos, e é isto o que mais negligenciamos em nossas vidas, por mais que sua beleza, em sua perfeição, possa tocar nossos corações.

O verdadeiro Ocultista, ao mesmo que tempo que para si mesmo é o mais severo dos juizes, o mais rígido dos feitores, é para todos ao seu redor o mais compreensivo dos amigos, o mais gentil dos auxiliares. Conseguir esta gentileza e poder de simpatia deveria, assim, ser o desejo de cada um de nós, e isso só pode ser obtido pela incansável prática desta gentileza e simpatia para com tudo, sem exceção, que nos rodeia. Cada futuro Ocultista deveria ser a pessoa, em sua própria casa e círculo, para quem todos mais prontamente acorrem quando na tristeza, na ansiedade, no pecado - certos que estão da sua simpatia, e de sua ajuda. A pessoa mais desinteressante, a mais bruta, a mais estúpida, a mais repelente, deveriam ver nele pelo menos um amigo. Todo anseio em busca de uma vida melhor, cada desejo nascente em direção ao serviço altruísta, toda vontade recém-formada de viver mais nobremente, deveria encontrar nele alguém pronto a encorajar e fortalecer, de modo que todo germe de bem possa começar a crescer sob a calorosa e estimulante presença de sua natureza amorosa.

Atingir tal poder de serviço é uma questão de autotreinamento na vida diária. Primeiro precisamos reconhecer que o EU em todos é um só, de modo que em cada pessoa com quem entramos em contato devemos ignorar tudo o que é desagradável na casca exterior, e reconhecer o EU entronizado no coração. A próxima coisa a notar - em sentimento, não só em teoria - é que o EU está tentando se expressar através dos invólucros que o obstruem, e que a natureza interna é toda adorável, e é distorcida para nós pelos envoltórios que a contêm. Então deveríamos nos identificar com aquele EU, que na verdade é nós mesmos em sua essência, e cooperar com ele em sua luta contra os elementos inferiores que sufocam sua expressão. E uma vez que temos de agir para com nosso irmão através de nossa própria natureza inferior, o único caminho de ajudar eficazmente é ver as coisas como aquele irmão as vê, com suas limitações, seus preconceitos, sua visão distorcida; e vendo-as assim, e sendo afetados por elas em nossa natureza inferior, ajudá-lo do seu modo e não do nosso, pois só assim se pode prestar um auxílio real. Aqui entra o treinamento Oculto. Nós aprendemos a nos retirar de nossa natureza inferior, a sentir seus sentimentos sem sermos afetados por eles, e deste modo, ao mesmo tempo que experimentamos emocionalmente, julgamos com o intelecto.

Devemos usar este método quando ajudarmos nosso irmão, e ao mesmo tempo que sentimos como ele sente, como uma corda afinada ecoa a nota de sua vizinha, devemos usar nosso "eu" desapegado para julgar, para aconselhar, para estimular, mas sempre usando-o de modo que nosso irmão esteja consciente de que é a sua própria natureza superior que está expressando a si mesma através de nossos lábios. Devemos desejar compartilhar o nosso melhor; a vida do Espírito não é guardar, mas dar. Freqüentemente o nosso "melhor” seria indesejável para aquele a quem tentamos ajudar, assim como a poesia refinada não é atraente para a criança pequena; então devemos dar o melhor que ele possa assimilar, guardando o restante, não porque somos ciumentos, mas porque ele ainda não o requer.

Exatamente assim é que os Mestres da Compaixão ajudam a nós, que somos para Eles como crianças, e de modo semelhante devemos procurar ajudar aqueles que são mais jovens do que nós na vida do Espírito. Nem esqueçamos que a pessoa que sucede estar conosco em qualquer momento é a pessoa que o Mestre nos deu para servirmos naquele momento. Se por descuido, por impaciência, por indiferença, falhamos em ajudá-la, teremos falhado na nossa obra de nosso Mestre. Amiúde nos desviamos de nosso dever imediato nos absorvendo em outro trabalho, falhando em entender que a ajuda da alma humana enviada a nós é o nosso trabalho para aquele momento; e precisamos nos lembrar deste perigo, o mais sutil porque o dever é usado para mascarar o dever, e uma falha de percepção é uma falha na realização. Não devemos nos atar a nenhum trabalho específico; de fato sempre trabalhando, mas com a alma livre e "atenta", pronta para captar o mais leve sussurro d'Ele, que pode precisar de nós o serviço para com algum desvalido que Ele, através de nós, quer ajudar. A severidade para com o eu inferior, mencionada acima, é um requisito para este serviço de ajuda, pois só aquele que não se importa consigo mesmo, que para si mesmo é indiferente à dor ou ao prazer, é suficientemente livre para conceder perfeita simpatia para com os outros. Não precisando de nada, ele pode dar tudo. Sem nenhum amor por si mesmo, ele se torna o amor encarnado para os outros. No Ocultismo, o livro da vida é aquele para o qual voltamos nossa atenção principal. Estudamos outros livros meramente a fim de que possamos viver. Pois o estudo, mesmo de obras Ocultas, é um meio para a espiritualidade somente se estamos tentando viver a Vida Oculta; é a vida e não o conhecimento, é o coração purificado e não o coração saciado, o que nos conduz aos pés do Mestre. A palavra "devoção" é a chave para todo o verdadeiro progresso na vida espiritual. Se, trabalhando, procuramos o crescimento do movimento espiritual e não o sucesso gratificante, o serviço dos Mestres e não nossa própria satisfação, não podemos nos desencorajar por falhas temporárias, nem pelas nuvens sombrias e mortalidade que possamos experimentar em nossa própria vida interior. Servir por amor ao serviço, e não pelo prazer que temos no servir, assinala um nítido passo à frente, pois então começamos a adquirir aquele equilíbrio que nos capacita servir tão contentes no fracasso como no sucesso, tanto na treva interna como na luz interna. Quando conseguimos dominar a personalidade a ponto de sentirmos verdadeiro prazer no desempenho do trabalho para o Mestre mesmo quando isso é doloroso para a natureza inferior, o próximo passo é fazermos isso tão amorosa e plenamente mesmo quando este prazer desaparece e toda a alegria e luz são obscurecidas. De outra forma, no serviço dos Grandes Seres, podemos estar servindo a nós mesmos - servindo pelo que ganhamos d'Eles, em vez de fazê-lo puramente por causa do amor. Até onde durar esta sutil forma de autogratificação estamos correndo o risco de nos desviarmos do serviço, se as trevas perduram ao nosso redor, e se sentimos em nosso íntimo a morte e a desesperança. É nesta noite do espírito que o serviço mais nobre é prestado, e as últimas amarras do eu inferior são rompidas. Enfatizamos a devoção deste modo porque vemos em toda parte que aspirantes estão correndo risco, e que o progresso da obra do Mestre é atrapalhado, pela predominância do eu pessoal. Aqui está nosso inimigo, aqui é o nosso campo de peleja. Uma vez tendo percebido isso, o aspirante deveria dar boas-vindas a tudo o que em sua vida diária arranca uma lasca de sua personalidade, e deveria ser grato a todas as "pessoas desagradáveis" que pisam em seus dedos e ofendem sua sensibilidade e desmerecem o seu amor-próprio. Elas são os seus melhores amigos, seus mais valiosos auxiliares, e jamais deveriam ser consideradas senão com gratidão pelo serviço que prestam atacando nosso mais perigoso inimigo. Encarando assim a vida cotidiana, ela se torna uma escola de Ocultismo, e começamos a aprender aquele perfeito equilíbrio que é necessário nos caminhos mais altos do discipulado, antes que um conhecimento maior, e portanto um maior poder, possa ser colocado em nossas mãos. Onde não há um calmo autodomínio, uma indiferença para com assuntos pessoais, uma devoção serena ao serviço dos outros, não há verdadeiro Ocultismo, nem verdadeiramente vida espiritual. O psiquismo inferior não requer nenhuma destas qualidades, e é portanto avidamente procurado pelos pseudo-Ocultistas; mas a Loja Branca as requer de seus postulantes, e fazem de sua aquisição a pré-condição para a entrada no Pátio dos Neófitos. Que o anelo de todo aspirante seja, portanto, treinar-se para que possa servir, praticar a rígida autodisciplina para que quando o Mestre olhar dentro de seu coração não possa encontrar mancha alguma. Então ele o tomará pela mão e o guiará para diante.

Annie Besant



A DOUTRINA DO CORAÇÃO

Os desastres se acumulam sobre a cabeça do homem que ancora sua fé na parafernália externa antes do que na paz da vida interior, que não depende do modo de vida exterior. De fato, quanto mais desfavoráveis as circunstâncias e maior o sacrifício envolvido por viver em meio a elas, mais perto a pessoa chega da meta final pela própria natureza das provas que ela tem de vencer. Não é sábio, portanto, se deixar atrair demais por quaisquer manifestações externas de vida religiosa, pois tudo o que existe no plano da matéria é efêmero e ilusório, e deve conduzir ao desapontamento. Quem quer que seja atraído poderosamente para qualquer modo de vida externo tem de aprender cedo ou tarde a relativa insignificância de todas as coisas exteriores. E quanto antes a pessoa passar pelas experiências impostas pelo Karma passado, melhor para ela. Realmente não é agradável sentir que subitamente se nos retiram o próprio chão, mas a taça que cura a tolice é sempre amarga, e deve ser tomada se a doença há de ser erradicada. Quando a brisa gentil que vem dos Seus Pés de Lótus sopra sobre a alma, então se sabe que os piores ambientes externos não são poderosos o bastante para desmerecer a música que, dentro, encanta.

Assim como o europeu que é atraído para ao Ocultismo se sente mais perto dos Grandes Seres quando chega à Índia, o indiano sente o mesmo quando sobe as escarpas de seu nevado Himavat. E mesmo assim isso é pura ilusão, pois não se chega aos Senhores da Pureza através de locomoção física, mas fazendo-nos mais puros e fortes através do constante sofrimento em benefício do mundo. Quanto à ignorância do pobre mundo iludido a respeito de nossos venerados Senhores, lembro das palavras: "O sibilar da serpente faz mal maior ao sublime Himavat do que a morte ou abuso infligidos pelo mundo contra qualquer um de nós".

Uma vez isto admitido, como deverá sê-lo por todos os que têm algum conhecimento de Ocultismo, que existem miríades de agentes invisíveis constantemente tomando parte nos assuntos humanos, elementais e elementares de todos os graus impingindo todo tipo de ilusões e farsas de todos os aspectos, assim como membros da Loja Negra que se deliciam em enganar e iludir os devotos da verdadeira sabedoria, devemos também reconhecer que a Natureza, em sua grande misericórdia e absoluta justiça, deve ter concedido ao homem alguma faculdade para discernir entre as vozes destes habitantes aéreos e a dos Mestres. E suponho que todos concordarão que a razão, a intuição e a consciência são nossas mais elevadas faculdades, os únicos meios pelos quais podemos separar o verdadeiro do falso, o bem do mal, o certo do errado. Sendo assim, segue-se que tudo o que falhe em iluminar a razão e satisfazer os mais altos apelos da natureza moral jamais deveria ser considerado como uma comunicação dos Mestres.

Também deve ser lembrado que os Mestres são Mestres da Sabedoria e Compaixão, que Suas palavras iluminam e expandem, e jamais confundem e embaraçam a mente; elas acalmam, e não perturbam; elevam, e não degradam. Eles jamais usam métodos que atrofiam e paralisam a razão e a intuição. Qual seria o resultado inevitável se estes Senhores do Amor e da Luz forçassem sobre os Seus discípulos comunicações tão revoltantes para a razão como para o senso ético? A credulidade cega tomaria o lugar da fé inteligente, a paralisia moral o lugar do crescimento espiritual, e os Neófitos seriam deixados completamente desvalidos, sem nada para guiá-los, constantemente à mercê de qualquer fada brincalhona, e ainda pior, de qualquer Dugpa [feiticeiro - NT] vicioso.

É este o destino do discipulado? Pode ser este o caminho do Amor e da Sabedoria? Não imagino que qualquer homem razoável possa acreditar nisso durante um minuto sequer, embora possa ser lançado sobre ele algum encanto por um momento, que possa obrigá-lo a engolir os piores absurdos.

Entre as muitas dúvidas lançadas na mente do discípulo para causar-lhe preocupação é a de se a fraqueza física pode ser um entrave ao progresso espiritual. O processo de assimilação de alimento espiritual não envolve nenhuma drenagem de energias físicas, e o progresso espiritual pode prosseguir enquanto o corpo padece. É uma completa falácia, devida à falta de conhecimento e equilíbrio, supor que a tortura e maceração do corpo o torne responsivo a experiências espirituais. É fazendo o que melhor serve ao propósito dos Santos Seres que se faz o progresso constante e verdadeiro. Quando chega o tempo adequado para que experiências espirituais sejam impressas na consciência cerebral, o corpo não é capaz de impedi-las. O pequeno obstáculo que pode ser levantado pelo corpo pode ser afastado em um instante. É uma ilusão supor que qualquer esforço físico possa promover o progresso espiritual um só passo que seja. O modo de nos aproximarmos d'Eles é fazermos o que melhor cumpra Sua vontade, e feito isso, nada mais precisa ser feito.

Parece-me que há uma doçura peculiar em ser resignadamente paciente, em sacrificar com alegria a própria vontade à vontade d'Aqueles que sabem mais e sempre conduzem corretamente. Não existe coisa tal como o querer pessoal na vida do Espírito. Assim o discípulo pode alegremente sacrificar sua própria felicidade pessoal, quando Eles encontram ocasião de trabalhar para os outros através dele. Ele pode sentir às vezes que foi como que esquecido quando estiver sozinho, mas ele sempre Os encontrará ao seu lado quando houver trabalho a ser feito. Períodos de noite devem se alternar com os de dia, e certamente é bom que ocasionalmente sobrevenha a escuridão quando ela afeta só a nós mesmos, mesmo que nossa dor pessoal deva ser com isso intensificada. Sentir Sua presença e influência é de fato o dom mais divinal que se pode imaginar, mas mesmo isso devemos ser desejosos de sacrificar, se renunciando ao que consideramos o mais elevado e melhor o bem final do mundo for de obtenção mais fácil.

Tente, e perceba a beleza do sofrimento, quando o que o sofrimento faz é só tornar a pessoa mais apta para o trabalho. Certamente jamais devemos anelar a paz se na luta o mundo puder ser ajudado. Tente, e sinta que embora a treva pareça estar em toda sua volta, ainda assim ela não é real. Se algumas vezes Eles se ocultam em uma Maya [ilusão - NT] de indiferença aparente, é apenas para conceder Suas bênçãos com maior abundância quando a estação for propícia. As palavras não ajudam muito quando a escuridão é opressiva, ainda que o discípulo deva tentar manter inabalada sua fé na proximidade dos Grandes Seres, e sentir que embora a luz seja temporariamente retirada da consciência mental, mesmo assim ela cresce dia a dia no interior sob a Sua sábia e misericordiosa dispensação. Quando a mente se torna novamente sensível, ela reconhece com surpresa e alegria como o trabalho espiritual foi feito sem que se tivesse consciência alguma dos detalhes. Nós conhecemos a Lei. No mundo espiritual noites de maior ou menor horror seguem o dia, e aquele que é sábio, reconhecendo que a treva é o fruto de uma lei natural, deixa de se incomodar com isso. Podemos descansar certos de que a escuridão, por sua vez, se dissipará. Lembre sempre que detrás da mais espessa fumaça sempre existe a luz dos Pés de Lótus dos Grandes Senhores da Terra. Fique firme e jamais perca a fé n'Eles, e então não haverá nada a temer. Podem e devem haver provações, mas você deve estar certo de que conseguirá suportá-las. Quando a sombra que caiu como uma mortalha sobre a Alma se retira, então somos capazes de ver quão realmente evanescente e ilusória ela era. Mesmo assim esta sombra, enquanto perdura, é real o bastante para levar a ruína para muitas almas nobres que ainda não adquiriram força suficiente para suportá-la.

A vida e o amor espirituais não se esgotam quando são dispendidos. A doação apenas acrescenta ao reservatório e o torna mais rico e intenso. Tente, e seja tão feliz e contente quanto puder, porque na alegria está a verdadeira vida espiritual, e a tristeza é apenas o resultado de nossa ignorância e falta de visão clara. Assim, você deve resistir, até onde puder, ao sentimento de tristeza: ele anuvia a atmosfera espiritual. E embora você não possa evitar inteiramente sua chegada, mesmo assim você não deve ceder completamente a ele. Pois lembre-se de que no verdadeiro coração do universo existe a Beatitude.

O desespero não deveria ter lugar nenhum no coração do discípulo devoto, pois ele enfraquece a fé e a devoção, e assim abre espaço para que atuem os Poderes das Trevas. Este sentimento é um feitiço lançado por eles para torturar o discípulo e se possível tirar alguma vantagem para si mesmos com esta ilusão. Aprendi com a mais amarga das experiências que a autoconfiança é praticamente inútil e mesmo decepcionante em testes desta natureza, e o único modo de escapar incólume destas ilusões é devotar-se completamente a Eles. A razão para isso, também, é bem simples. A força, a fim de ser eficaz em sua oposição, deve estar no mesmo plano onde atua o poder a ser combatido. Mas como estes problemas e ilusões não vêm do eu, o eu é impotente contra eles. Procedendo como procedem dos Seres Tenebrosos, eles só podem ser neutralizados pelos Irmãos Brancos. Portanto é necessário, em nome da segurança, entregarmo-nos - entregar nossos eus separados - e sermos libertos de toda Ahamkara [ilusão da separatividade, ou o conceito de um eu particular - NT].

Sabendo como nós sabemos que a Sociedade Teosófica - ou, a este respeito, qualquer movimento de alguma importância - está sob a observação e guarda de Poderes imensamente mais sábios e superiores do que nossos próprios pequenos 'eus', não precisamos nos preocupar muito com o destino final da Sociedade, mas podemos ficar descansados e contentes com o cumprimento consciencioso e diligentemente de nosso dever para com ela, fazendo a parte que nos cabe de acordo com o melhor de nossa luz e habilidades. A preocupação e a solidão têm, sem dúvida, suas próprias funções na economia da Natureza. Nos homens comuns elas obrigam o cérebro a funcionar, e os músculos a se mover, e se não fosse por isso o mundo não faria metade do progresso que tem feito nos planos físico e intelectual. Mas em certo estágio da evolução humana elas são substituídas por um senso de dever e um amor à Verdade, e a clareza de visão e ímpeto para trabalhar obtidos assim jamais podem ser conseguidos por qualquer quantidade de energia molecular e vigor nervoso. Portanto desvencilhe-se de todo desânimo, e com sua Alma voltada para Fonte de Luz, continue trabalhando para aquele grande objetivo para o qual você está aqui, seu coração abraçando toda a humanidade, mas perfeitamente resignado quanto ao resultado de seus esforços. Assim nossos Sábios têm ensinado, assim exortou Shri Krishna a Arjuna no campo de batalha, e assim devemos direcionar nossas energias.

Meus próprios sentimentos a respeito do sofrimento do mundo são precisamente os mesmos que os seus. Não há nada que me doa mais do que a cega e frenética maneira com que a vasta maioria de nossos irmãos persegue os prazeres dos sentidos, e a visão completamente vazia e errônea que têm da vida. A visão desta ignorância e loucura enternecem meu coração muito mais do que as dificuldades físicas que eles suportam. E embora a nobre prece de Rantideva me comovesse profundamente anos atrás, com o vislumbre que desde então me foi concedido ter a respeito da natureza das coisas, considero os sentimentos do Buda muito mais sábios e transcendentais. E embora eu pudesse alegremente sofrer agonias para livrar um discípulo da tortura a que ele é sujeito, tendo considerado as causas assim como as derradeiras conseqüências do sofrimento de um discípulo, minha dor por ele não tem nem metade da intensidade daquela que experimento a respeito da miséria daqueles pobres ignorantes que sem consciência alguma pagam a mera penalidade por suas más ações passadas.

As funções do intelecto são meramente a comparação e o raciocínio; o conhecimento espiritual está muito além desta esfera. Provavelmente você em seu ambiente atual está bem farto de sutilezas intelectuais, mas o mundo é, no fim das contas, apenas uma escola, uma academia de treinamento, e nenhuma experiência, por mais dolorosa ou ridícula, é desprovida de uso ou valor para o homem que pensa. Os males por que passamos só fazem nos tornar mais sábios, e os próprios disparates que cometemos nos são de muita valia para o futuro. Assim, não precisamos nos queixar de nada, por mais indesejável que seja externamente.

O Karma, como foi ensinado no Gita e no Yoga Vasishta, significa atos e volições que procedem de Vanasa, ou desejo. É deixado bem claro naqueles códigos de ética que nada que é feito com um puro senso de dever, nada que é empreendido com um sentimento de "obrigação", como se diria, pode macular a natureza moral daquele que o faz, mesmo que ele esteja equivocado em sua concepção de dever e adequação. O erro, é claro, deve ser expiado com sofrimento, que deve se proporcional às conseqüências do erro; mas certamente não pode degradar o caráter ou macular o Jivatma (o Eu Individualizado).

É bom usarmos todos os eventos da vida como lições a serem transformadas em vantagens, e a dor causada pela separação de amigos que amamos pode ser usada assim. O que são espaço e tempo no plano do Espírito? Ilusões do cérebro, meros nadas, que adquirem aspecto de realidade pela impotência da mente, o invólucro que aprisiona o Jivatma. O sofrimento meramente nos dá um impulso novo e mais potente de vivermos completamente no Espírito. No fim, da dor virá boa vontade para todos nós, de modo que não devemos resmungar. Antes, sabendo que para os discípulos não pode acontecer nada que não seja da vontade de seus Senhores, devemos olhar para cada incidente doloroso como um passo em direção ao progresso espiritual, como um meio para aquele desenvolvimento interno que nos capacita a servi-Los, e com isso à Humanidade, de um modo melhor.

Se apenas pudermos servi-Los, se através de todas as tormentas e conflagrações nossas Almas se voltarem para os seus Pés de Lótus, o que importam a dor e os sofrimentos que elas impõem à nossa casca temporária? Entendamos um pouco o significado interno destes sofrimentos, destas vicissitudes das circunstâncias externas - entendamos como tamanha dor suportada significa muito mau Karma esgotado, muito poder de serviço adquirido, quão boa lição aprendida - não serão estes pensamentos suficientes para nos sustentar através de qualquer quantidade destas misérias ilusórias? Quão doce é sofrer quando se sabe e se tem fé! Quão diferente da miséria do ignorante, do cético, e do descrente. Quase poderíamos desejar que todo o sofrimento e miséria do mundo fossem nossos a fim de que o restante de nossa raça pudesse ser livre e feliz. A crucificação de Jesus simboliza esta fase na mente do discípulo. Você não pensa o mesmo? Somente esteja sempre firme na fé e na devoção, e não se desvie do caminho sagrado do Amor e da Verdade. Esta é a sua parte - o resto será feito por você pelos Senhores Misericordiosos a quem você serve. Você já sabe de tudo isso, e se eu falo sobre isso é apenas para fortalecê-lo em seu conhecimento; pois amiúde esquecemos de nossas melhores lições, e em tempos de aflição o dever de um amigo é mais o de lembrar a você suas próprias palavras, antes do que introduzir novas verdades. Foi assim que Draupadi freqüentemente consolou seu sábio esposo Yudhisthira, quando terrível infortúnio por um momento abalava sua usual serenidade, e assim também o próprio Vasishtha teve de ser acalmado e confortado quando assolado pela dor da morte de seus filhos. Não é verdadeiramente inexplicável o lado Maya deste mundo? Quão belo e romântico de um lado, e quão terrível e desgraçado de outro! Sim, Maya é o mistério de todos os mistérios, e quem entendeu Maya terá encontrado sua própria unidade com BRAHMAN - a Suprema Felicidade e a Luz Suprema.

A impressionante figura de Kali em cima de Shiva prostrado é uma ilustração da utilidade - do uso superior - da Raiva e do Ódio. A figura negra representa a Raiva; com a espada também significa proezas físicas; e toda a imagem significa que enquanto o homem tem raiva e ódio e força física, ele as deve usar para a supressão das outras paixões, para o massacre dos desejos da carne. Isso também representa o que realmente acontece quando pela primeira vez a mente se volta para a vida superior. Como ainda estamos carentes de sabedoria e equilíbrio mental, então matamos nossos desejos com nossas paixões; dirigimos nossa raiva contra nossos próprios vícios, e assim os suprimimos; também empregamos nosso orgulho contra as tendências indignas do corpo e da mente, e assim subimos o primeiro degrau na escadaria. Shiva prostrado mostra que quando a pessoa está engajada em uma batalha destas, ela não presta atenção ao seu princípio mais elevado, Atma - antes, na verdade ela o pisoteia, e não é senão quando ela mata o último inimigo de seu Eu que ela passa a reconhecer sua verdadeira posição quanto ao Atma durante a luta. Assim, Kali só encontra Shiva aos seus pés quando ela mata o último Daitya [demônio - NT], a personificação de Ahamkara, e então ela fica azul em sua fúria insana. Enquanto as paixões não tiverem sido todas subjugadas, devemos usá-las para sua própria supressão, neutralizando a força de uma com a de outra, e só assim podemos matar logo nosso egoísmo, e obter o primeiro vislumbre de nosso verdadeiro Atma - Shiva em nós - o qual ignoramos enquanto o desejo se agita no coração.

Podemos muito bem colocar sempre de lado nosso desejo pessoal míope a fim de servi-Los fielmente; é minha experiência que só seguindo a Sua orientação a pessoa evita o perigoso precipício para onde estava se dirigindo inconscientemente. Na hora parece difícil romper com nossas preferências pessoais, mas no final, de tal sacrifício resulta apenas alegria. Não há treino melhor do que os poucos anos da vida de uma pessoa quando ela, por agudo desapontamento, é conduzida a procurar abrigo debaixo dos benditos Pés dos Senhores, pois não há em parte alguma outro lugar para descanso. E então cresce no discípulo um hábito de pensar sempre que seu único refúgio está n'Eles, e sempre que ele não pensa n'Eles ele se sente miserável e abandonado. Assim, pela própria escuridão do desespero se acende nele uma luz que depois jamais empalidecerá. Aqueles cujos olhos penetram as distâncias do futuro longínquo, que estão veladas para nossos olhos mortais, têm feito e farão o que é melhor para o mundo. Devem ser sacrificados os resultados imediatos e as satisfações temporárias, se havemos de assegurar sem chance de fracasso o atingimento do objetivo. Quanto mais desejarmos criar as chances de sucesso interior, menos devemos ambicionar colheitas rápidas. Só pela dor podemos chegar à perfeição e à pureza; só pela dor podemos nos tornar servos adequados daquela Órfã [a Humanidade - NT] que incessantemente grita por alimento espiritual. A vida só vale a pena se for sacrificada aos Seus Pés.

Alegremo-nos que tenhamos oportunidades de servir à grande Causa através de sacrifícios pessoais, pois cada sofrimento pode ser usado por Eles para levar a pobre e equivocada Humanidade para um pequeno degrau acima. Qualquer dor que um discípulo possa sofrer é um penhor para um ganho correspondente que advém ao mundo. Ele deveria, portanto, sofrer calado e alegre, uma vez que ele vê um pouco mais claramente do que a cega mortalidade pela qual sofre. No decorrer de toda a evolução existe uma lei que é dolorosamente evidente, mesmo aos olhos do mais raso principiante: que nada realmente digno de se possuir pode ser ganho sem um sacrifício correspondente.

Quem renuncia a toda noção de eu, e faz de si mesmo um instrumento para as Divinas Mãos trabalharem através, não precisa ter medo nenhum das provas e dificuldades do mundo físico. "Como indicares, assim trabalharei". Este é o modo mais fácil de se ultrapassar a esfera do Karma individual, pois aquele que oferece todas as suas capacidades aos Pés dos Senhores não cria Karma para si; e então, como promete SHRI KRISHNA: "Tomo sobre Mim mesmo as suas contas". O discípulo não precisa levar em consideração os frutos de suas ações. Assim ensinou o grande Mestre Cristão: "Não vos preocupeis com o dia de amanhã".

Não permita que impulsos guiem a conduta. O entusiasmo pertence aos sentimentos, e não à conduta. O entusiasmo na conduta não tem lugar algum no verdadeiro Ocultismo, pois o Ocultista deve sempre ser autocontido. Uma das coisas mais difíceis na vida do Ocultista é manter o equilíbrio sempre, e este poder provém da verdadeira percepção espiritual. O Ocultista tem de viver mais uma vida interna do que uma externa. Ele sente, percebe, sabe mais e mais, mas demonstra menos e menos. Mesmo os sacrifícios que ele tem de fazer pertencem mais ao mundo interno do que ao externo. Na devoção religiosa comum todos os sacrifícios e forças de que a natureza da pessoa é capaz são usados no apego ao externo, em vencer ilusões e tentações no plano físico. Mas na vida do Ocultista eles têm de ser usados para propósitos maiores. Deve-se considerar as proporções, e subordinar o externo. Em uma palavra, jamais ser ostensivo. Assim como Hamsa [cisne mítico dos hindus, representa a Sabedoria sagrada - NT] tendo diante de si água e leite misturados, toma só o leite e deixa a água, do mesmo modo o Ocultista extrai e retém a vida e quintessência de todas as várias qualidades, ao passo que rejeita as cascas onde elas estão escondidas.

Como as pessoas podem supor que os Mestres devessem interferir na vida a atos das pessoas, e duvidam de Sua existência, ou questionam Sua indiferença moral, pelo fato de Eles não interferirem? O povo pela mesma razão questiona a existência de qualquer Lei moral neste Universo, e argumenta que a existência de iniqüidades e práticas infames entre a humanidade vai contra a suposta existência de uma Lei assim. Por que eles esquecem que os Mestres são Jivanmuktas [almas libertas, emancipadas da matéria - NT] e trabalham com a Lei, identificam-Se com a Lei, e de fato são o próprio espírito da Lei? Mas não há necessidade de nos afligirmos a este respeito, pois o tribunal a que nos submetemos em assuntos de consciência não é a opinião pública, mas nosso próprio Eu Superior. São batalhas como estas que purificam o coração e elevam a alma, e não as lutas furiosas às quais nossas paixões, ou mesmo a "justa indignação" e o que é chamado de "nobre ultrajamento", nos impelem.

O que são para nós problemas e dificuldades? Não são tão benvindos como os prazeres e facilidades? Pois não são eles nossos melhores treinadores e educadores, e nos enchem de lições salutares? Não nos obrigam a nos movermos mais tranqüilamente através de todas as mudanças e vicissitudes da sorte? E não seria um grande descrédito para nós se falhássemos em preservar a tranqüilidade mental e equilíbrio de ânimo, coisa que devia ser sempre a marca da disposição do discípulo? Seguramente ele deveria permanecer sereno em meio a todas as tormentas e tempestades. Este é um mundo louco, enfim, se a pessoa olha só para sua mera exterioridade, e mesmo assim, quão enganador é em sua loucura! É a própria insanidade da loucura quando o doente é ignorante de sua condição - antes, quando acredita-se perfeitamente saudável. Oh, se a harmonia e música que reinam na Alma das coisas não nos fossem perceptíveis, a nós, cujos olhos foram abertos para esta completa sandice que penetra a casca externa, quão intolerável a vida nos seria! Você não acha que seria pouco agradecido mantermo-nos descontentes quando obedecemos aos desejos de nossos Senhores e cumprimos nosso dever? Você deveria ter não apenas paz e contentamento, mas também alegria e vivacidade, quando serve Aqueles cujo serviço é nosso mais alto privilégio e cuja memória é nossa mais verdadeira delícia.

Que Eles jamais nos abandonarão é tão certo quanto a Morte. Mas nos cabe nos aproximar d'Eles com devoção verdadeira e profunda. Se nossa devoção for verdadeira e profunda, não há a menor chance de nos afastarmos de Seus santos Pés. Mas você sabe o que significa devoção verdadeira e profunda. Você sabe tanto quanto eu que nada menos do que a completa renúncia à vontade pessoal, a resoluta aniquilação do elemento pessoal no homem, pode constituir uma Bhakti verdadeira e genuína. É só quando toda a natureza humana está em perfeita harmonia com a Lei Divina, quando não há uma só nota discorde em qualquer parte do sistema, quando todos os pensamentos idéias, fantasias, desejos, emoções, voluntários ou involuntários, vibram em resposta e em completa consonância com o "Grande Alento", que se atinge o verdadeiro ideal de devoção, e não antes. Só nos livramos da chance de fracasso quando atingimos este estágio de Bhakti, pois só ele pode assegurar progresso perpétuo e sucesso indubitável. O discípulo não falha por falta de cuidado e amor de parte dos Grandes Mestres, mas a despeito disso, e por sua própria perversidade e fraqueza internas. E não podemos dizer que a perversidade seja impossível em uma pessoa que ainda acalenta em si a idéia de separatividade - nutrida ao longo de éons de pensamento ilusório e corrupção, e ainda não completamente extirpada.

Não devemos nos iludir de nenhuma forma. Algumas verdades são de fato amargas, mas a atitude mais sábia é conhecê-las e enfrentá-las. Ficarmos em um paraíso fantasioso significa apenas excluirmos o verdadeiro Eliseu. É verdade que se nós deliberadamente pararmos para descobrir se temos ou não ainda algum traço de separatividade ou personalismo em nós, ou qualquer desejo de nos contrapormos ao curso natural dos eventos, podemos falhar em encontramos algum motivo, alguma razão, para tal auto-afirmação ou desejo. Sabendo e acreditando como nós fazemos que a idéia de isolamento é mero produto de Maya, que a ignorância e todo desejo pessoal surgem apenas deste sentimento de isolamento, e que eles são a raiz de toda nossa miséria, não podemos senão desprezar estas falsas e ilusórias noções quando meditarmos sobre elas. Mas se analisamos os verdadeiros fatos, e vigiarmos a nós mesmos o dia todo, e observamos os vários comportamentos de nosso ser, variando com as diferentes circunstâncias, chegaremos a uma conclusão bem diversa, e descobriremos que a verdadeira realização de nosso conhecimento e crença em nossa vida é ainda um evento muito distante, e surge por apenas um breve momento aqui e ali, quando estamos inteiramente esquecidos do corpo ou do ambiente material, e estamos completamente arrebatados na contemplação do Divino - antes, quando estamos mergulhados na própria Deidade.

Para nós, através da suprema misericórdia de nossos Senhores, as coisas na Terra são um pouco mais claras e mais inteligíveis do que para o homem do mundo, e este é o motivo de tão avidamente querermos devotar todas as nossas energias ao seu serviço. Toda atividade - caridade, benevolência, patriotismo, etc - será, no dizer jubilosamente mofino do cínico, mera troca, uma mera questão de dar e receber. Mas o aspecto mais nobre que mesmo este ridicularizado, a probidade mercenária - considerado estritamente e aplicado a etapas mais elevadas de vida - apresenta ao olho superior, está além do alcance do zombeteiro superficial; e assim ele ri e troça da virtude, chamando-a de mercantil, e o mundo tolo e leviano, ávido por um pouco de divertimento, ri com ele e o considera um sujeito esperto e animado. Se olharmos para a superfície deste nosso esplêndido orbe, nada além de tristeza e opressão aparecerá diante de nossas almas, e o desespero paralisará todos os esforços de melhoria de suas condições. Mas olhando por debaixo, vemos como todas as inconsistências se dissolvem, e tudo parece belo e harmonioso, e o coração desabrocha e se enche de alegria, e liberalmente abre seus tesouros para o universo em torno. Desta maneira, não precisamos desfalecer diante de qualquer visão terrível que surgir, nem precisamos lamentar a loucura e cegueira dos homens entre os quais nascemos.

Há leis morais fixas, assim como há leis físicas uniformes. Estas leis morais podem ser violadas pelo homem, dotado como é de sua individualidade e da liberdade que isso envolve. Cada violação se torna uma força moral na direção oposta àquela em que a evolução está seguindo, e é inerente ao plano moral. E pela lei de reação cada qual tem a tendência de evocar a operação da lei correta. Mas quando estas forças opositoras se acumulam e adquirem uma dimensão gigantesca, a força reacional necessariamente se torna violenta e resulta em revoluções morais e espirituais, em guerras santas, em cruzadas religiosas, e coisas assim. Expanda esta teoria, e você entenderá a necessidade do aparecimento de Avataras [encarnações divinas - NT] sobre a Terra. Quão fáceis se tornam as coisas quando os olhos da pessoa se abrem; mas quão incompreensíveis elas parecem quando a visão espiritual está fechada, ou é apenas vaga e primitiva. A Natureza, em sua infinita generosidade, providenciou para o homem, nos planos externos, símiles exatos de suas funções internas, e verdadeiramente aqueles que têm olhos para ver podem ver, e aqueles que têm ouvidos para ouvir podem ouvir.

Quão intenso é o anelo de levar ajuda para a Alma sofredora, em suas horas de extrema provação e de treva acabrunhante. Mas a experiência mostra aqueles que passaram por ordálios semelhantes, e que é bom que eles não tenham, naqueles momentos, percebido a ajuda que não obstante é dada sempre, e que é bom que eles tenham sido oprimidos com um triste senso de solidão e de serem totalmente abandonados. Se fosse de outra forma, metade do efeito da prova seria perdido, e a força e conhecimento que seguem cada ordálio destes teriam de ser adquiridos através de anos de tentativas e tropeços. A Lei de Ação e Reação age em toda parte... Alguém que seja completamente devoto, isto é, alguém que em atos e pensamentos consagra todas as suas energias e todas as suas posses à Suprema Deidade, e percebe sua própria insignificância bem como a falsidade da idéia da separatividade - só para esta pessoa não se permite que os poderes das trevas se aproximem, e é protegida de todo perigo para sua Alma. A passagem no Gita em que você deve estar pensando deve ser interpretada como que ninguém que tenha o sentimento de devoção uma vez desperto em si pode falhar para sempre. Mas não há garantias para ele contra desvios temporários. Pois de certo modo todo ser vivo, desde o Anjo mais exaltado até o menor protozoário, está sob a proteção do Logos de seu sistema, e é levado através dos vários estágios e modos de existência de volta ao Seu seio, para lá desfrutar da beatitude de Moksha [libertação, extinção; equivale a Nirvana - NT] durante uma eternidade.

O exterior sempre revela o interior para o olho que vê, e lugares e pessoas são portanto sempre interessantes. Novamente, o exterior não é uma coisa detestável como a pessoa pode fantasiar na primeira intensidade e penetrância de seu Vairagya, ou desgosto para com aparências. Pois se assim fosse, toda a criação seria um tolo e despropositado dispêndio de energia. Mas você sabe que de fato não é assim; sabe que por outro lado existe uma profunda e saudável filosofia mesmo nestas manifestações ilusórias e vestimentas exteriores, e que Carlyle, em seu Sartor Resartus mostrou um pouco desta filosofia. Por que então nos desviarmos com mal-estar e horror mesmo diante da roupagem mais espantosa? Não são as próprias roupagens em que a Suprema Deidade se disfarça, santas para nós e cheias de lições sábias? Você diz, corretamente, que todas as coisas, belas e feias, têm seus lugares adequados na Natureza, e constituem, por sua própria diferença e variedade, a perfeição do LOGOS Supremo.

Por que deveria ser cortada a comunicação com o mundo interno, causando tristeza e peso no coração? Porque o exterior ainda tem algumas lições a ensinar, e uma destas lições é que ele também é divino em sua essência, divino em sua substância, e divino em seus métodos, e que portanto você deveria encará-lo de modo mais gentil. Por outro lado, a tristeza e melancolia têm seu uso e sua filosofia. Elas são muito necessárias para a evolução e desabrochar da Alma humana sob forma de alegria e vivacidade. Elas são, contudo, necessárias apenas no primeiro estágio de nosso crescimento, e são dispensáveis quando o Eu floresceu e abriu seu coração para o Sol Divino.

Você sabe como trabalha a evolução. Nós começamos sem qualquer sensação. Gradualmente a desenvolvemos, e em determinado ponto de nossa peregrinação a temos em seu grau mais intenso. Então vem um período em que a sensação é considerada Maya, e assim começa a diminuir e o conhecimento predomina, até que no final toda a sensação é suplantada pelo conhecimento, e encontramos a paz absoluta. Mas não a paz na nesciência, como quando estávamos no começo de nossa vida no reino mineral, mas a paz na onisciência; paz, não na completa apatia e como se fosse a morte, como a que vemos nas pedras, mas na vida absoluta e no amor absoluto. Aqui encontra repouso, porque anima tudo o que existe, e derrama suas bênçãos sobre todo o Universo. Mas os extremos se encontram, e assim em certo aspecto o início e o fim coincidem.

Quero deixar claros dois pontos: (1) que o psíquico destreinado sempre corre o risco de divulgar coisas na verdade ditas pelo inimigo como se fossem conselhos do Mestre; e (2) que o Mestre não diz nada que o intelecto de Sua audiência não possa compreender, e contra o que se revolte seu senso moral. As palavras do Mestre, por mais opostas que sejam aos pensamentos anteriores da pessoa, jamais falham em trazer a mais absoluta convicção, tanto para o intelecto como para o senso moral da pessoa a quem foram dirigidas. Elas chegam como uma revelação, retificando um erro que se tornou patente; elas chegam como uma coluna de luz dissipando a escuridão; não apelam para a credulidade ou para a fé cega.

Você sabe como o inimigo tem trabalhado contra nós, e se falharmos em nossa devoção aos Mestres, ou no desempenho dos deveres com que Eles graciosamente nos incumbiram, ele nos dará problemas sem fim. Mas não nos importamos com estes problemas; podemos suportá-los bem pacientes e sem um só tremor. O que realmente nos tortura e perturba a paz de nossa mente é o risco sempre possível de sermos afastados de nossos Senhores. Nada mais pode nos atormentar - nem sofrimento pessoal, nem perda física, por maiores que sejam. Pois sabemos além de toda dúvida que tudo o que é pessoal é transitório e fugaz, e que tudo o que é físico é ilusório e falso, e que só o tolo e o ignorante lamentam as coisas que pertencem ao mundo das sombras.

Para o discípulo pouco vale o ensinamento no plano intelectual. O conhecimento que se infiltra da Alma para o intelecto é o único conhecimento digno de possuirmos, e tão certo como os dias seguem-se uns aos outros, o reservatório de tal conhecimento do discípulo cresce dia a dia. E com o aumento de tal conhecimento vem a eliminação de tudo o que o bloqueia na Senda.

O sentimento de dor é um ao qual toda pessoa que leva a vida do Espírito se torna acostumada. Nós sabemos que a dor não pode durar para sempre, e mesmo se o fizesse, não importaria muito. Não podemos esperar ser de qualquer valia para Eles ou para a Humanidade sem assumirmos nossa plena medida de sofrimento imposta pelos inimigos. Mas a ira destes Monarcas das Trevas algumas vezes é terrível de enfrentar, e eles podem perfeitamente aterrorizar a pessoa com a Maya que por vezes criam. Mas um coração puro não tem nada a temer e está seguro do triunfo. O discípulo não deve se afligir com a dor e ilusão temporárias que eles tentam criar. Às vezes eles podem parecer lançar um flagelo constante no interior, e então a pessoa tem de sentar-se sobre as próprias ruínas, esperando calado pelo tempo em que a Maya dos malignos desapareça. A pessoa deve sempre permitir que a onda de dúvida e desassossego tombe sobre ela, agarrando firmemente a âncora que encontrou. O inimigo não pode lhe fazer nenhum mal real ou substancial enquanto ela permanecer devotada a Eles com toda sua Alma e com todas as suas forças. "Quem se apega a Mim ultrapassa facilmente o oceano da morte e do mundo, através de Meu auxílio".

Nada pode acontecer ao discípulo senão o que for melhor para ele. Tendo uma vez a pessoa se colocado deliberadamente nas Mãos dos graciosos Mestres, Eles providenciam que tudo aconteça no momento oportuno - o momento em que possa ser colhida a maior vantagem, tanto para o discípulo como para o mundo. Portanto deveríamos receber tudo o que acontecer em nosso caminho com um espírito contente e amável, e "não nos preocuparmos com o dia de amanhã"... O barco transtornado pela tempestade no mar revolto é mais pacífico do que a vida do peregrino que se encaminha para o sacrário do Espírito. Uma vida pacífica significaria estagnação e morte para aquele que não adquiriu o direito à paz destruindo completamente o inimigo - a personalidade.

Você não deveria cair nas falácias em que caem os ignorantes. Todo Amor verdadeiro é um atributo do Espírito, e Prana [o sopro vital - NT] e Bhakti são os dois aspectos da Divina Prakriti (Natureza) que concorrem para tornar digna de ser vivida a vida do que aspira pelas águas da imortalidade. Nas trevas tormentosas da vida do discípulo a única luz vem do Amor, pois Amor e Ananda (Beatitude) são, no sentido mais elevado, idênticos, e quanto mais puro e espiritual o Amor, mais ele partilha da natureza de Ananda, e menos é mesclado com elementos estranhos. Somente o santo amor do Mestre é majestosamente sereno o bastante para não ter nada em si que não pertença ao Divino.

A discrição e economia são tão necessárias no Ocultismo como em qualquer outra coisa. De fato, na vida do Ocultista todas as faculdades da mente humana que são consideradas como virtudes no sentido comum são postas no maior uso e extensão possíveis, e são adjuntas necessárias para a vida real que faz só ela um discípulo. O mundo não pode ser ajudado tão facilmente como muitos imaginam, mesmo se houvesse maior número de obreiros disponíveis. O conhecimento de parte dos discípulos não é a única coisa requerida. Observe e pondere, antes de decidir que o conhecimento e devoção de poucos podem fazer o relógio andar mais rápido. Nem um único esforço pode ser feito sem provocar uma feroz hostilidade de parte do outro lado, e estará o mundo preparado para sobreviver à reação? Você vai entender quão sábios são nossos Senhores quando não vão mais além do que já fazem, se você aprender a partir de tudo o que tem visto.

Como a vida seria digna se não sofrêssemos - sofrêssemos para tornar o mundo que geme debaixo de nossos olhos um pouco mais puro, para ganhar um pouco mais das águas da vida que saciará a sede de alguns lábios rachados? De fato, mas não fosse o sofrimento que é o destino do discípulo que marcha na Senda com pés sangrantes, ele poderia se desviar e perder de vista a meta onde seus olhos devem estar sempre fixados. A Maya do mundo fenomênico causa tanta confusão, tanto enfeitiçamento, que me parece que a eliminação da dor deve ser seguida de imediato pelo esquecimento das realidades da existência, e com o desaparecimento da sombra da vida espiritual, sua luz também se desvaneceria. Enquanto o homem não se transformar em Deus, é vão esperar estar em um desfrute ininterrupto da beatitude espiritual, e em períodos de sua ausência só o sofrimento mantém perseverantes os pés do discípulo, e o salva da morte que certamente o arrebataria se esquecesse das verdades do mundo espiritual.

O discípulo não deveria ser perturbado nem surpreendido quando as forças espirituais voltadas contra ele pelo outro lado encontram sua arena em um plano mais elevado do que o do intelecto físico. É verdade que as brasas que vão se apagando em alguma fenda invisível e despercebida de sua própria natureza podem ser assim atiçadas até voltar a arder; mas a chama é a que assinala a destruição final de alguma fraqueza que deve ser eliminada. Enquanto a mancha da personalidade não for limpa, o vício em suas múltiplas formas pode encontrar abrigo em alguma câmara do coração que foi negligenciada, embora ele possa não encontrar expressão na vida mental. E o único modo de tornar imaculado o santuário do coração é deixar que a luz penetre nos esconderijos obscuros, e devemos testemunhar calmamente o trabalho de sua destruição. O discípulo jamais deve deixar que este processo purificatório o assombre, quaisquer que sejam as monstruosidades que ele for chamado a testemunhar. Ele deve apegar-se firmemente aos Pés d'Aquele que mora na gloriosa pira que incinera tudo o que é material; então ele não tem nada a temer ou sobre o que ficar ansioso. Ele tem fé n'Aqueles que protegem e ajudam, e pode muito bem deixar que os trabalhos no plano espiritual sejam vigiados e dirigidos por Eles. Quando o ciclo tenebroso findar, ele verá novamente como o ouro brilha quando a escória foi purgada.

Nesta nossa esfera mundana, assim como em todos os planos de existência, a noite se alterna com o dia - existe sombra até mesmo debaixo da própria lâmpada. Mesmo assim, quão estranho é que homens de cultura e erudição fantasiem que com o avanço da Ciência, da Ciência grosseiramente materialista, toda a miséria - individual, racial e nacional - terminaria para todo o sempre; doenças, secas, pragas, guerras, inundações... ou mesmo os próprios cataclismos, seriam tudo coisa do passado remoto!

O interesse que temos em todos os assuntos desta esfera ilusória pertence apenas às emoções e ao intelecto, e não pode tocar a Alma. Enquanto nos identificarmos com o corpo e a mente, as vicissitudes que assolam a Sociedade Teosófica, os perigos que ameaçam sua vida ou solidariedade, devem ter uma influência depressiva, ou antes por vezes quase enlouquecedora, sobre nossos espíritos. Mas assim que passamos a viver no Espírito, a compreender a natureza ilusória de toda existência externa, o caráter mutante de toda organização humana, e a imutabilidade da Vida no interior, devemos - reflita a consciência cerebral ou não o conhecimento - sentir uma calma interna, como que uma espécie de desinteresse para com este mundo de sombras, e permanecer inabalados pelas revoluções e erupções do mundo. Uma vez atingido o Ego Superior, o conhecimento de que as Leis e Poderes que governam o universo são infinitamente sábios torna-se instintivo, e inevitável a paz em meio às angústias.

Falando em termos muito genéricos e amplos, no plano em que vivemos existem três modos de encaramos a miséria humana em geral. Podemos considerá-la, por exemplo: (1) como um teste de caráter; (2) como um débito a ser pago; e (3) como meio de educação, no sentido mais amplo da palavra. De todos estes pontos de vista, suponho que a sensação de "morte interior" (experimentada ocasionalmente por todos os aspirantes) equipara-se à dor aguda, assim como o confinamento solitário equivale à prisão com trabalho pesado. A ilustração, sem dúvida, é bastante crua, mas me parece ser sugestiva, e tenho visto que invariavelmente a analogia é de grande ajuda na compreensão das proposições abstratas e sutis; por isso apresentei este modo de explicar as coisas. Novamente, todas as forças aqui estão trabalhando para a evolução da humanidade até sua perfeição, e só com o desenvolvimento harmonioso de todas as nossas faculdades superiores e virtudes nobres é que podemos obter a perfeição. E este desenvolvimento harmonioso só é possível pelo exercício adequado daquelas faculdades e virtudes, ao passo que este exercício por sua vez requer condições especiais para cada atributo específico. O intenso sofrimento positivo nem testa ou compensa ou põe em jogo as mesmas capacidades e méritos da humanidade quanto um penetrante e terrível vazio interior. A paciência, a perseverança passiva, a fé, a devoção, são muito melhor desenvolvidas debaixo de uma aflição mental do que durante uma árdua luta ativa. A lei de ação e reação funciona bem no plano moral, e as virtudes evocadas por esta "obnubilação" mental são as que mais servem ao seu combate e superação, e certamente elas não são as mesmas com que enfrentamos a dor física, mesmo que seja excruciante. Uma palavra mais sobre este ponto, e passarei adiante. Este estado mental indica que o peregrino está no limiar entre o conhecido e o desconhecido, com uma tendência nítida para com o último. Isto assinala um grau definido de crescimento espiritual, e aponta para aquele estágio onde a Alma, em sua marcha progressiva, percebeu vaga mas inequivocamente o caráter ilusório do mundo material, e está insatisfeita e desgostosa com as coisas grosseiras que vê e conhece, e anela por coisas mais reais, por conhecimento mais substancial. A explicação acima, embora muito sucinta e frágil, satisfará você, espero, a respeito da utilidade do vairagya - o sentimento de ausência de toda vida e realidade tanto em você mesmo quanto no mundo em seu redor - na economia da Natureza, e mostrará como ele serve como uma pedra-de-toque para a firmeza mental e a simplicidade de coração, e como ele combate como medida corretiva o egoísmo intelectual - a tola procura de identificar-se o Eu com a personalidade - a estúpida tentativa de se alimentar a Alma com alimento grosseiro e material; e além disso como ele desenvolve, ou antes tende a desenvolver, a fé e devoção verdadeiras, e desperta a Razão superior e o Amor ao Divino.

Desde a superior até a inferior, a vida é uma alternância entre repouso e movimento, entre luz e sombra, entre prazer e dor. Portanto, jamais permita que seu coração mergulhe no desespero ou seja arrastado por qualquer corrente adversa de pensamento. Você já provou para si mesmo intelectualmente, e agora está experimentando na prática o caráter fugidio e irreal das coisas perceptíveis pelos órgãos dos sentidos ou mesmo pela mente, e a natureza efêmera de todos os prazeres físicos e emocionais. Firme-se, portanto, no caminho que levará você até uma visão da vida real, por mais escabrosas que sejam as regiões por onde ele o levar, por mais desprovidos de alegria que sejam os desertos por onde ocasionalmente ele o conduzir. Acima de tudo, tenha fé nos Misericordiosos, nos Mestres Sábios, e devote-se de coração e alma ao Seu serviço, e tudo correrá bem.

Tudo o que é preciso para a erradicação de qualquer vício é: (1) um conhecimento preciso do próprio vício; (2) um reconhecimento - um sentimento penetrante de que é um vício, de que é tolice cultivá-lo, e que é indigno; e por fim (3) a vontade de "matá-lo". Esta vontade penetrará na esfera subconsciente onde reside o vício, e lenta mas seguramente o apagará.

A verdadeira tranqüilidade mental jamais é o produto da indiferença ou da ausência de desafios, mas só pode vir de uma percepção da sabedoria superior e mais profunda.

Um discípulo de Sua Alta Loja, por mais humilde que seja, tem de viver no Eterno, e sua vida deve ser uma vida de Amor Universal, ou de outra forma ele deve abandonar suas aspirações mais altas. O serviço ativo que todo discípulo tem de prestar para o mundo é diferente para diferentes classes de estudantes, e é determinado pela natureza, disposição e capacidade peculiares do indivíduo. Você com certeza sabe que enquanto a perfeição não é alcançada a variedade deve ser mantida, mesmo no tipo de serviço que o chela [discípulo - NT] deve prestar.

É simplesmente impossível superestimar a eficácia da Verdade, em todas as fases e procedimentos, na ajuda da evolução progressiva da Alma humana. Devemos amar a Verdade, procurar a Verdade, e viver a Verdade; só assim a Luz Divina, que é a Verdade Sublime, pode ser vista pelo estudante de Ocultismo. Onde existir a menor tendência para a falsidade sob qualquer forma haverá uma sombra e ignorância, e também seu fruto: a dor. E esta tendência para a falsidade pertence sem dúvida à personalidade inferior. É aqui que nossos interesses se chocam, é aqui que opera plenamente a luta pela existência, e portanto é aqui que a covardia e a desonestidade e a fraude encontram algum sustento.

Os "sinais e sintomas" da atuação deste eu inferior jamais podem permanecer ocultos para alguém que sinceramente ame a Verdade e procure a Verdade e tenha a devoção pelos Grandes Seres como base de sua conduta. A menos que o coração seja perverso, a dúvida sobre a correção de qualquer ato particular jamais falhará em encontrar articulação, e então o verdadeiro discípulo se perguntará: "O meu Mestre ficará contente se eu fizer tal e tal coisa?", ou "Foi Sua vontade que eu fosse por este caminho?" E a resposta verdadeira logo virá, e então ele aprenderá a emendar sua conduta e harmonizar seus desejos com a Vontade Divina, e portanto obterá sabedoria e paz.

A Teosofia não é uma coisa que pode ser inserida e martelada nolens volens na cabeça ou no coração de alguém. Ela deve ser assimilada com facilidade no curso natural da evolução, e inalada como o ar que nos cerca. De outra forma ela causaria indigestão, para usarmos uma expressão popular.

Começando a sentir o crescimento de sua Alma, a pessoa percebe a calma que nenhuns eventos externos podem abalar. Ela, novamente, é a melhor prova de desenvolvimento espiritual, e quem a sente, por mais vaga e levemente que seja, não precisa se preocupar com nenhum fenômeno Oculto. Desde o primeiro início de meu noviciado fui ensinado a confiar mais na calma interior do que em qualquer fenômeno nos planos físico, astral ou espiritual. E, dadas condições favoráveis e forças individuais, quanto menos a pessoa observar de fenômenos, mais fácil será realizar progressos verdadeiros e substanciais. De modo que meu humilde conselho é que você devote sua atenção para a calma sempre crescente no interior, e não queira conhecer em detalhe o processo pelo qual se processa o crescimento. Se você for paciente, puro e devotado, com o tempo saberá tudo, mas lembre sempre que o contentamento perfeito e resignado é a alma da vida espiritual.

O progresso espiritual não é sempre o mesmo no tocante à bondade e ao auto-sacrifício, embora estes na devida ocasião devam levar àquele.

É verdade que no desejo de ganhar o afeto das pessoas ao redor existe uma cor de personalismo, a qual, se eliminada, faria da pessoa um anjo; mas devemos lembrar que durante muito, muito tempo ainda nossas ações continuarão a ser levemente tingidas de um sentimento de "eu". Deve ser nossa aplicação constante eliminar este sentimento até onde possível, mas enquanto o "eu" mostrar-se de algum modo, é muito melhor que ele exista como um fator menor numa conduta que é gentil, afetuosa e que leve ao bem-estar geral, do que endurecer o coração, tornar o caráter anguloso, manifestando-se o "eu" através de cores muito menos atraentes e amáveis. Com isso nem por um momento sugiro que não se devam fazer esforços na eliminação desta pálida mancha, mas o que quero dizer é que a roupagem suave e amável em que se reveste a mente não deveria ser lançada no fogo simplesmente porque não é de uma brancura imaculada. Temos de ter em mente que todas as nossas ações são mais ou menos o resultado de dois fatores: um desejo de autogratificação, e uma vontade de beneficiar o mundo - e nosso esforço constante deveria ser atenuar até onde possível o primeiro elemento, uma vez que ele não pode ser eliminado completamente enquanto existir o germe da personalidade. Este germe pode ser extinto por processos que o discípulo aprende à medida que progride, pela devoção e boas ações.

Os Mestres estão sempre perto dos Seus servos que por completa auto-abnegação se devotaram, corpo, mente e alma, ao Seu serviço. E até mesmo uma palavra amável para com os discípulos não passa sem pagamento. Em tempos de provações severas, Eles, de acordo com uma lei beneficente, deixam o discípulo lutar sua própria batalha sem Sua ajuda, mas quem quer que encoraje Seus servos a permanecerem firmes, recebe, sem dúvida, sua recompensa.

Mantendo-se sereno e sem paixões, não há dúvida que à medida que os dias passam a pessoa entra mais e mais dentro daquela influência que é a essência da vida, e algum dia o discípulo será surpreendido ao descobrir quão maravilhosamente ele cresceu, sem conhecer ou notar o processo de crescimento. Pois verdadeiramente a Alma, em seu verdadeiro desabrochar, "cresce como as flores, inconscientemente", mas ganhando em suavidade e beleza ao embeber-se da luz solar do Espírito.

Uma lealdade combativa para com qualquer pessoa ou causa dificilmente é recomendável em um discípulo, e certamente não é nenhum indicativo de progresso espiritual.

O primeiro passo, em quase todos os casos, tem o efeito como que de bulirmos em um ninho de vespas. Todos os elementos detestáveis de seu Karma ruim se aglomeram firmemente em seu redor, e fariam alguém com pés menos perseverantes sentir-se inconstante e agitado. Mas nada tem a temer quem cujo único objetivo é entregar, se necessário, sua própria vida pelo bem dos outros sem preocupar-se consigo. O próprio mergulho nos altos e baixos deste vórtice de misérias e provas dá força e confiança à pessoa, e forçam o crescimento da Alma.

Lembre que o sofrimento que o discípulo tem de passar é uma parte integrante de seu treinamento, e surge de seu desejo de eliminar a personalidade em si mesmo. E, por fim, ele verá a flor de sua Alma desabrochando de modo mais atraente depois da tempestade que enfrentou, e o amor e misericórdia do Mestre mais do que compensadoras por tudo o que ele sofreu e sacrificou. É só um teste momentâneo, porque no fim ele verá que não sacrificou nada e ganhou tudo.

O amor nos planos superiores repousa apenas nos serenos cumes da alegria, e nada pode lançar uma sombra em sua eminência nevada.

A piedade e compaixão são os sentimentos próprios para serem cultivados a respeito de toda a humanidade que erra, e não devemos dar lugar a nenhuma outra emoção, como ressentimento, enfado ou indignação. Estes podem ferir não apenas a nós mesmos, mas também aqueles a quem porventura os dirigirmos, e quem, se nos resignássemos, veríamos melhores e livres de todos os erros. À medida que crescemos espiritualmente, nossos pensamentos se tornam incrivelmente mais fortes em poder dinâmico, e ninguém que não tenha verdadeiramente experimentado isso sabe como mesmo um pensamento passageiro de um Iniciado se reveste de forma objetiva.

É maravilhoso ver como os poderes dos Tenebrosos parecem dissipar como que com um sopro todas as riquezas espirituais que foram acumuladas com tanta dor e cuidado em anos de estudo e experiência incessantes. É maravilhoso porque no final das contas é tudo uma ilusão, e você descobre que é assim logo que a paz volta e a luz brilha novamente sobre você. Você descobre que não perdeu nada - que todos os seus tesouros estão ali, e que a tormenta e a perda não passam de uma quimera.

Por mais sofridas para o coração que sejam as aparências em qualquer momento, por mais opressivo e assustador o estado das coisas, não devemos por um só momento dar lugar ao desespero; pois o desespero enfraquece a mente e nos deixa menos capazes de servir nossos Mestres.

Tenha como certo que os Senhores da Compaixão estão sempre cuidando de seus verdadeiros devotos, e jamais permitem corações honestos e buscadores sinceros da luz permanecer sob uma ilusão por muito tempo; os Senhores Sábios suscitam lições mesmo de suas vacilações temporárias, lições muito valiosas para o resto das suas vidas.

É simplesmente nossa ignorância e cegueira que dá o aspecto de estranheza e incompreensibilidade ao nosso trabalho. Se passarmos a ver as coisas à sua verdadeira luz e em seus significados mais plenos e profundos, tudo parecerá perfeitamente justo e bom, como a mais perfeita expressão da mais alta justiça.

Da lei da Justiça e da Compaixão - a lei do Karma e do governo moral do Universo - segue-se que não há, em todo âmbito da existência manifesta, uma só gota de dor e miséria a mais do que as absolutamente necessárias para os propósitos da mais elevada evolução. Também ficará claro, antes que sejamos coisas do passado - pelo menos para muitos da presente raça - que cada ato de auto-sacrifício, de parte das mônadas humanas em evolução, fortalece as mãos dos Mestres e como que leva reforços para os Poderes da Bondade.

Não seria de muito valor para nós se soubéssemos precisamente em detalhe tudo o que vai nos acontecer. Pois não estamos interessados em resultados, e tudo com que deveríamos nos preocupar é nosso próprio dever; enquanto o caminho nos for nítido é de pouca monta o que vem a suceder dos passos que dermos neste plano exterior. É a vida interna que é a verdadeira; e se nossa fé na orientação de nossos Senhores for firme, não devíamos ter dúvidas de que quaisquer que possam ser as aparências nesta esfera ilusória, no interior tudo deve correr bem, e o mundo prosseguirá em sua linha de evolução. Há conforto o bastante nesta idéia, há bênçãos suficientes neste pensamento, e só isto deveria bastar para nos mobilizar para nossos deveres atuais e nos estimular para outras atividades e trabalho mais estrênuo.

Existe uma grande diferença entre quem sabe que a vida espiritual é uma realidade e o homem que só fala a respeito, mas não a percebe, que a busca e persegue, mas não inala seu alento fragrante nem sente seu toque especial.

Há muito mais sabedoria n'Aqueles que velam por nós do que qualquer noção disto que possamos ter, e se apenas pudermos fixar nossa fé nisto não cairemos em nenhum erro, e estaremos certos de evitar muita preocupação desnecessária e mais do que inútil. Pois não poucos de nossos erros podem ser atribuídos a excesso de ansiedade e temor, a nervos sobrecarregados, e mesmo a um zelo excessivo.

Você agora verá como a devoção de todo o coração é um fator poderoso na promoção do crescimento da Alma, embora ele não seja visto e percebido no momento, e você não vai me censurar por ter-lhe dito para deixar de lado todo pensamento sobre fenômenos e conhecimento espiritual, poderes psíquicos e experiências anormais. Pois na serena luz solar da paz cada flor da Alma sorri e cresce, rica em sua cor radiante e peculiar. E então, um dia, o discípulo olha com espanto para a beleza e deliciosa fragrância de cada flor, e rejubila, e neste júbilo ele reconhece que a beleza e radiância emana dos Senhores a quem ele tem servido. O processo de crescimento não é o artigo prostituído e detestável conhecido pelos intrometidos no pseudo-Ocultismo. É uma coisa misteriosa, tão doce, tão sutil que ninguém pode descrever, mas pode conhecer apenas através do serviço.

Você experimentou algumas gotas das águas ambrosíacas da Paz, e nesta experiência encontrou força. Saiba agora e para sempre que na calma da Alma é que está o verdadeiro conhecimento, e que da divina tranqüilidade do coração emana poder. A experiência da paz e alegria celestiais é portanto a única vida espiritual verdadeira, e só o crescimento na paz indica crescimento da Alma. Os fenômenos anormais dão para os sentidos físicos testemunhos que podem apenas excitar a curiosidade, e não promovem o crescimento. Devoção e paz formam a atmosfera em que a Alma vive, e quanto mais se tem delas, mais vida sua Alma vai ter. Assim, fie-se apenas nas experiências de seu Eu Superior como provas de seu progresso, bem como da realidade do mundo espiritual, e não dê qualquer importância a fenômenos físicos que nunca constituem, nem podem constituir, a fonte de força e conforto.

Os humildes e devotos servos dos Mestres realmente formam uma corrente pela qual todos os elos apontam para os Seres Compassivos. A firmeza de um elo em relação ao seu vizinho, portanto, implica a força da corrente que sempre nos leva para Eles. Daí que nunca devíamos cair na falácia popular de considerarmos como fraqueza o amor que tão completamente pertence ao divino. Mesmo o amor comum, se for real, profundo e altruísta, é a mais elevada e pura manifestação do Eu Superior, e se cultivado no seio da pessoa consistentemente e com desejo de auto-sacrifício, por fim a leva para uma percepção mais clara do mundo espiritual do que qualquer outra ação ou emoção humanas. O que dizer então de um amor que tem como base uma aspiração coletiva de atingir o Trono de Deus, uma prece unificada de sofrer pela humanidade ignorante e falha, e um desejo mútuo de sacrificar a própria felicidade e conforto para tornar melhor o serviço para com Aqueles que com Suas bênçãos estão sempre construindo um muro entre as terríveis forças do mal e a Humanidade órfã e indefesa?... Mas as idéias do mundo são todas distorcidas pelo egoísmo e vileza da natureza humana. Se houver fraqueza no amor, não sei onde mais pode haver força. A verdadeira força não consiste em disputa e oposição, mas reside todo-poderosa no amor e na paz interna. Assim, o homem que se interessa em viver e crescer deve amar sempre, e sofrer pelo amor.

Quando o mundo, cego em sua ignorância e orgulho, fez plena justiça aos seus verdadeiros salvadores e mais devotos servos? Basta ver, e nesta visão tentar dissipar até onde possível, a ilusão das pessoas em torno. O desejo de que todos tivessem os olhos para ver e reconhecer o Poder que trabalha por sua regeneração deve permanecer insatisfeito, até que a atual treva, que cai como uma mortalha sobre a visão espiritual, obscurecendo-a, tenha sido completamente dissipada.

PAZ A TODOS OS SERES

Tradução: Ricardo Fantz