Eros e Civilização - Herbert Marcuse
A proposição de Sigmund Freud, segundo a qual a
civilização se baseia na permanente subjugação dos
instintos humanos, foi aceita como axiomática. A sua
interrogação, sobre se os benefícios da cultura teriam
compensado o sofrimento assim infligido aos indivíduos,
não foi levada muito a sério ainda menos quando o
próprio Freud considerou o processo inevitável e irreversível. A livre gratificação das necessidades
instintivas do homem é incompatível com a sociedade civilizada: renúncia e dilação na satisfação constituem
pré-requisitos do progresso. Disse Freud: A felicidade não é um valor cultural . A felicidade deve estar
subordinada à disciplina do trabalho como ocupação integral, à disciplina da reprodução monogâmica, ao
sistema estabelecido de lei e ordem. O sacrifício metódico da libido, a sua sujeição rigidamente imposta às atividades
e expressões socialmente úteis, é cultura. O sacrifício compensou bastante: nas áreas
tecnicamente avançadas da civilização, a conquista da natureza está praticamente concluída, e mais necessidades
de um maior número de pessoas são satisfeitas numa escala nunca anteriormente vista. Nem a mecanização e
padronização da vida, nem o empobrecimento mental, nem a crescente destrutividade do atual progresso,
fornecem bases suficientes para pôr em dúvida o princípio que tem governado o progresso da civilização
ocidental. O contínuo incremento da produtividade torna cada vez mais realista, de um modo constante, a promessa de uma vida ainda melhor para todos.
Contudo, o progresso intensificado parece estar vinculado a uma igualmente intensificada ausência de
liberdade. Por todo o mundo da civilização industrial, o domínio do homem pelo homem cresce em âmbito e
eficiência. Essa tendência tampouco se apresenta como uma regressão incidental, transitória, na senda do
progresso. Os campos de concentração, extermínios em massa, guerras mundiais e bombas atômicas
não são recaídas no barbarismo , mas a implementação irreprimida das conquistas da ciência moderna, da
tecnologia e dominação dos nossos tempos. E a mais eficaz subjugação e destruição do homem pelo homem
tem lugar no apogeu da civilização, quando as realizaçõesmateriais e intelectuais da humanidade parecem permitir a
criação de um mundo verdadeiramente livre.
Esses aspectos negativos da cultura hodierna podem
muito bem indicar o obsoletismo das instituições
estabelecidas e a emergência de novas formas de
civilização: a repressão é, talvez, mantida com tanto mais
vigor quanto mais desnecessária se torna. Se, com efeito, deve pertencer à essência da civilização como tal, então a
interrogação de Freud quanto ao preço da civilização não
teria qualquer sentido pois não haveria alternativa.
Mas a própria teoria de Freud fornece-nos razões
para rejeitarmos a sua identificação de civilização com
repressão. Com base em suas próprias realizações teóricas,
o exame do problema deve ser reaberto. A relação entre
liberdade e repressão, produtividade e destruição, dominação e progresso, constituirá realmente o princípio
de civilização? Ou essa inter-relação resultará unicamente
de uma organização histórica específica da existência
humana? Em termos freudianos, o conflito entre princípio
de prazer e princípio de realidade será irreconciliável num
grau tal que necessite a transformação repressiva da
estrutura instintiva do homem? Ou permitirá um conceito
de civilização não-repressiva, baseada numa experiência
fundamentalmente diferente de ser, numa relação
fundamentalmente diferente entre homem e natureza, e em
fundamentalmente diferentes relações existenciais?
A noção de uma civilização não-repressiva será
examinada, não como uma especulação abstrata e utópica. Acreditamos que o exame está justificado com base em
dois dados concretos e realistas: primeiro, a própria
concepção teórica de Freud parece refutar a sua firme
negação da possibilidade histórica de uma civilização nãorepressiva; e, segundo, as próprias realizações da
civilização repressiva parecem criar as pré-condições para
a gradual abolição da repressão. Para elucidarmos esses
dados, tentaremos reinterpretar a concepção teórica de
Freud, segundo os termos de seu próprio conteúdo sócio- histórico.
sábado, 2 de novembro de 2019
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Meu Diário
Voltando ao Maniqueísmo que não acho tão errado como propôs Santo Agostinho ao apear da canoa. Entendo eu que no mundo digladiam sim, as duas forças antagônicas: o bem e o mal. Elas representam a luta do espiritualismo com o materialismo. Estão representadas na luta interna do Bhagavad-Gitâ. Nós carregamos estas duas potências que buscam dominar o nosso mísero corpo e a mente sublime. São o Thanátos e o Eros freudianos. O nosso aprendizado envolve este confronto que nos provoca para o desbastar da pedra bruta. Começando pelo difícil caminho da humildade que implica no silêncio ante à agressão, submissão ante à arrogância e o acatamento submisso ante à prepotência. E o que às vezes é o mais difícil, admitir estes senhores como nossos instrutores e aos quais devemos ser reconhecidos e agradecidos quanto maior for a força do golpe. Calúnias, difamação, humilhação e o que vier devem ser aceitos e acatados como bem-vindos. Assim, se alguém te forçar a andar uma milha, vai com ele duas. Devemos nos esforçar pela felicidade dos outros e não egoisticamente pela nossa.
terça-feira, 8 de outubro de 2019
O FOGO
SAGRADO
As brumas do tempo escondem um
passado de magia e mistério que aos poucos nos é revelado. É um mundo
fascinante que nos mostra a grande religiosidade dos nossos antepassados e, aos
poucos, nos vai mostrando a identificação
da sua religião com as crenças modernas, mas coberta por um contexto de maior
religiosidade, uma maior proximidade com a espiritualidade invisível. É essa
espiritualidade que os amparou e protegeu dos perigos que os rondavam,
garantindo a sobrevivência das suas crenças, possibilitando que delas hoje
possamos ter conhecimento.
O Fogo Sagrado foi uma das mais
importantes religiões do passado de onde derivaram conceitos e símbolos que nos
acompanham até os dias atuais.
No nosso ritual de iniciação da
GLMMG é dito ao candidato: "pois que assim é, passe pelas chamas do Fogo
Sagrado, para que de profano nada lhe reste".
É importante notar que a
expressão Fogo Sagrado vem grafada com letras maiúsculas, denunciando a sua
importância. Mais adiante é dito ao candidato, "As chamas que vos
envolveram simbolizam o batismo da purificação. Purificado pela água, o Fogo
eliminou as nódoas do vício. Estais simbolicamente, limpo. Este Fogo cujas
chamas simbolizam também aspiração, fervor e zelo, deve lembrar-vos de que
deveis aspirar à verdadeira glória trabalhando ininterruptamente, pela causa em
que nos empenhamos e que é a do povo e da felicidade humana." É de se
notar ainda que, nas observações em vermelho (na mesma página), é destacado: (
O Fogo Sagrado deve estar em seu lugar no Templo, porém o ir.: Chanceler poderá
usar uma vela acesa para representá-lo). Portanto, o Fogo Sagrado compõe
a ornamentação da Loja e tem o seu lugar de destaque. Como ele deveria
ficar em uma pira e permanentemente aceso, abriu-se uma exceção em virtude das
dificuldades e perigo que isso acarretava para o Templo. E, como sói acontecer,
a exceção se tornou regra. Não vemos vestígios do Fogo Sagrado em Templo
algum.
Na obra, Obreiros da Vida Eterna,
de André Luiz e Chico Xavier, tem uma parte dedicada ao Fogo Purificador, no
capítulo 10. Este Fogo Purificador que é enviado pela espiritualidade superior,
tem por finalidade eliminar as larvas que grassava naquela região, contribuindo
para agravar o atraso das entidades em purgação no local. Notem a semelhança
com o nosso ritual quando diz: “Purificado pela água, o Fogo eliminou as nódoas
do vício”. E devemos acrescentar que a obra de André Luiz, embora espírita, tem
forte influência da Teosofia.
A religião grega nos legou um
importante mito ligado à Deusa Deméter. Segundo o mito, Deméter passeava com a
sua filha Perséfone e esta, ao se distanciar da mãe, desapareceu. Desesperada a
Deusa procurou pela filha por todos os lugares imagináveis, sem obter
sucesso. Baldados os esforços ela procurou por Zeus, o pai dos deuses.
Este lhe informou que sua filha tinha sido raptada por Hades, o Deus
subterrâneo, Deus do Tártaro e de todo o mundo dos mortos. Como Hades, ou o
Plutão dos romanos, era também um deus, irmão de Deméter e Zeus, este nada
podia fazer contra ele porque quebrava o Pacto Fundamental existente entre
eles, desde a formação do mundo.
Todavia, neste interstício em que
Deméter procurava recuperar a filha, ela foi acolhida pelo rei e a rainha
da cidade de Elêusis, sem que eles soubessem da sua divindade. Eles a
acolheram como pajem do seu filho. Ela se afeiçoou à criança e decidiu
torná-lo imortal. Para isso, todas as noites e em altas horas quando todos
dormiam, ela tirava a criança do berço e se dirigia ao recinto do palácio
destinado ao Fogo Sagrado, onde ela recitava fórmulas e orações à divindade do
Fogo e passava a criança pelas suas chamas. O ritual seguia já avançado, quando
certa noite a rainha acordou e deu pela falta do filho. Ela procurou por toda
parte até chegar ao recinto do Fogo Sagrado onde deparou com a cena
ritualística que ali se desenvolvia com a Deusa. Temendo pela vida do filho, a
rainha entrou em pânico atraindo a presença do marido e demais serviçais da
casa real. Isto forçou a Deusa a se revelar como tal e explicar o que pretendia
para a criança, cuja imortalidade foi frustrada naquele momento, já que o
ritual era sagrado e secreto, a presença deles o profanou.
A religião do Fogo Sagrado,
dentre todas que antecederam ao cristianismo, foi a de maior importância.
Também era conhecida como a Religião Doméstica ou dos Deuses Lares. Segundo os
historiadores esta religião foi trazida da Ásia pelos Árias. Ela foi
introduzida na Índia e de lá se propagou pelo mundo grego, romano. oriente
médio e até onde alcançou a civilização destes povos. Ela era praticada no
interior das residências, em um local destinado ao Fogo Sagrado. Em torno desse
fogo girava toda a vida religiosa da família. O Fogo era cultuado no interior
das residências personificando os Manes, as almas ou espíritos dos antepassados
daquela família. Pela manhã, a primeira atividade do chefe da casa era se
dirigir ao Fogo para reavivar suas brasas e fornecer-lhe a madeira apropriada
para o seu alimento. Naquele local ele dirigia também as suas orações e
invocava a proteção do Fogo Sagrado para
si e para a sua família. Neste local também era oferecido ao fogo as primícias
alimentares da família e a forma como elas eram por ele consumidas
indicava a sua aprovação pela oferenda. Quando retornava do trabalho, era dever
deste chefe de família se dirigir antes de tudo ao Fogo Sagrado, repetindo o
ritual da manhã. Suas chamas eram atiçadas pela madeira e a ele era dirigidas
as preces e agradecimentos pelo dia de trabalho. Após o jantar e antes de todos
se recolherem, a família se reunia junto ao Fogo para a prece e oferendas,
invocando, ainda, a sua proteção para aquela noite.
No casamento, o ritual se desdobrava
em função da religião do Fogo Sagrado. Acordado entre os noivos e respectivas
famílias sobre o matrimônio. A noiva tinha que passar por um cerimonial
específico junto ao Fogo Sagrado da sua casa paterna. Nesta era comunicado ao
Fogo o casamento e era solicitado o desligamento da noiva do culto
paterno. Com a anuência do Fogo Sagrado, a noiva iria passar por outra
cerimônia junto ao Fogo Sagrado na casa do noivo, pedindo a sua aceitação na
família e, por conseguinte, na religião daquela casa. Somente após isso, era
possível prosseguir com o cerimonial de casamento. Concluído o seu
desligamento, ela nunca mais iria participar das cerimônias religiosas junto ao
Fogo Sagrado da sua família paterna.
O Fogo era a proteção, amparo e
segurança de toda a família. Assim também é retratado na Bíblia Sagrada
em 2 Reis 1:12
Elias, do mesmo
modo, respondeu a esse oficial: “Se sou homem de Deus, que desça fogo do céu e
extermine a ti e aos teus cinquenta homens!” Em seguida, o fogo de Deus desceu
do céu e consumiu também este oficial e seus cinquenta soldados.
Também em 1 Reis 18:38 -
Então
o fogo do Senhor caiu e queimou completamente o holocausto, a lenha, as pedras
e o chão, e também secou totalmente a água na valeta.
Isaías
31:9
Sua fortaleza cairá por terra por causa do pavor; ao verem a bandeira da batalha, seus líderes entrarão em pânico!”, assim diz Yahweh, o SENHOR, cujo fogo sagrado está no tsion, Sião, cuja fornalha está em Jerusalém.
Sua fortaleza cairá por terra por causa do pavor; ao verem a bandeira da batalha, seus líderes entrarão em pânico!”, assim diz Yahweh, o SENHOR, cujo fogo sagrado está no tsion, Sião, cuja fornalha está em Jerusalém.
Portanto,
o Fogo Sagrado é uma tradição religiosa que vem de remotas eras, não foi
uma construção aleatória e sem raízes ou gerada ao acaso.
Esta
religião era professada por todas as famílias, mas sem que nenhuma soubesse
como ela era cultuada nas demais residências.
Na
parte externa da residência, havia o local onde eram enterrados os falecidos da
família. Neste local também eram oferecidas as oferendas para eles. Era
composta das comidas e bebidas por eles apreciadas quando eram vivos.
Estes
cultos eram protegidos pelo Estado e obrigatórios por força de lei. Isso se
dava porque segundo a crença daquela época, caso não fosse cumpridas as
oferendas e prestado o devido culto aos mortos, estes saiam das suas
catacumbas e iriam prejudicar as colheitas, assombrar as pessoas e
promover todo tipo de calamidades possível dentro do Estado. E importante
frisar ainda que a propriedade não pertencia aqueles que a explorava, ela
pertencia aos Manes, representados pelo Fogo Sagrado. Portanto, não se falava
em vender ou alienar a propriedade. E o Fogo Sagrado tinha que ser mantido
aceso porque simbolizava a continuidade dos Manes. O Fogo apagado significava
que aquela família se extinguiu.
A
Religião do Fogo Sagrado era praticada, a nível de Estado, com a Deusa Vesta
representando o Fogo Sagrado. Ela encarnava a virgindade e como tal
representava a fidelidade das mulheres nos lares romanos. A pira sagrada que a
representava era mantida acesa por suas sacerdotisas, as
Vestais, que também se mantinham virgens pelo período de 30 anos, quando então eram liberadas e podiam se casar. Com o
mesmo significado e da mesma forma, eram os cultos da Deusa Héstia na Grécia e
Agni na Índia. A virgindade obrigatória, se prende ao fato de que a energia
sexual é assimilada ao fogo, como se vê no ritual tantra que provoca o
despertar da kundalini, a serpente de fogo.
A
representação
da Kundalini como uma Serpente de Fogo diz muito sobre sua natureza. O fogo está
claramente associado à energia sexual e ao poder contido nessa força. A
associação com a serpente está no fato de que os chakras
estão dispostos em uma linha que serpenteia o corpo humano, e também na forma
que a serpente (o animal) atua.
O ritual tantra consiste em despertar a Kundalini, conduzindo a energia desde o
primeiro chacra ou Muladhara, que em sânscrito significa suporte, até ao chakra coronário no topo da cabeça onde se
encontra a glândula pineal. Esta conhecida por nós desde os tempos de Descartes
como uma espécie de antena que nos possibilita o contato espiritual.
O ritual tantra tem por finalidade fazer com que o casal chegue ao êxtase
espiritual, utilizando a energia sexual que ficou reprimida pelo casal por
longo tempo, enquanto estavam em preparação. “A direção das energias da
vida deve ser tirada do domínio dos desejos e levada ao da vontade. Até que
isto se faça, não pode haver progresso firme em nenhuma direção, porque então
os desejos são induzidos pelas coisas do exterior e não dirigidos do interior,
variando com os estímulos externos”. (Dion Fortune). Preparação e Trabalho do Iniciado - Editora Pensamento.
A
virgindade mantinha essa energia/fogo retida no corpo o que caracterizava a
Deusa Vesta e suas Vestais. Elas eram, portanto, portadoras do fogo, o Fogo
Sagrado.
No
festival de Beltane da religião Celta, na chegada da primavera, era celebrado um ritual que tinha por ponto
central a fertilidade. As meninas pré-adolescentes saltavam nuas sobre as
fogueiras para atrair a fertilidade. Este festival simbolizava a união das
energias masculinas e femininas. E o fogo era o agente propulsor destas
energias fornecidas pela mãe-natureza. Diz a Wikipédia: “Durante o festival,
eram acesas fogueiras nos topos dos montes e lugares considerados sagrados,
sendo um ritual importante nas terras celtas. E como tradição, as pessoas
queimavam oferendas como, por exemplo, totens para que o poder do fogo fosse
passado ao rebanho e, pulavam as fogueiras para que se enchessem das mesmas
energias poderosas”. Este ritual acontecia na chegada da primavera. Isso
acontecia no equinócio da primavera, uma estação regida pelo fogo.
Deméter
era a deusa da agricultura e da natureza. No acordo celebrado com Zeus e
Hades, para que ela continuasse a dar
vida à natureza, Perséfone ficaria com Hades por seis meses e seis meses ela
ficaria com a mãe. Antes do seu retorno à superfície, Hades fez com que ela
comesse um bago de romã. Era sabido que quem comesse alguma coisa da região do
Hades teria que retornar para lá. Assim Perséfone ficou atrelada ao Deus do
Tártaro. O retorno de Perséfone ao convívio com a mãe coincidia com a chegada
da primavera, simbolizando o retorno à vida com o florescimento de toda a
fauna. Demonstrava a alegria da mãe pela presença da filha. A região do Tártaro
que é assimilada ao inferno, é a região onde contém um fogo eterno em que são
supliciadas as almas dos condenados. Por outro lado, sabe-se que no interior da
Terra temos um fogo que mantém toda a vida no planeta, numa região conhecida
como Magma.
O
ritual das adolescentes nuas no festival de Beltane guarda estreita relação com
o mito de Deméter. O fogo é o fogo do Magma ou do Tártaro que mantém a vida no
planeta e esta vida só é possível pela fertilidade do solo e todos os seres
vivos.
Desta
forma, podemos ver que o Fogo Sagrado e a sua simbologia e significado
permanece entre nós, através da religião. A
Anunciação de Maria pelo anjo, quando ela recebe a comunicação da sua
gravidez, se dá nove meses antes do Natal. A fertilização de Maria é obra do
Espírito Santo que em toda religião Judaico-Cristã vem assimilado ao Fogo
Divino, criador e purificador. Tal como
destacamos abaixo:
Houve uma
manifestaço semelhante da presença de Deus na dedicação do templo. “E
acabando Salomão de orar, desceu fogo do céu… e a glória do Senhor
encheu a casa” (2 Cr 7.1). A presença do fogo era prova da presença de
Deus.
Tal era o
significado do fogo nos tempos do Velho Testamento. Mas qual é o seu
significado para nós hoje? No Novo Testamento, ele é o simbolo da presença e da
força do Espírito Santo. Ao anunciar o ministério do Messias, João Batista
disse: “… ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo” (Mt
3.11). A sua profecia foi cumprida. No dia de Pentecostes, quando o Espírito
Santo veio com poder sobre os discípulos reunidos, o símbolo escolhido estava
bem destacado. “E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de
fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (At 2.3). Podemos dizer,
portanto, que o simbolismo do fogo representa hoje a presença e o poder do
Espírito Santo. https://www.revistaimpacto.com.br/o-fogo-purificador-do-espirito/
Uma curiosidade africana é a tribo dos Himbas que tem como “Uma das coisas mais importantes o fogo sagrado, ou
“okuruwo”. Esse fogo representa os ancestrais da aldeia, que por sua vez são
considerados os intermediários para o contato com o “Mukuru”, o deus Himba.
Mantido continuamente aceso, o fogo fica entre o gado e a casa do chefe da
aldeia (chamada de “Ondjuwo Onene”), e as pessoas não podem cruzar o caminho
entre o fogo e a casa do chefe. Toda as noites, é trazida uma brasa do fogo pra
dentro da casa do chefe, que servirá pra acender novamente as chamas na manhã seguinte. “
Por todo o exposto, verifica-se que a Religião do Fogo Sagrado foi
uma das mais importantes religiões do nosso passado e, ao constatarmos a sua
importância, somos de admitir que ela se mantém firme em nosso íntimo, assim
como está com os Himbas e talvez entre outros povos. Carregamos conosco, sem
que saibamos, muita coisa da Religião do Fogo Sagrado e do seu esplendor.
Antônio Amâncio de Oliveira
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
A
PRESENÇA DO POSITIVISMO NA CONTRACULTURA
RESUMO:
O
presente estudo visa resgatar o movimento ocorrido na década de 60, como uma
reação da juventude contra a ordem tradicional notadamente conservadora. A participação dos estudantes iria atrair a
atenção de considerável parcela da intelectualidade cujas ideias e trabalhos se
encontravam em sintonia com a rebelião dos jovens. A presença do trabalho do
filósofo Herbert Marcuse com o viés da psicanálise freudiana irá entrar em
sintonia com o positivismo de Augusto Comte trazendo à baila a dicotomia:
estática/dinâmica relembrando o aspecto básico da Teoria dos Instintos de
Sigmund Freud, destacando o instinto de morte (Thanátos) e o instinto de vida
(Eros), revivendo a tese de uma sociedade/civilização produzida pela repressão
dos instintos primários, cuja liberação iniciada nos anos 60 poderá produzir
uma regressão dessa sociedade com reflexos na própria formação psicológica do
homem. Deixando claro que a liberdade total e sem freios é utópica e vedada ao
homem para a sua própria conservação.
INTRODUÇÃO
A
década de 60 foi um marco histórico que trouxe alterações revolucionárias para
o nosso comportamento, e em todos os segmentos do mundo moderno. Ela vivenciou o
positivismo de Auguste Comte aplicado na vida prática, mostrando o que foi a
ruptura da estática e da dinâmica. A revolução contestadora dos jovens que teve
por finalidade trazer ao debate o papel da ordem tradicional que, com o seu
modelo conservador, obstava o progresso. É sugestivo o tom que deu início a
greve estudantil na França, conforme nos relata a Wikipédia:
O
movimento de maio de 1968, na França, tornou-se ícone de uma época onde a
renovação dos valores veio acompanhada pela proeminente força de uma cultura
jovem. A liberação sexual, a Guerra no Vietnã, os movimentos pela ampliação dos
direitos civis compunham toda a pólvora de um barril construído pela fala dos
jovens estudantes da época. Mais do que iniciar algum tipo de tendência, o Maio
de 68 pode ser visto como desdobramento de toda uma série de questões já
propostas pela revisão dos costumes feita por lutas políticas, obras
filosóficas e a euforia juvenil.
No dia 2
de maio de 1968, estudantes franceses da Universidade de Nanterre fizeram um
protesto contra a divisão dos dormitórios entre homens e mulheres. Na verdade,
esse simples motivo vinha arraigado de uma nova geração que reivindicava o fim
de posturas conservadoras. Aproveitando do incidente, outros universitários
franceses e grupos político partidários resolveram engrossar fileiras dos
protestos contra os problemas vividos na França. Com a cobertura televisiva, o
episódio francês ficava conhecido pelo mundo.
É
de se perceber que a ordem que elevava a mulher à condição de santa: uma
divindade
doméstica, guardiã da família e dos seus valores, lhe impunha também o papel
que era conditio sine qua non, para a
sua aceitação na família e na sociedade. Nesse contexto ganhava extremado valor
a sua religiosidade e virgindade. Esta, alçada à condição de honra, como a
vestal dos cultos religiosos da Religião do Fogo Sagrado e dos Deuses Lares.
Desta forma, ela era intocável antes do casamento por força do pecado e só o
casamento tinha o poder conferido pela religião para conceder a sua ablução, liberando
o sexo para a perpetuação da espécie, acrescido da necessidade estatal de braços
para o trabalho e para a defesa em caso de guerra.
DESENVOLVIMENTO
No
Brasil, os primeiros acordes vieram com a Revolução dos Tenentes em 1922.
Esta
tinha por ideal implantar o ‘renascimento’ no solo brasileiro, afastando o
conservadorismo caracterizado na política do café-com-leite. Esta política, de
cunho eminentemente agrícola, consagrada nos acordos de Taubaté, comandava o
País através da Presidência da República, formada com o revezamento entre os
Estados de Minas Gerais e São Paulo. Ela era refratária à industrialização do
Brasil, inviabilizando o seu progresso. A revolução fracassou, mas deixou o seu
ideal na história com mudanças de vulto, dentre as quais a Semana da Arte
Moderna que reflete o pensamento avançado dos jovens oficiais do Exército no
distante ano de 1922. O seu ideal voltaria à tona nos anos 30, quando uma dissenção
interna iria provocar a ruptura do acordo político entre Minas e São Paulo,
conduzindo Getúlio Vargas ao poder. O ideal da revolução dos tenentes ressurgia
agora amparado pela força de todo o Exército. O tenentismo renascia no
getulismo.
Os tempos mudavam e no plano mundial
acontecia algo inovador. A geração dos anos 50, com o seu estilo byroniano, foi
marcada pela angústia e o desalento com o mundo que a cercava. A dança do rock
and roll que apareceu no final dos anos 40, cresceu e ganhou destaque entre os
jovens. Nos EE.UU. surgiu o estilo black power, os beatniks e o partido dos panteras-negras. A luta pelos
direitos civis tinha início numa sociedade severamente discriminadora com o
viés racista.
Todavia,
foi na década de 60 que a nova geração
impôs o fim da hegemonia da
Estática sobre a Dinâmica num mundo idealizado por Auguste Comte, com a sua
filosofia positivista. Muito mais do que o rock and roll e a utopia do
movimento Hippie, os anos 60 foi a rebelião dos jovens contra a camisa-de-força
que lhes era imposta por sucessivas gerações ao longo da história. Esposando a
filosofia de Herbert Marcuse, os anos 60, foi um marco da resistência contra o
sistema capitalista, visto como o símbolo maior da opressão à classe operária.
O
movimento dos Beatniks foi o elo-de-ligação entre a geração byroniana dos anos
50 e a geração dos anos 60, marcada
pelos acordes da banda inglesa The Beatles, e mantendo a influência da corrente
filosófica do existencialismo. Uma impulsionou a outra. E a contestação que começa em casa ganha as
ruas se unem sob um mesmo ideal, ganha força e cresce. A música dos Beatles e o
modo peculiar dos seus componentes dão o tom para a nova onda que tinha início.
Aliados a eles e no mesmo diapasão, está a banda dos Rolling Stones, com um som
mais agressivo e contundente. Eles fazem coro ao movimento e, juntamente com a
banda The Doors, impulsionam os costumes com os seus cabelos longos, botas de
salto alto e tudo mais que irá fomentar a discórdia entre a juventude e a ordem tradicional.
Podemos
dizer que a juventude dos anos 60 se libertou do domínio da ordem tradicional e
do seu comando. Se isso foi um marco para a liberdade cultural e tecnológica, também significou um excesso
libertário nos costumes, notadamente, com o sexo. A visão sobre o mundo sexual
sofreu sensíveis transformações que, até hoje escandaliza as mentes conservadoras
que não aderiram às ideias daquela época.
Freud
sustenta que a civilização é obra da repressão dos instintos. Ela seria uma
sublimação. Em sua obra “O futuro de uma ilusão”, ele diz:
“A
civilização humana, expressão pela qual quero significar tudo aquilo em que a
vida humana se elevou acima da sua condição animal e difere da vida dos animais
apresenta, como sabemos, dois aspectos ao observador. Por um lado, inclui todo
o conhecimento e capacidade que o homem adquiriu com o fim de controlar as
forças da natureza e extrair a riqueza desta para a satisfação das necessidades
humanas; por outro, inclui todos os regulamentos necessários para afastar as
relações dos homens uns com os outros e, especialmente, a distribuição da
riqueza disponível”.
Mais
adiante, ele acrescenta:
“Todo
indivíduo é virtualmente inimigo da civilização, embora se suponha que esta
constitui um objeto de interesse humano universal ... A
civilização, portanto, tem de ser defendida contra o individuo, e seus
regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a esta tarefa.”
Ainda
ele:
“As
criações humanas são facilmente destruídas, e a ciência e tecnologia, que as construíram, também podem
ser utilizadas para a sua aniquilação.”
“Pensar-se-ia
ser possível um reordenamento das relações humanas, que removeria as fontes de
insatisfação para com a civilização pela renúncia à coerção e à repressão dos
instintos, de sorte que, imperturbados pela discórdia interna, os homens
pudessem dedicar-se à aquisição e à sua fruição”.
“Parece
antes, que toda civilização tem de se erigir sobre a coerção e a renúncia ao
instinto.”
Acho
que se tem de levar em conta o fato de estarem presentes em todos os homens
tendências destrutivas e, portanto, anti-sociais e anticulturais, e que, num
grande número de pessoas, essas tendências são suficientemente fortes para
determinar o comportamento delas na sociedade humana.”
Essa
tendência destrutiva que marca a grande maioria da humanidade, está presente no
super-homem (übermensch) de Nieszche. Segundo ele, “O Estado é uma prudente
instituição para a defesa dos indivíduos um contra o outro; se se exagera seu
enobrecimento, o individuo acabará por ser enfraquecido por ele, e mesmo
dissolvido.” A identificação do pensamento freudiano com o nietszcheriano nos soa
evidente. A extensão do conceito freudiano na filosofia, notadamente, a sua
Teoria dos Instintos, se dará com Herbert Marcuse na sua obra “ Eros e a
Civilização”. É Marcuse que irá decompor no campo filosófico o que Freud captou
com a sua incomparável argúcia científica. Diz Marcuse, a título de ilustração
da sua importante obra:
“Segundo
Freud, a história do homem é a história da sua repressão. A cultura coage tanto
a sua existência social como a biológica, não só partes do ser humano, mas
também sua própria estrutura instintiva. Contudo, essa coação é a própria
precondição do progresso. Se tivessem liberdade de perseguir seus objetivos
naturais, os instintos básicos do homem seriam incompatíveis com toda a
associação e preservação duradoura: destruiriam até aquilo a que se unem ou em
que se conjugam. O Eros incontrolado é tão funesto quanto a sua réplica fatal,
o instinto de morte. Sua força destrutiva deriva do fato deles lutarem por uma
gratificação que a cultura não pode consentir: a gratificação como tal e como
um fim em si mesma, a qualquer momento. Portanto, os instintos têm de ser
desviados de seus objetivos, inibidos em seus anseios.”
Na
obra “O mito da liberdade”, Skinner deixa claro que a liberdade total é algo
utópico e inatingível. Diz ele:
“A
luta do homem pela liberdade não se deve à vontade de ser livre, mas a certos
processos de comportamento característicos do organismo humano, cujo principal efeito é evitar ou
fugir dos chamados aspectos “adversos” do ambiente.”
“A
liberdade... tem sido forçada a tachar todo controle como errado, e a
apresentar deformadamente muitas das vantagens adquiridas de um ambiente
social. Está despreparada para o próximo passo, que não consistirá em libertar
os homens do controle, mas sim em analisar e modificar as espécies de controle
a que se acham submetidos”.
CONCLUSÃO
O que resta evidenciado é que a
liberdade total é inacessível ao homem, enquanto ser
civilizado, caso ele a consiga, haverá uma regressão que o conduzirá ao estado
animal de onde proveio.
Rousseau afirma na sua obra “O
contrato social”, que “o homem nasce livre, e por toda parte encontra-se a
ferros”. Livre ele nasce no estado natural, enquanto índio.
A civilização lhe impõe regras que o condicionam a um processo de adequação do
qual não se libertará enquanto viver. Thomas Hobbes, sustenta que é a
competição que separa os homens e faz surgir a inveja, o ódio e finalmente a
guerra. A única forma de manter a paz e garantir a sobrevivência da sociedade é
por um pacto de cada homem com os demais, onde transferem o direito do seu estado de liberdade e de se
auto-governarem a uma única pessoa que se chama Estado, o grande Leviatã.
Ainda
lembrando Marcuse:
“Não
faz sentido falar sobre libertação a homens livres e somos livres se não
pertencemos à minoria oprimida. E não faz sentido falar sobre repressão
excessiva quando os homens e as mulheres desfrutam mais liberdade sexual que
nunca. Mas a verdade é que essa liberdade e satisfação estão transformando a
Terra em inferno. Por enquanto, o inferno ainda está concentrado em certos
lugares distantes: Vietname, Congo, África do Sul, assim como nos guetos da
sociedade afluente : no Mississippi e no Alabama, no Harlem. Esses lugares
infernais iluminam o todo. É fácil e razoável ver neles, apenas, bolsões de
pobreza e miséria numa sociedade em crescimento que é capaz de as eliminar
gradualmente e sem uma catástrofe. Essa interpretação pode até ser realista e
correta. A questão é: eliminadas a que preço não em dólares e centavos, mas em
vidas humanas e em liberdade humana?” in Eros
e Civilização
Guy Debord, um dos ícones desse
movimento, escreveu a obra A Sociedade do Espetáculo e nela retrata a tendência
marxista que acaba dando o tom do movimento:
Embora
na fase primitiva da acumulação capitalista “a economia política não visse no proletário senão o operário”que deveria
receber o mínimo indispensável para a conservação da sua força de trabalho, sem
nunca ser considerado “nos seus lazeres, na sua humanidade”, esta posição de
ideias da classe dominante inverte-se assim que o grau de abundância atingido
na produção de mercadorias exige um excedente de colaboração do operário. Este
operário, completamente desprezado diante de todas as modalidades de
organização e vigilância da produção, vê a si mesmo, a cada dia, do lado de
fora, mas é aparentemente tratado como uma grande pessoa, com uma delicadeza obsequiosa, sob o disfarce do
consumidor. Então o humanismo da
mercadoria os “lazeres e humanidade” do trabalhador, muito simplesmente
porque a economia política pode e deve dominar, agora, também estas esferas,
enquanto economia política. Assim “a negação da humanidade” é agora a negação
da totalidade da existência humana.
Em um trabalho publicado na Folha
Online, em 30/04/2008, Ébano Piancentini
retrata o que foi aquela época:
Em Maio de 68, a França concentrou em um mês as transformações
sociais de uma década que já ocorriam nos Estados Unidos e em países da Europa
e da América Latina.
Em 30
dias, os estudantes criaram barricadas, formando verdadeiras trincheiras de
guerra nas ruas de Paris para confrontar a polícia. Mais do que isso, os jovens
tiveram idéias e criaram frases tidas como as mais "ousadas" da
segunda metade do século 20.
Em
discursos nas ruas e nas universidades, em cartazes e muros, os estudantes
franceses deixaram as salas de aula e se mobilizaram para dar a seus
professores, pais e avós, e às instituições e ao governo "lições"
sobre os "novos tempos, a liberdade e a rebeldia".
Portanto, a segregação da ordem,
ocorrida nos anos 60, vem conduzindo o progresso (dinâmica) a um estado cada
vez mais distanciado e livre dos regulamentos de que nos alerta Freud,
avançando para uma sociedade sem freios e sem limites, cujo final será a
regressão ao Estado utópico e sem peias sociais, idealizado pelas comunidades
hippies.
COMTE,
Augusto – Curso de Filosofia Positiva – Coleção os Pensadores, vol. XXXIII, Abril
Cultural, 1ª edição 1973 – São Paulo - SP
COULANGES,
Fustel de – A Cidade Antiga, Rio de Janeiro, Ediouro, 1996 – Rio de Janeiro-RJ
SKINNER,
Burrhus Frederic, O Mito da Liberdade, tradução de Leonardo Goulart e Maria
Lúcia Ferreira Goulart, segunda edição brasileira: 1973, Bloch Editores, S.A,
Rio de Janeiro - RJ
ROUSSEAU,
Jean-Jacques – Do Contrato Social – Coleção os Pensadores, 2ª edição - São
Paulo : Abril Cultural, 1978.
DEBORD
Guy, A Sociedade do Espetáculo, tradução
em português: www.terravista.pt/ilhadomel/1540,
Fonte Digital Base, 2003, Guy Debord
MARCUSE,
Herbert, Eros e civilização, tradução de
Álvaro Cabral, Zahar Editores, 6ª edição, Rio de Janeiro – RJ, 1975
FREUD,
Sigmund, Coleção Os Pensadores, ,
seleção de textos de Jayme Salomão: tradução de Durval Marcondes ... (et al.).
– São Paulo : Abril Cultural, 1978.
NIETSZCHE,
Friedrich Wilhelm, Coleção Os Pensadores, Obras incompletas; seleção de textos
de Gérard Lebrun ; tradução e notas de Rubens Torres Filho, 2. 3d. – São
Paulo : Abril Cultural, 1978.
terça-feira, 18 de junho de 2019
OS VÉUS DO EGO
Primeiro, concebemos o “eu” e nos apegamos a ele.
Depois concebemos o “meu” e nos apegamos ao mundo material.
Como água cativa na roda do moinho, giramos em círculos, impotentes.
Presto homenagem à compaixão que envolve todos os seres.
CHANDRAKIRTI
A confusão mental é um véu que nos impede de ver claramente a realidade, obscurecendo a nossa compreensão da verdadeira natureza das coisas. Na prática, essa confusão nos incapacita de identificar o comportamento que nos permitiria encontrar a felicidade e evitar o sofrimento. Quando olhamos para fora, solidificamos o mundo, projetando nele atributos que de modo algum lhes são inerentes. Ao olhar para dentro, congelamos o fluxo de consciência quando concebemos um “eu” entronizado entre um passado que não existe mais e um futuro que ainda não existe. Acreditamos que vemos as coisas como elas são e quase nunca colocamos em dúvida essa opinião. Atribuímos qualidades às coisas e pessoas e acreditamos que são intrínsecas a elas, pensando “isto é bonito, isto é feio”, sem nos darmos conta de que a nossa mente confere esses atributos àquilo que percebemos.
Dividimos o mundo inteiro em “desejável” e “indesejável”; atribuímos permanência ao que é efêmero e vemos entidades independentes naquilo que é uma rede de relações que se transformam. Tendemos a isolar aspectos particulares de eventos, situações e pessoas, focalizando apenas essas particularidades. É assim que rotulamos os outros como “inimigos”, “bons”, “maus” e assim por diante, e consideramos essas atribuições permanentes. No entanto, se avaliarmos bem a realidade, essa complexidade se torna óbvia.
Se uma coisa fosse verdadeiramente bela e agradável, se essas qualidades de fato pertencessem a ela, nós a veríamos como desejável em todos os momentos e lugares. Mas existe algo neste mundo que seja considerado belo por todos? Como diz o verso budista: “Para aquele que ama, a bela mulher objeto de desejo; para o eremita, é uma tentação; para o lobo, uma boa refeição.” Da mesma forma, se um objeto fosse intrinsecamente repulsivo, todos teriam uma boa razão para evitá-lo. Mas tudo muda se reconhecermos que estamos apenas atribuindo essas qualidades às coisas e pessoas. Não há, em um belo objeto, nenhuma qualidade intrínseca que o torne benéfico para a mente, assim como também não há nada em um objeto feio que, por causa dessa qualidade, cause dano a ela.
Do mesmo modo, uma pessoa que hoje percebemos como inimiga com toda a certeza é, para outro, objeto de afeição, e poderemos um dia criar laços de amizade com esse mesmíssimo indivíduo. Reagimos como se as características fossem inseparáveis da pessoa e do objeto sobre os quais as depositamos. Assim, distanciamo-nos da realidade e somos arrastados pelo mecanismo de atração e repulsão, mantido em constante movimento por nossas projeções mentais. Nossos conceitos congelam as coisas em entidades artificiais, fazendo-nos perder nossa liberdade interior, do mesmo modo que a água perde sua fluidez quando se torna gelo.
terça-feira, 4 de junho de 2019
LIBERALISMO E DESTINO MANIFESTO
1. INTRODUÇÃO
Desde o mito bíblico da Gênese,
resta claro que a ânsia do homem no mundo prende-se à vontade de ser Deus e
tudo dominar. Nietzsche expede o atestado de óbito de Deus e transpõe a sua
imanência para o seu Super-homem (übermensch). Neste, o homem se faz Deus para criar e
dominar. As pieguices religiosas, com as suas crendices, são obras de
gente fraca e desprovida da vontade de poder. É o rebanho dominado pelo
Super-homem nietzscheriano.
A busca da dominação se faz às
escondidas e não raro vem camuflada em “nobres ideais” que irão libertar o
homem e conduzi-lo à mais ampla felicidade, sob o amparo do forte e
libertador. A ideologia que legitima tudo isso é o individualismo, ou a
sua denominação mais suave, o liberalismo. Trata-se de um sofisma que traz
embutido o rótulo de liberdade, tornando-o mais palatável.
A doutrina do liberalismo é uma
das mais antigas e já ocupou espaço nas maiores mentes do gênero humano. A
Revolução Francesa se fez sob a égide da liberdade. Discursava a elite burguesa
propugnando a liberdade dos servos da gleba contra as elites aristocrática e
eclesiástica. No entanto, o que procurava era tomar o lugar dessa nobreza e se
apossar dos seus privilégios. O manto que ocultava seus propósitos era a
doutrina liberal. Diz o mestre Paulo Freire no seu clássico A Pedagogia do Oprimido: o oprimido
introjeta a figura do opressor e o que deseja é derrubá-lo para tomar o seu
lugar e também oprimir. Era este o objetivo colimado pela
burguesia, que conduziu o movimento revolucionário.
2. A
REVOLUÇÃO FRANCESA
A burguesia, enriquecida no
exercício da mercancia e da usura, se via alijada das benesses do poder,
fustigada pela ira divina encarnada no clero, que condenava seu enriquecimento
construído ao arrepio do evangelho. Os servos, libertos da vassalagem da gleba e
sem saber como seria o seu amanhã, festejavam a prisão do seu senhor, agora à
mercê dos revolucionários.
Destarte, a Revolução Francesa,
vista sob este viés, explica a razão porque o Estado não faliu e caiu em
desgraça sem o comando da nobreza. Paretto e Mosca expõem seus temores de que o
Estado, nas mãos dessa gente inculta e desprovida de capacidade administrativa,
incapaz de comandar, caísse em desgraça, sucumbindo nessa nova ordem. A Teoria
das Elites, criada por eles, é um libelo contra a Revolução Francesa que
expungia do comando a nobreza e o clero, levando o Estado a uma situação de
perigo, em mãos inábeis para a condução dos negócios públicos.
Todavia, tal fato não se deu e a
explicação para isso está na verdade que vinha oculta no comando revolucionário.
Aclamada como uma revolução desse povo, oprimido pela servidão imposta pelo
regime feudal, era conduzida pela burguesia enriquecida e que, agora
vencedora, seria o novo senhor dessa massa que festejava essa hipotética
liberdade. Logo mais eles veriam o contrato de vassalagem ser sucedido pelo
contrato de trabalho, tão cáustico quanto o anterior.
A burguesia condutora da
revolução era composta por uma elite econômica, embora não fosse nobre. Mas,
era tão ou mais culta do que a nobreza aristocrática. Portanto, a condução do
país não ficou a cargo do servo da gleba, ficou nas mãos de advogados, médicos,
engenheiros e financistas.
Rousseau afirma que "o homem
só aliena sua liberdade pela força ou pelo contrato (O contrato social). Em
sustentação ao que é dito pelo filósofo, Joaquim Pimenta escreve: "O nível
de capacidade legal de agir, de contratar, em que se defrontavam operário e
patrão, ambos iguais porque ambos soberanos no seu direito, cedia e se tornava
em mera ficção com a evidente inferioridade econômica do primeiro em face do
segundo. Se a categoria de cidadão colocava os dois no plano de igualdade, não
impedia essa igualdade, como alguém observou, que o cidadão - proletário,
politicamente soberano no Estado, acabasse, economicamente, escravo na fábrica." in “Sociologia Econômica e
Jurídica do Trabalho”. Aqui nos deparamos com a essência do liberalismo.
Também detectamos porque a classe
endinheirada, notadamente, os argentários do mundo das finanças, tem um apego
religioso ao dogma liberal. Eles pugnam pela liberdade de contratar que lhes
confere o direito de subjugar e espoliar o mais fraco. Contando, ainda, com o
braço forte do Estado para garantir esse direito a
manu militari, se
preciso for.
Vencidos os percalços do período
pós-revolucionário, Napoleão Bonaparte assume o comando do governo francês e,
após a sua nomeação como Cônsul, assume cinco anos depois como Imperador da
França. Em 1804, ele festeja a promulgação do seu Código Civil (Code Napoleón),
onde restava consagrada a doutrina liberal. O liberalismo no plano jurídico tem
por base o princípio do pacta sunt servanda (os contratos são para ser
cumpridos). Desta forma, uma vez que as partes, legítimas e capazes, pactuaram
a avença, esta tem que ser cumprida tal como foi pactuado. Não importa o teor
dessas cláusulas, uma vez assinado, o contrato faz lei entre as partes e
nenhuma justificativa tem força suficiente para obstar o seu integral
cumprimento.
O governo de Napoleão passou, a
França adotou o Presidencialismo parlamentar e adentrou na Primeira Guerra
Mundial (1914-1918). Com o fim da Primeira Guerra mundial e uma Europa
devastada, incluindo a França, o governo francês percebeu que as regras
impostas pelo liberalismo insculpidas no Código de Napoleão, inviabilizava a
recuperação da economia e reduziria todos os produtores agrícolas à miséria, e
o que via pela frente era a fome. Sendo assim, o governo francês foi buscar nas
lições de Santo Tomás de Aquino a regra rebus sic stantibus e, fundado nela, editou a
Lei Faillot (MÁRIO, Caio da Silva Pereira) possibilitando a revisão destes
contratos e até mesmo a sua total nulidade. Estas regras vieram até o Brasil,
onde foram adotadas pela doutrina jurídica, ficando conhecida como a Teoria da
Imprevisão.
Numa outra vertente, menos
feliz, os EEUU enfrentam em 1929 uma terrível crise econômica
produzida por uma euforia exacerbada que culminou com uma maciça desvalorização
das ações nas bolsas de valores, provocando uma falência generalizada em
pessoas físicas e jurídicas. Este episódio ficou conhecido como o crack da bolsa de Nova
York. É ilustrativo o romance de John Steinbeck, “As vinhas da ira”, que
relata a tragédia dos proprietários de terra que as perdem para os bancos
como pagamento de dívidas. Diferente do governo francês, os EEUU não abrem mão
do dogma liberal e preferem assistir à desgraça dos endividados que não
contribuíram para a crise, do que criar um precedente contrário à doutrina
capitalista liberal.
3. DESTINO
MANIFESTO
A Doutrina do Destino Manifesto,
surgida no nascedouro da nação americana com fincas nas lições de Thomas Payne,
apregoa a ideia de que aos EUA estava destinado ser o farol do mundo e a
conduzir o planeta. Enfim, era a versão bíblica do “povo escolhido” que
caracterizava os judeus no antigo testamento, transposta para o continente
americano, visto agora como uma nova Canaã. Por mais bisonha que pareça, esta
doutrina sempre foi levada a sério por eles e está assente como um dogma no
Departamento de Estado desde a sua criação. Dessa forma tem início a construção
do império e o primeiro ponto destacado é no comércio internacional, onde ficou
assente que eles não celebrariam nenhum contrato em outra moeda que não fosse a
dele. É fácil deduzir que isto foi fundamental para transformar o dólar em
moeda internacional, carregando ipso facto a língua inglesa já
bastante difundida pelo império britânico.
Respaldado por essa doutrina,
eles dão início ao expansionismo americano começando pelas terras virgens do
oeste, promovendo a extinção dos indígenas para ocupar suas terras; em outra
frente, compra as possessões francesa e holandesa insertas em seu território,
culminando com a compra do Alasca na vizinhança do polo Ártico, feita à Rússia
em 1867. Dentro dessa mesma linha expansionista, eles anexaram parte
substancial do México, aumentando a sua fronteira ao sul.
Acreditando firmemente nos
cânones do Destino Manifesto, eles alavancaram o mito de herói e xerife do
mundo, transformando assassinos de índios como Búfalo Bill e Custer em heróis,
quando a história registra coisas bem diferentes onde tais heróis são vistos
como gente de má fama e moral duvidosa. Búfalo Bill era alcoólatra e segundo
consta o verdadeiro matador de índios era um capitão da cavalaria; sobre Custer
paira a acusação de ter levado o seu regimento a uma armadilha durante a guerra
civil, de onde ele foi o único que escapou. Os índios armados de arco e flecha
que tinham a guerra como um ritual, eram o inimigo ideal para levá-lo à glória
e alcandorá-lo à condição de herói. As revistas em quadrinhos e o cinema foram o
motor da difusão do mito pelo mundo. Despiciendo dizer que estas revistas e o
cinema sempre foram a grande arma da propaganda americana.
4. EXPANSIONISMO
AMERICANO
Os EUA sempre extraíram grandes
lucros dos conflitos armados. Na Primeira Guerra Mundial (1914/1918), a Europa
se endividava com eles, enquanto se mantinham distantes alegando neutralidade.
Após a guerra ter levado os países envolvidos à exaustão, eles ingressam no
conflito em 1917, de onde saem vitoriosos.
Após a Primeira Guerra Mundial,
as indústrias americanas contabilizaram os altos lucros gerados pelo
endividamento europeu e uma exportação maciça de bens para uma Europa em ruínas
com um mercado inteiramente dependente do mercado externo. Isso gerou uma
superprodução americana com as ações em franca ascensão nas Bolsas. No entanto,
a Europa inicia a sua recuperação e vai retomando o comando do seu mercado,
provocando a estagnação dos produtos americanos. Este fato gerou o
desaceleramento da indústria americana com a consequente baixa das suas ações.
A euforia cessou e iniciou a corrida nas bolsas para a venda de ações,
provocando a sua queda vertiginosa.
Na Segunda Guerra não foi muito
diferente e enquanto Hitler bombardeava seus aliados, eles se mantinham neutros
porque o senado não aprovava o seu ingresso. Essa decisão era muito importante
para a indústria americana que trabalhava a todo vapor para abastecer uma
Europa que se endividava por causa da guerra.
Churchill gastava sua retórica
para controlar a revolta dos britânicos, enquanto os EUA lhes passavam sucata
da primeira guerra mundial em troca das possessões britânicas espalhadas pelo
mundo. Hoje elas são bases militares americanas.
Os japoneses vieram tirá-los da
neutralidade quando atacaram a base naval de Pearl Harbor no pacífico, em 7 de
dezembro de 1941, forçando-os a ingressarem no conflito. Mas, ainda com a
guerra em ebulição, os EEUU convocam a Conferência de Bretton-Woods, num
momento extremamente inadequado para o restante do mundo, mas que lhe era
altamente favorável para impor condições que não seriam aceitáveis em tempos
normais. Uma delas previa a retirada do lastro-ouro da moeda americana. O
general De Gaulle se insurgiu contra esta medida, uma vez que ela pretendia na
prática tornar a moeda americana ainda mais privilegiada em detrimento das
demais. Por outro lado, a medida fazia com que os Bancos Centrais dos demais
países bancassem a moeda americana, sustentando o seu déficit, forçando-os a
manter divisas em dólar. A moeda americana iria se transformar em lastro,
sucedendo o ouro. Isto aconteceu de fato, após o Presidente Nixon declarar
unilateralmente que os EEUU não mais converteria a sua moeda em ouro.
Na Convenção de Bretton-Woods
foram criados o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional – FMI. Também
foi criado o GATT, com a finalidade de preparar o terreno para a Organização
Mundial do Comércio – OMC, implantada oficialmente em 1º de janeiro de 1995.
Desta forma, os EUA vinham
consagrar no plano internacional a doutrina do laissez-faire, bem antes do previsto pelo general
Ulisses Grant em 1865, quando afirmou: “Durante séculos a Inglaterra confiou na
proteção, levando-a até seus extremos e obtendo disso resultados satisfatórios.
Não resta dúvida que deve sua força presente a este sistema. Depois de dois
séculos, a Inglaterra achou conveniente adotar o comércio livre, porque pensa
que a proteção não pode oferecer mais nada. Muito bem, então, cavalheiros, meu
conhecimento de meu país me conduz a crer que dentro de duzentos anos, quando a
América tiver obtido da proteção tudo que a proteção pode oferecer, adotará
também o livre-comércio”. GALEANO Eduardo in “As Veias Abertas da
América Latina”.
A OMC tem por finalidade quebrar
as barreiras alfandegárias, possibilitando o livre comércio em todo o mundo.
Também resta incluso, a impossibilidade da criação de artifícios tributários
que visem inibir a entrada do produto estrangeiro, ou a desoneração do produto
nacional lhe possibilitando oferecer melhores preços no comércio externo. Estas
medidas ganharam espaço no cenário mundial sobre o nome genérico de
Globalização e, para um público mais restrito, é o chamado neo-liberalismo que,
rigorosamente falando, nada tem de novo.
No entanto, estas medidas têm por
embrião o antigo livre-cambismo de origem britânica, onde eles buscavam
legitimar suas intervenções militares pelo mundo, tendo, por exemplo, a invasão
da China na chamada Guerra do Ópio, quando impuseram a manutenção deste
comércio em terras do Império Chinês. É dessa época a ocupação de Hong-Kong que
vigorou até o ano de 1997, quando foi devolvido à China.
Razões semelhantes marcaram a
Guerra Civil americana, quando o norte industrializado e necessitando ampliar o
mercado consumidor, viu na emancipação dos escravos o caminho para esta
ampliação. O sul desguarnecido de indústrias e dependente da produção agrícola
e, com ela, da mão de obra escrava, não viu com os mesmos olhos a medida
proposta pelo irmão do norte. Esse desentendimento mercadológico, travestido
numa causa humanitária, conduziu a nação a uma guerra de grandes proporções. E
a prova maior de tudo isto está no fato de que até hoje a nação americana é
marcada pelo racismo, malgrado o amparo legal advindo das leis civis que
marcaram as lutas dos anos 60.
Após a Segunda Guerra Mundial, os
EEUU e seus aliados tinham pela frente outro poderoso adversário: o comunismo.
Este sistema fez a sua estreia inaugural em 1917, quando foi implantado na
Rússia. Esta, que figurou como aliada contra o nazismo, saiu fortalecida da
guerra, incorporando os países por ela libertos ao Bloco Comunista. Para conter
uma debandada de importantes países para este Bloco, os EEUU adotaram a
estratégia de ajudá-los a superar as dificuldades do pós-guerra e, também, para
usá-los como propaganda contra o comunismo.
O Japão foi esmagado por duas
bombas atômicas, arma com que os EEUU pretendiam fazer a Rússia e os demais
adversários se dobrarem aos seus pés, utilizando o Japão como cobaia do seu
novo poderio. A alegria americana durou pouco e em agosto de 1949, a Rússia
anunciava ao mundo e, em especial, aos americanos, que haviam
testado com sucesso a sua bomba atômica. A pretensão americana virava um
pesadelo.
No entanto, o Japão era muito
importante para que corressem o risco de vê-lo nos braços dos comunistas.
Diante disso, os EEUU lhes forneceram dinheiro, mercado e tecnologia,
visando propiciar o seu desenvolvimento e integração na comunidade capitalista
ocidental. Pela mesma forma trataram a Coréia do Sul, Taiwan e Alemanha
Democrática.
Estes países se
desenvolveram bem mais do que o esperado pelos americanos e, hoje, em
tempos de globalização com a qual os EEUU esperavam dominar o mundo, estes
países turvam o seu caminho e representam a maior concorrência que eles
têm, depois da China. A China é um gigante que brotou do comunismo e ameaça
a liderança mundial dos EEUU, colocando em xeque a sua doutrina do Destino
Manifesto.
5. CONCLUSÃO
O liberalismo, ao longo da
sua história, sempre foi absorvido como a expressão maior da liberdade do
homem. No entanto, ao aprofundar no tema, verificamos que, a pretexto de
liberdade, o liberalismo é a arma dos fortes contra os mais fracos
economicamente.
É possível verificar que o
livre-cambismo do império britânico era o sofisma que legitimava a sua
vampiragem contra países mais fracos belicamente. A modalidade insculpida no
Código Napoleão levaria a França a um caos como o produzido pelo crack da bolsa nos EEUU nos anos
30. Os EEUU são os fabricantes do dólar e, por isso mesmo, muito mais fortes. Dessa forma, eles puderam superar as suas
dificuldades adotando o new deal de inspiração keynesiana.
No entanto, a França, sem a couraça do dólar, se veria indefesa contra o
aparato legal herdado de Napoleão. Portanto, agiram corretamente em promover a
alteração necessária em sua legislação.
A Doutrina do Destino Manifesto
legitima o expansionismo americano e as suas intervenções militares ao longo da
história. Ela foi produzida sob a inspiração profética de Thomas Payne, que
anteviu o poderio americano que os fatos corroboram ao longo do tempo. No
entanto, a sua construção maior estaria consolidada com os acordos de
Bretton-Woods, de onde emanam a OMC e a Globalização. O que Payne não previu, e
isso pode derrubar o arcabouço previsto na doutrina, foi o surgimento de uma
China, poderosa econômica e belicamente, figurando no rol das superpotências.
Em outra vertente, os países amparados pelos EEUU, desde o fim da segunda
guerra mundial, aproveitaram essa ajuda e hoje são as potências econômicas que
minam o projeto previsto em Bretton-Woods.
Em que pesem todos estes transtornos,
a nação americana tem se mostrado à altura dos desafios que atravessaram o seu
caminho ao longo de toda a sua existência. Independentemente da simpatia ou
antipatia que ela possa despertar, é um fato palpável que o ideal da Doutrina
do Destino Manifesto tem obtido a sua comprovação até os tempos atuais. O tripé
da escola americana se assenta no capitalismo, liberalismo e o seu destino
manifesto.
Antônio Amâncio de Oliveira
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