terça-feira, 5 de julho de 2022

 

A Espiritualidade na Maçonaria

Ritual de Iniciação:

Pergunta o  Ven.: M.:

- Senhor ... nos extremos lances de vossa vida, em quem depositais a vossa confiança?

O Candidato responde: – Em Deus!

Acrescenta então, o Ven.: M.: Pois que confiais em Deus, levantai-vos e segui, com passo seguro, o vosso guia e nada receeis.

 

O Candidato estava com os olhos vendados, demonstrando o seu alheamento das trevas do materialismo que lá fora ficaram. Ele agora caminha em direção a verdadeira Luz. Este guia que ele segue na ritualística, destina-se a protege-lo enquanto caminha, ainda, nas trevas da matéria. Mas, no plano etéreo ele está protegido pelo seu Guia Espiritual. Este guia o ajudará a progredir na Ordem, levantando Templos à Virtude e Cavando Masmorras ao Vício. É de supor que aqui num Templo Maçônico, este guia Espiritual que lhe será destinado, seja de um irmão na Espiritualidade com gabarito suficiente para orientá-lo e velar pelo seu progresso espiritual dentro da Ordem.

 

Caso o Candidato tenha sido devidamente instruído e todos os presentes estejam imbuídos do verdadeiro significado da Iniciação, crendo efetivamente no seu papel transcendente, a Iniciação será um marco de extrema importância na vida do Candidato. Este, que agora ornamenta a Coluna do Norte, terá doravante a certeza de que houve uma ruptura em sua vida. Ele saberá que o homem profano, materialista e, via de regra, refratário às coisas sagradas que transcende o materialismo vulgar, morreu ao adentrar no Templo. Deste Templo saiu um novo homem, espiritualizado e ciente do seu papel na sociedade, compenetrado da sua responsabilidade para com a Pátria e para com a humanidade. Este é o iniciado – Maçom.

 

É algo que salta aos olhos de qualquer Maçom, as raízes esotéricas e espiritualistas da nossa Ordem. Por outro lado, ela se vê possuída nos tempos modernos por um materialismo rasteiro que, solapando a sua nobre tradição, lhe impregna a descrença próxima do ateísmo. Esta postura que lhe impregnaram por descuido dos verdadeiros maçons, desidrataram a árvore frondosa da sua seiva rica e poderosa. Urge que recuperemos a nossa antiga tradição e a libertemos dos braços da Hidra que a consome. Assim denuncia a pesquisadora e ocultista Isabel Cooper – Oakley, na sua obra Maçonaria e Misticismo Medieval: “Á medida que se aprofundam as pesquisas relativas à História da Maçonaria, parece cada vez mais provável que o movimento maçônico, para nos expressarmos de modo geral ... a base desse movimento era e é desconhecida de todos aqueles que definitivamente não reconhecem uma direção espiritual ... mas para o estudante de Teosofia que também o é de Maçonaria, torna-se sempre mais evidente que os movimentos comumente chamados maçônicos têm suas raízes naquele vero misticismo ... daquela Hierarquia espiritual que dirige a evolução do mundo; e que ... existe, ... um ensinamento místico na Maçonaria àqueles que olham para além da superfície”. Poderíamos dizer: para o além-do-homem, como diz Nietszche.

 

Destarte, cumpre adiantar que não retiramos coisas da imaginação, tão-somente, mas pesquisadores mais argutos já detectaram a existência da via espiritual dentro da Maçonaria, a via da direita que nos conduz à verdadeira Luz. Cumpre a nós descobrir o Véu de Ísis e resgatar o lado mais puro e nobre da nossa Ordem. Em algum lugar do passado deixamos nos envolver pelas intrigas políticas do mundo material e, com isso, deixamos esta via da espiritualidade e nos entregamos ao materialismo tosco, com as suas mazelas e seus erros.     

 

Dirão alguns, que a nós cumpre velar pelos valores democráticos e lutar contra o obscurantismo que escraviza a humanidade. Este é um posicionamento tipicamente materialista, herético e ateu. Na nossa pretensa capacidade de mudar o mundo usurpamos o poder daquele que nos governa e o dirige:  O Grande Arquiteto do Universo!

 

Disse um dos nossos irmãos do passado “que cada povo tem o governo que merece”. Estes dizeres do irmão Joseph de Maistre, nada tem a ver com a matéria. Ele está dizendo que o merecimento que nos dá o direito de termos governos bons que nos proporcionam uma vida feliz ou o mais próximo disso. São as nossas vitórias sobre nós mesmos, com o desbastar da pedra bruta. Este desbastar que começa em nós e nos impulsiona em direção ao próximo que está em situação de sofrimento, para ajudá-lo a soerguer-se, amparando-o na jornada, é o que recebe os aplausos das hostes celestiais. E ainda que o resto do mundo permaneça debaixo de tempestades e trovoadas, nós estaremos protegidos pela Espiritualidade que quitou os nossos débitos com o desbastar da nossa pedra bruta.

Tenhamos em mente que a matéria é, como dizem os Hindus, maya, a ilusão. O trabalho do iniciado começa pelo desapegar da matéria e isso envolve o acreditar que ela tenha algum poder. O poder dela cessa quando surge o Poder do GADU. Ele impõe a Ordo ab chao ou a ordem no caos. E se preferirem a outra vertente, podemos dizer que no caos ou no mundo da matéria tem uma ordem que a governa. Essa ordem que governa o mundo da forma, é feita sob o império da tirania, da ânsia pela dominação. Pelas punições e vinganças que se eternizam enquanto durar a persistência no erro. Pois, como disse Santo Agostinho, “Criaste-nos para vós Senhor, e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Vós”. Esse retorno do homem à senda da Luz, é o desforço expendido pelo irmão Martinez de Pascqually, na sua obra Tratado da Reintegração dos Seres. Destarte, a boa índole do iniciado o tornará receptivo às instruções do seu Guia Espiritual, que estará sempre lhe passando instruções e corrigindo-o nas suas falhas para que ele doravante não se desvie do caminho da verdadeira Luz.

No Eclesiastes Cap. 12

Antes que se quebre o cordão de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço;

E o a volte à terra, como o era, e o bespírito volte a Deus, que o cdeu.

Vaidade ... vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade.

 

Antônio Amâncio de Oliveira.’.