A Espiritualidade na Maçonaria
Ritual de Iniciação:
Pergunta o Ven.:
M.:
- Senhor ... nos extremos lances de
vossa vida, em quem depositais a vossa confiança?
O Candidato responde: – Em Deus!
Acrescenta então, o Ven.: M.: Pois que confiais em Deus, levantai-vos e segui, com passo
seguro, o vosso guia e nada receeis.
O Candidato estava com
os olhos vendados, demonstrando o seu alheamento das trevas do materialismo que
lá fora ficaram. Ele agora caminha em direção a verdadeira Luz. Este guia que
ele segue na ritualística, destina-se a protege-lo enquanto caminha, ainda, nas
trevas da matéria. Mas, no plano etéreo ele está protegido pelo seu Guia
Espiritual. Este guia o ajudará a progredir na Ordem, levantando Templos à
Virtude e Cavando Masmorras ao Vício. É de supor que aqui num Templo Maçônico,
este guia Espiritual que lhe será destinado, seja de um irmão na
Espiritualidade com gabarito suficiente para orientá-lo e velar pelo seu
progresso espiritual dentro da Ordem.
Caso o Candidato tenha
sido devidamente instruído e todos os presentes estejam imbuídos do verdadeiro
significado da Iniciação, crendo efetivamente no seu papel transcendente, a
Iniciação será um marco de extrema importância na vida do Candidato. Este, que
agora ornamenta a Coluna do Norte, terá doravante a certeza de que houve uma
ruptura em sua vida. Ele saberá que o homem profano, materialista e, via de
regra, refratário às coisas sagradas que transcende o materialismo vulgar,
morreu ao adentrar no Templo. Deste Templo saiu um novo homem, espiritualizado
e ciente do seu papel na sociedade, compenetrado da sua responsabilidade para
com a Pátria e para com a humanidade. Este é o iniciado – Maçom.
É algo que salta aos
olhos de qualquer Maçom, as raízes esotéricas e espiritualistas da nossa Ordem.
Por outro lado, ela se vê possuída nos tempos modernos por um materialismo
rasteiro que, solapando a sua nobre tradição, lhe impregna a descrença próxima
do ateísmo. Esta postura que lhe impregnaram por descuido dos verdadeiros
maçons, desidrataram a árvore frondosa da sua seiva rica e poderosa. Urge que
recuperemos a nossa antiga tradição e a libertemos dos braços da Hidra que a
consome. Assim denuncia a pesquisadora e ocultista Isabel Cooper – Oakley,
na sua obra Maçonaria e Misticismo
Medieval: “Á medida que se aprofundam as pesquisas relativas à História da
Maçonaria, parece cada vez mais provável que o movimento maçônico, para nos
expressarmos de modo geral ... a base desse movimento era e é desconhecida de
todos aqueles que definitivamente não reconhecem uma direção espiritual ... mas
para o estudante de Teosofia que também o é de Maçonaria, torna-se sempre mais
evidente que os movimentos comumente chamados maçônicos têm suas raízes naquele
vero misticismo ... daquela Hierarquia espiritual que dirige a evolução do
mundo; e que ... existe, ... um ensinamento místico na Maçonaria àqueles que
olham para além da superfície”. Poderíamos dizer: para o além-do-homem, como
diz Nietszche.
Destarte, cumpre
adiantar que não retiramos coisas da imaginação, tão-somente, mas pesquisadores
mais argutos já detectaram a existência da via espiritual dentro da Maçonaria,
a via da direita que nos conduz à verdadeira Luz. Cumpre a nós descobrir o Véu
de Ísis e resgatar o lado mais puro e nobre da nossa Ordem. Em algum lugar do
passado deixamos nos envolver pelas intrigas políticas do mundo material e, com
isso, deixamos esta via da espiritualidade e nos entregamos ao materialismo
tosco, com as suas mazelas e seus erros.
Dirão alguns, que a
nós cumpre velar pelos valores democráticos e lutar contra o obscurantismo que
escraviza a humanidade. Este é um posicionamento tipicamente materialista,
herético e ateu. Na nossa pretensa capacidade de mudar o mundo usurpamos o
poder daquele que nos governa e o dirige: O Grande Arquiteto do Universo!
Disse um dos nossos
irmãos do passado “que cada povo tem o governo que merece”. Estes dizeres do
irmão Joseph de Maistre, nada tem a
ver com a matéria. Ele está dizendo que o merecimento que nos dá o direito de
termos governos bons que nos proporcionam uma vida feliz ou o mais próximo disso.
São as nossas vitórias sobre nós mesmos, com o desbastar da pedra bruta. Este
desbastar que começa em nós e nos impulsiona em direção ao próximo que está em
situação de sofrimento, para ajudá-lo a soerguer-se, amparando-o na jornada, é
o que recebe os aplausos das hostes celestiais. E ainda que o resto do mundo
permaneça debaixo de tempestades e trovoadas, nós estaremos protegidos pela
Espiritualidade que quitou os nossos débitos com o desbastar da nossa pedra
bruta.
Tenhamos em mente que
a matéria é, como dizem os Hindus, maya, a
ilusão. O trabalho do iniciado começa pelo desapegar da matéria e isso envolve
o acreditar que ela tenha algum poder. O poder dela cessa quando surge o Poder
do GADU. Ele impõe a Ordo ab chao ou
a ordem no caos. E se preferirem a outra vertente, podemos dizer que no caos ou
no mundo da matéria tem uma ordem que a governa. Essa ordem que governa o mundo
da forma, é feita sob o império da tirania, da ânsia pela dominação. Pelas
punições e vinganças que se eternizam enquanto durar a persistência no erro.
Pois, como disse Santo Agostinho, “Criaste-nos
para vós Senhor, e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em Vós”.
Esse retorno do homem à senda da Luz, é o desforço expendido pelo irmão Martinez
de Pascqually, na sua obra Tratado
da Reintegração dos Seres. Destarte, a boa índole do iniciado o tornará
receptivo às instruções do seu Guia Espiritual, que estará sempre lhe passando
instruções e corrigindo-o nas suas falhas para que ele doravante não se desvie
do caminho da verdadeira Luz.
No Eclesiastes Cap. 12
6 Antes que se quebre o cordão de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço;
7 E o apó volte à terra, como o era, e o bespírito volte a Deus, que o cdeu.
8 Vaidade ... vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade.
Antônio Amâncio de
Oliveira.’.