Por Esteban Israel
SÃO PAULO, 30 Jan (Reuters) - O
conglomerado brasileiro Odebrecht prevê produzir açúcar em Cuba,
informou nesta segunda-feira a empresa, no que será o primeiro
investimento de capital estrangeiro no setor até o momento fechado na
ilha de governo comunista.
A Companhia de Obras em
Infraestrutura (COI), subsidiária da Odebrecht em Cuba, deverá assinar
com o estatal Grupo de Administração Empresarial do Açúcar (Azcuba) um
contrato de administração produtiva da usina "5 de Septiembre", na
província de Cienfuegos.
"O acordo, com período de dez
anos, tem como objetivo incrementar a produção de açúcar e capacidade
de moagem e ajuda na revitalização" do setor, disse a Odebrecht em
email enviado à Reuters por meio da assessoria de imprensa.
O projeto abriria ao capital
estrangeiro um setor sem recursos do país comunista, cuja produção caiu
fortemente, de 8 milhões de toneladas na década de 1970 a apenas 1,2
milhão de toneladas na última safra.
A título de comparação, a atual
safra do centro-sul do Brasil, que está na etapa final, registra uma
moagem de 492 milhões de toneladas de cana.
A entrada da Odebrecht na
modernização da decadente indústria açucareira cubana ampliaria o papel
da empresa na modernização da infraestrutura da ilha. O conglomerado,
por meio do seu braço para o setor de bioenergia, é um dos principais
produtores de etanol do Brasil, com uma capacidade prevista de
processamento de 40 milhões de toneladas de cana em 2012.
A Odebrecht não forneceu mais detalhes sobre o projeto.
Mas um executivo brasileiro do
setor disse à Reuters que o contrato poderia ser assinado esta semana
durante visita da presidente Dilma Rousseff à ilha.
Cuba permitiu há mais de uma
década a entrada do capital estrangeiro para o desenvolvimento de
indústrias estratégicas como o turismo e, recentemente, a do petróleo,
na qual um consórcio da Repsol-YPF começará a explorar este ano em
águas cubanas.
Empresas privadas de outros
países levaram anos negociando a entrada no setor de açúcar de Cuba,
nacionalizado pouco depois da revolução liderada por Fidel Castro, em
1959.
A abertura ocorre depois de uma
profunda reestruturação na indústria ao final de 2011, como parte dos
esforços do presidente Raúl Castro de modernizar a economia socialista.
TAMBÉM ETANOL?
Segundo um executivo da
indústria brasileira de açúcar com conhecimento do projeto, a Odebrecht
também produzirá etanol e energia a partir de biomassa em Cuba.
"Cuba está se abrindo à
possibilidade de produzir etanol acompanhado de geração de energia, e a
Odebrecht vai montar ali uma destilaria", disse o empresário.
"É um projeto similar ao que a
Odebrecht está desenvolvendo em Angola", acrescentou a fonte, em alusão
à uma joint venture de 258 milhões de dólares com a petroleira angolana
Sonagol para produzir 260.000 toneladas de açúcar, 30 milhões de litros
de etanol e 45 megawatts de energia elétrica.
A produção de etanol em grande
escala em Cuba, no entanto, vai contra o que já disse o ex-presidente
Fidel Castro, um feroz crítico da agroenergia, por sua concorrência com
a produção de alimentos.
Alguns especialistas acreditam
que Cuba poderá ter ressuscitada a indústria de açúcar e poderia se
converter no terceiro maior produtor do biocombustível do mundo, atrás
de Estados Unidos e Brasil.
Ron Soligo, um economista da
Universidade de Rice, em Houston, que já estudou a indústria de cana de
Cuba, estima que a ilha poderia produzir 7,5 bilhões de litros de
etanol ao ano.
"Mas desenvolver o setor de etanol em Cuba levará tempo, pois grande parte da terra foi abandonada por anos", afirmou.
"Devido à natureza centralizada da economia cubana, uma grande empresa brasileira pode ser o sócio adequado", acrescentou.
O Brasil, segundo produtor de
etanol do mundo, tem oferecido assistência técnica para Cuba para a
produção de biocombustível a partir da cana.
"O assunto está na mesa. Há
investimentos previstos em açúcar e existe a possibilidade de que em
algum momento isso possa ser ampliado para a indústria de etanol",
afirmou uma fonte do Itamaraty.
A construtora brasileira executa
obras avaliadas em 800 milhões de dólares para modernizar o porto de
contêineres de Mariel, a oeste de Havana. O projeto, financiado em
grande parte pelo BNDES, é visto como uma plataforma comercial chave se
os Estados Unidos levantarem o embargo à ilha.
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