sexta-feira, 24 de agosto de 2012

SWAN SERENADE


O BALÉ DOS CISNES

SWAN SERENADE

English:http://ngm.nationalgeographic.com/2010/12/whooper-swans/newman-text
Com envergadura de 2,5 metros, o cisne-bravo é uma espécie de jumbo no esquadrão das aves aquáticas. Angélico pelos ares, flamejante em exibição de triunfo, imponente em seu repouso confortável, ele é a própria elegância encarnada - uma ave que inspira voos da fantasia.
Já no sibilar suave da sílaba inicial do nome - "cisne" - se manifesta sua graciosidade. Afinal, Peter Ilich Tchaikovsky não compôs nenhuma peça intitulada "A Lagoa dos Patos". O cisne-bravo, tal como seus primos, o cisne-pequeno e o cisne-trombeteiro, pertence a uma linhagem marcada pela elegância que também conta com os mudos cisne-de-bewick, cisne-negro e cisne-de-pescoço-preto. Descrito pela primeira vez em 1758, o Cygnus cygnus pode ser considerado o cisne dos cisnes - o arquétipo de todos eles. Também é uma ave de superlativos. Com população de 180 mil indivíduos, o cisne-bravo, embora vulnerável à perda de hábitat, supera todos os outros na extensão do âmbito em que é encontrado.
Na Antiguidade, o aparecimento de um cisne deslizando sem esforço na superfície espelhada de um lago ou alçando voo de forma graciosa representava a beleza efêmera e evocava o desejo de imortalidade. Sócrates, como nos diz Platão, ouviu o canto de um cisne no dia em que morreu. As valquírias, disfarçadas de cisnes, conduziam os heróis caídos em combate até o Valhalla da mitologia nórdica. Pitágoras acreditava que a alma dos poetas se incorporava nos cisnes, um destino adequado que faz da gasta expressão "poesia em movimento" uma figura de linguagem lírica.
O cisne, segundo a poeta russa Anna Akhmatova, "paira através dos séculos" e da incessante sucessão das estações. Nas migrações de outono, com a seta prateada de um bando em formação riscando o firmamento, os cisnes evocam melancolia poética. As sombras se alongam. Os dias ficam breves.
Mais um ano que chega ao fim. Resta a reconfortante exaltação dos contos de fadas, como aquele de Hans Christian Andersen no qual o patinho feio vira um cisne - a metamorfose do ordinário em extraordinário.
Agridoces, essas belas aves. Contudo, a beleza delas oculta o tributo imposto pelo arrasto gravitacional de seu corpo volumoso e a luta cotidiana pela sobrevivência. As decolagens penosas, a agitação frenética dos pés palmados e a forte movimentação das asas até alçar voo, uma agressividade territorial contra outros cisnes e aves aquáticas que chega a ser perversa e, de vez quando, fatal, sugerem que tamanha beleza não brota com igual facilidade ou bondade.
Por Cathy Newman - Fonte: National Geographic - Edição 129.

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