Roberto SimõesPresidente do SISTEMA FAEMG
Um
tema que vem provocando acirrados debates, por sua complexidade e pelas
paixões que desperta, é o desenvolvimento sustentável da agricultura.
Expressões como desenvolvimento sustentável, agricultura sustentável,
manejo sustentável, uso sustentável e sustentabilidade são frequentes em
toda a mídia. Entretanto não tem sido tarefa fácil definir exatamente o
que se quer realmente dizer com estas expressões. Na agricultura,
especificamente, há enorme tendência de confundir desenvolvimento
sustentável como sendo aquele que atende simplesmente os requisitos
ambientais.
Ao
enforcar o tema da Rio + 20, marcada para junho, o embaixador André
Corrêa do Lago, o negociador-chefe do Brasil, afirma que “o que tem de
sair do Rio de Janeiro não é simplesmente o fortalecimento do meio
ambiente, mas o fortalecimento do desenvolvimento sustentável, do
tratamento equilibrado entre o econômico, o ambiental e o social. Não se
trata de uma conferência ambiental; é sobre desenvolvimento
sustentável”. Outros estudiosos agregam um quarto conceito: o cultural.
Num
esforço de simplificação, a Organização das Nações Unidas (ONU)
resolveu definir desenvolvimento sustentável como sendo o
“desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem
comprometer as necessidades das futuras gerações”. Mas há que lembrar
que os quatro elementos básicos – o econômico, o social, o ambiental e o
cultural – são inerentes ao processo, e são indissociáveis.
A
variável econômica é a base de todo o processo que tem de ser rentável,
lucrativo e gerador de empregos de qualidade, intrinsecamente ligado à
tecnologia, à produtividade e à inovação. Aliás, diz o velho ditado que
quem está no vermelho não pensa no verde, ou seja, não pensa em qualquer
outra coisa que não seja como sair dessa situação desagradável. Mas a
produção agrícola brasileira dispõe de um robusto elenco de tecnologias
tropicais, genuinamente nossas, desenvolvidas pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e suas correlatas, altamente eficazes:
rotação de culturas, o pousio – período de um ano que a terra passa sem
semeadura –, a fixação biológica do nitrogênio, o plantio direto e a
integração agrossilvopastoril, entre outras.
O
engenheiro-agronômo Luiz Alberto de Souza, em estudo sobre a mensuração
da sustentabilidade – outro tema de extrema complexidade – considera
que a ideia central da sustentabilidade é o uso de tecnologias adequadas
às condições do ambiente regional e local e à prevenção dos impactos
negativos, sejam eles sociais, econômicos ou ambientais. Diz ainda o
professor: “Estas tecnologias podem ser máquinas e equipamentos,
produtos químicos, variedades, cultivares, imagens de satélite e
computadores, como podem ser o resultado da aplicação dos conhecimentos
ecológicos (manejo integrado de pragas, conservação da água e do solo e
manejo da matéria orgânica)”.
Deixando
a vertente conceitual e entrando na parte prática da questão,
verifica-se que há uma enorme tarefa a ser executada e que o tempo urge.
As projeções indicam 9 bilhões de habitantes para a Terra nas próximas
duas décadas, que necessitarão de alimentos em quantidade e qualidade
adequadas. Além disso, países que ainda têm terras disponíveis, como é o
caso da Rússia e da Ucrânia, voltaram a investir pesadamente no
desenvolvimento da agricultura. Também os países africanos, com imensas
áreas virgens, começam a se apresentar como a grande e nova opção. Não
é, portanto, momento de para confrontos mesquinhos entre produtores e
outros agentes que se intitulam defensores do planeta. A hora é de alta
responsabilidade coletiva e de convergência na busca de soluções para o
grande objetivo de instaurar o verdadeiro desenvolvimento sustentável
calcado na tecnologia e no conhecimento científico.
Como
um passo inicial, é absolutamente necessário que seja votado o Código
Florestal, pelo Congresso Nacional, primeira atitude para que se inicie
um responsável processo no caminho do equacionamento de um dos pilares
do desenvolvimento sustentável, o ambiental. Muito trabalho será preciso
depois de dado este primeiro passo no aperfeiçoamento do próprio
código, quando retornar aos estados para inclusão das peculiaridades
locais e de temas ainda não tratados no Parlamento, como a conceituação
de amplo programa de irrigação, fundamental ao processo de
desenvolvimento agrícola.
A
tarefa é substantiva e o tempo é curto. É necessário, pois, que se
aplaquem os espíritos e as vaidades, para que se chegue a um ponto que
seja de interesse coletivo. Afinal, nós, homens do campo, queremos
apenas trabalhar e produzir alimentos sem sobressaltos, preservando o
ambiente, sob a luz de regras claras e ancoradas pelo Estado democrático
de direito.
http://www.faemg.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário