quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Agricultura sustentável


Roberto SimõesPresidente do SISTEMA FAEMG  

Um tema que vem provocando acirrados debates, por sua complexidade e pelas paixões que desperta, é o desenvolvimento sustentável da agricultura. Expressões como desenvolvimento sustentável, agricultura sustentável, manejo sustentável, uso sustentável e sustentabilidade são frequentes em toda a mídia. Entretanto não tem sido tarefa fácil definir exatamente o que se quer realmente dizer com estas expressões. Na agricultura, especificamente, há enorme tendência de confundir desenvolvimento sustentável como sendo aquele que atende simplesmente os requisitos ambientais.

Ao enforcar o tema da Rio + 20, marcada para junho, o embaixador André Corrêa do Lago, o negociador-chefe do Brasil, afirma que “o que tem de sair do Rio de Janeiro não é simplesmente o fortalecimento do meio ambiente, mas o fortalecimento do desenvolvimento sustentável, do tratamento equilibrado entre o econômico, o ambiental e o social. Não se trata de uma conferência ambiental; é sobre desenvolvimento sustentável”. Outros estudiosos agregam um quarto conceito: o cultural.

Num esforço de simplificação, a Organização das Nações Unidas (ONU) resolveu definir desenvolvimento sustentável como sendo o “desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer as necessidades das futuras gerações”. Mas há que lembrar que os quatro elementos básicos – o econômico, o social, o ambiental e o cultural – são inerentes ao processo, e são indissociáveis.

A variável econômica é a base de todo o processo que tem de ser rentável, lucrativo e gerador de empregos de qualidade, intrinsecamente ligado à tecnologia, à produtividade e à inovação. Aliás, diz o velho ditado que quem está no vermelho não pensa no verde, ou seja, não pensa em qualquer outra coisa que não seja como sair dessa situação desagradável. Mas a produção agrícola brasileira dispõe de um robusto elenco de tecnologias tropicais, genuinamente nossas, desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e suas correlatas, altamente eficazes: rotação de culturas, o pousio – período de um ano que a terra passa sem semeadura –, a fixação biológica do nitrogênio, o plantio direto e a integração agrossilvopastoril, entre outras.

O engenheiro-agronômo Luiz Alberto de Souza, em estudo sobre a mensuração da sustentabilidade – outro tema de extrema complexidade – considera que a ideia central da sustentabilidade é o uso de tecnologias adequadas às condições do ambiente regional e local e à prevenção dos impactos negativos, sejam eles sociais, econômicos ou ambientais. Diz ainda o professor: “Estas tecnologias podem ser máquinas e equipamentos, produtos químicos, variedades, cultivares, imagens de satélite e computadores, como podem ser o resultado da aplicação dos conhecimentos ecológicos (manejo integrado de pragas, conservação da água e do solo e manejo da matéria orgânica)”.

Deixando a vertente conceitual e entrando na parte prática da questão, verifica-se que há uma enorme tarefa a ser executada e que o tempo urge. As projeções indicam 9 bilhões de habitantes para a Terra nas próximas duas décadas, que necessitarão de alimentos em quantidade e qualidade adequadas. Além disso, países que ainda têm terras disponíveis, como é o caso da Rússia e da Ucrânia, voltaram a investir pesadamente no desenvolvimento da agricultura. Também os países africanos, com imensas áreas virgens, começam a se apresentar como a grande e nova opção. Não é, portanto, momento de para confrontos mesquinhos entre produtores e outros agentes que se intitulam defensores do planeta. A hora é de alta responsabilidade coletiva e de convergência na busca de soluções para o grande objetivo de instaurar o verdadeiro desenvolvimento sustentável calcado na tecnologia e no conhecimento científico.

Como um passo inicial, é absolutamente necessário que seja votado o Código Florestal, pelo Congresso Nacional, primeira atitude para que se inicie um responsável processo no caminho do equacionamento de um dos pilares do desenvolvimento sustentável, o ambiental. Muito trabalho será preciso depois de dado este primeiro passo no aperfeiçoamento do próprio código, quando retornar aos estados para inclusão das peculiaridades locais e de temas ainda não tratados no Parlamento, como a conceituação de amplo programa de irrigação, fundamental ao processo de desenvolvimento agrícola.

A tarefa é substantiva e o tempo é curto. É necessário, pois, que se aplaquem os espíritos e as vaidades, para que se chegue a um ponto que seja de interesse coletivo. Afinal, nós, homens do campo, queremos apenas trabalhar e produzir alimentos sem sobressaltos, preservando o ambiente, sob a luz de regras claras e ancoradas pelo Estado democrático de direito.
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