
02 de agosto de 2012 | 3h 12
Luis Fernando Verissimo - O Estado de S.Paulo
Imagino que a primeira decisão de quem organiza uma festa como a da inauguração da Olimpíada, ou de evento similar como uma Copa do Mundo, deva ser entre celebrar o país que faz a festa ou o chamado espírito olímpico, de congraçamento entre os povos acima de fronteiras e identidades nacionais, etc, etc. Os ingleses decidiram ser ingleses ao ponto de ostentação. Nada de espírito olímpico, o festejado, e bem festejado, foi o espírito nacional. Mas não foi uma celebração acrítica. Mostraram a revolução industrial que começou na Inglaterra e mudou o mundo, e ao mesmo tempo - com aquelas espantosas chaminés brotando do chão para espalhar a fuligem por campos outrora verdes e pastorais -, as consequências das sombrias usinas satânicas, as "dark satanic mills" do poema de William Blake, na vida das pessoas.
E não deixou de haver política na apresentação. Não havia muita razão para aquele longo segmento dedicado ao serviço nacional de saúde, o plano de assistência médica universal posto em prática pelos trabalhistas que nenhum governo conservador ousou tocar, a não ser como um recado para o atual governo conservador. Como medida de austeridade para enfrentar a crise, o governo Cameron está cortando benefícios sociais com um entusiasmo inédito desde os tempos da sra. Thatcher e sua machadinha impiedosa. O show das enfermeiras dançantes e das crianças bem tratadas foi para lembrar que o National Health Service é uma instituição inglesa tão digna de ser celebrada quanto as outras - e quem se atrever a mudá-la terá que se entender com a Mary Poppins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário