quinta-feira, 9 de abril de 2009

Simbologia oculta no jogo de xadrez

Por J. A. Fonseca*





Jogar xadrez é, antes de tudo, interpretar, atuar em determinado campo do raciocínio. Sustentado nesta afirmativa, pode-se observar que este jogo se nos apresenta sob três aspectos básicos de compreensão:


1. o que apresenta-o sob seu aspecto conceptual, de beleza e harmonia, que nos conduz a analisá-lo sob a tutela do princípio da ARTE;


2. o que mostra-o sob a ótica de seu aspecto lógico, de raciocínio e abstração, conduzindo-nos a vê-lo sob o princípio da CIÊNCIA;


3. o que mostra-o no seu aspecto de competição, da honra pela vitória, mostrando-o sob o princípio do ESPORTE SADIO.


O xadrez é, portanto, algo mais além de uma simples diversão ou passa tempo, podendo ser visto como um elevado instrumento de desenvolvimento interior, de força e equilíbrio, de inteligência e combatividade, de respeito pelo oponente e harmonia, em suma, de educação e controle dos instintos e emoções, desenvolvendo a memorização e a criatividade.


Segundo se sabe, o jogo de xadrez originou-se na Índia e apesar de estar relacionado com a casta dos guerreiros (Kchatryia), teria sido criado pela classe sacerdotal (Brahmanes), com a finalidade de despertar os dons interiores entre os oponentes. As antigas tradições preservavam, acima de tudo, o respeito pelo oponente e valorizavam suas habilidades e qualidades defensivas e de ataque.


Visto sob o aspecto da simbologia e da tradição dos povos antigos, sua estrutura é fundamentada em bases iniciáticas e científicas, ocultando certos aspectos do conhecimento tradicional, alguns dos quais, vamos aqui destacar. Inicialmente diremos que o tabuleiro do jogo de xadrez é constituído de 64 casas, em quadrado perfeito, alternadas em preto e branco, o qual representa nada mais do que o próprio mundo no qual “jogamos” o jogo da vida. Esta composição de 64 casas não é, de forma alguma casual, porque vamos encontrar esta representação numérica em muitas outras culturas e mesmo no âmbito científico e do conhecimento humano. Podemos citar, por exemplo, o I Ching, o livro das Mutações chinês, que tem sua estrutura fundamentada em 64 hexagramas e que tem exercido cada vez mais sua influência no mundo ocidental por causa de sua assombrosa simetria com as atuais concepções contemporâneas no campo da ciência, da psicologia e do conhecimento humano.


No aspecto científico poderíamos chamar a atenção para a “coincidência” de que o DNA humano possui 64 unidades-códigos, chamadas de códons, e que são, nada mais do que uma série de nucleotídeos que dão formação ao código que sintetiza determinado aminoácido ou sinaliza o início ou o fim da mensagem genética. Vamos encontrar esta combinação também, no Tzolkin, o misterioso Calendário Maia, quando sintetizamos no centro de sua matriz de 13 campos o arranjo de um quadrado mágico de 8 x 8 unidades. Este antigo oráculo chinês, mal compreendido até nos dias de hoje, estas 64 mutações perfazem o caminho das mutações do indivíduo que vive o jogo da vida, que não são outra coisa senão 64 combinações formadas pelos hexagramas, originados dos 8 trigramas básicos que sustentam toda a estrutura do I Ching e concebidos sob a inspiração das imagens de tudo o que ocorre no céu e na terra.




Sob o aspecto numerológico, se somarmos as cifras 6 + 4 teremos 10, que está relacionado à interpretação oriental da criação e manifestação da Consciência Divina no Universo, ou seja 1 e 0. Dez é considerado o número perfeito e é também relacionado a IO, o Itinerário de Isis e Osíris, ou das encarnações terrestres na Escola da Vida. O número 1 representa a própria Consciência Divina no Universo criado e o Zero, este próprio Universo manifestado. No Tarô, o número 10 representa a Roda da Vida ou a roda das encarnações, onde o buscador se depara com sua essência interior, deparando-se com a Esfinge e suas 4 faces, quando terá de decifrar seu grande segredo ou cair, inexoravelmente, de volta ao mundo das experiências.


Assim, poderíamos sugerir que esta lei de causa e efeito que rege as ações humanas atua com livre determinação no jogo de xadrez, orientado o destino dos jogadores, uma vez que cada um tem plena liberdade para observar e analisar todos as situações apresentadas e decidir que movimento dará às suas peças. Ao agir, segundo seus próprios desígnios, atrairá para si as conseqüências, os efeitos da ação ao movimentar-se no tabuleiro, no âmbito dos quadrados mágicos.


Configura-se neste momento, a necessidade de atuar com conhecimento e sabedoria diante das inúmeras possibilidades que se apresentam e melhor posicionar-se diante dos problemas a serem solucionados, representados nas condições que o jogo oferece a cada movimento, nos limites impostos pelo tabuleiro e nas perspectivas que surgem diante de um acontecimento inesperado.


Poderíamos chamar a atenção também para a figura do destino, o temido senhor das eras, que se delineia no início de cada jogo e que indica a chance de se sair vencedor e a perspectiva de que existem, de fato, condições que podem favorecer substancialmente as alterações que ocorrem durante a trajetória, ou partida, às quais, dependerão exclusivamente da experiência, da inteligência e da estratégia que será utilizada pelo jogador.


Assim como a manifestação do Criador nos mundos criados, conforme os ensinamentos iniciáticos, toda a estrutura do jogo de xadrez é também fundamentada num sistema quaternário, que além de consolidar o princípio que rege sua base, circunscrita no tabuleiro de 64 casas, representa também a própria ação de jogar, simbolizada pela condição dinâmica representada pela cruz de braços iguais e pelo próprio caminho a ser seguido, respeitando-se o andamento do jogo e as perspectivas do jogador.



Este quaternário, pode ser visto também na representação das castas hindus, que configuram, com perfeição, a situação das 16 peças (brancas e negras) do jogo de xadrez, totalizando 32, ou seja, múltiplos de 4, envolvendo a seguinte relação:



1. Casta dos Brâhmanes – dos sacerdotes, aqui representada pelo Rei e pela Dama, peças mais importantes do jogo;

2. Casta dos Kchatryias – dos guerreiros, representada pelas Torres e Bispos, peças de longo e médio alcance, respectivamente, com suas características próprias;

3. Casta dos Vaisyas – dos mercadores e agricultores, representada pelos Cavalos, que são peças de baixo alcance, mas importantes no andamento da “batalha”;

4. Casta dos Sudras – dos trabalhadores braçais e ocupações menores ou escravos, representada pelos Peões, peças de baixíssimo alcance, com movimentos restritos.



Pode-se observar que este conjunto de peças atua também dentro do sentido binário, de relevante importância no estudo da Ciência Secreta, que se apóia no conceito do Binário Universal, Yin e Yang, Luz e Trevas, Céu e Inferno, Espírito e Matéria, etc., para que possa o jogador se “armar” e se “defender” estrategicamente durante o jogo: o Rei e a Rainha, dois Bispos, dois Cavalos, duas Torres e Oito Peões (o duplo quaternário).



Estendendo-se um pouco mais sobre o tabuleiro, podemos dizer que o mesmo de apresenta como um verdadeiro “campo” onde a “batalha” será empreendida, ou seja, simboliza o próprio meio onde uma pessoa nasce (inicia o jogo), vive (joga) e morre (termina o jogo como vencedor ou perdedor). Podemos assim fazer algumas correlações sobre o sentido do quaternário dentro do tabuleiro de xadrez e seus 4 quadrados internos.



· O quadrado central, 1 – 2 – 3 e 4, conforme a ilustração no início do texto, é o centro do tabuleiro e pela sua conformação quaternária representa a roda dos elementos que regem a vida na terra, o fogo, o ar, a água e a própria terra. Estes elementos possuem diversas conotações simbólicas e práticas, como o estados da matéria, éter, gasoso, líquido e sólido, os 4 pontos cardeais, as 4 estações do ano, os 4 braços da cruz, etc. e dão liberdade ao jogador de se posicionar perante seu destino e “tentar mudar” situações de conotações evidentemente desastrosas ou, em outra hipótese, prenunciadoras de sucesso. Este ponto central quaternário pode ser relacionado ao Arcano 4 do Tarô que indica a necessidade de se criar estabilidade no plano físico para o trabalho espiritual.



· O segundo quadrado que se forma, contornando todo o quaternário interno, possui 12 casas e representa as 12 casas zodiacais que simbolizam a jornada do homem pela vida através dos eons (eras) e pelos 12 “portais sagrados”, através dos quais se torna experiente e apto a vencer o mais sagaz dos adversários. Esta jornada dá ao ser humano a possibilidade de o mesmo alcançar a vitória sobe a vida após suas 4 grandes fases enquanto encarnado: a infância, a adolescência, a maturidade e a velhice. Aqui pode-se fazer também menção sobre os 12 meses do ano, os 12 apóstolos de Cristo, os 12 cavaleiros do Rei Artur, e outras referências numerológicas que se encontram veladas na expressão que envolve o ternário e o quaternário, como por exemplo, o simbolismo da pirâmide, quadrada em sua base e triangular em seus lados, que convergem para o ápice, a Unidade. Em relação ao tarô, sua simbologia vai de encontro ao Arcano 12, que sustenta a necessidade do sacrifício (atenção, dedicação e perspicácia) para alcançar a vitória.



· O terceiro quadrado possui 20 casas que podem ser relacionadas ao Arcano 20 do Tarô onde se espreita a idéia do juízo universal e que propõe, por isto, a atenção no âmbito de todo o tabuleiro, o campo da ação (movimento) num ambiente de luta e decisões imediatas, que poderão conceder ao “jogador” a possibilidade de vencer a “batalha”. Neste processo precisará o agente que movimenta as peças que usar do discernimento, de uma ação inteligente e convicção no objetivo traçado, além de que não deve ferir a lei que a todos rege, ou seja, os limites estabelecidos pela ética nos movimentos e respeito ao oponente.



· No quarto quadrado encontramos as 28 casas limítrofes do campo de batalha e definem até onde pode o jogador efetuar suas experiências. Podemos relacioná-las às 4 fases lunares em seus ciclos mensais, de 7 dias cada um, e representa a contagem do tempo, ou seja, em nossa vida tudo tem começo, meio e fim. O “jogador” não deve se esquecer de que em sua luta pela vida no “jogo” da sobrevivência e do aprendizado, está continuamente submetido às influências do deste ciclo mensal mutante, sem muitas vezes perceber sua notável interferência. Isto corresponde dizer que a vitória do “jogador” não depende somente dele próprio, mas do ambiente que o rodeia, do grau de dispersão de sua mente e absorção de conhecimentos, das possibilidades que se apresentam a cada dia (movimento), da estratégia utilizada nos seus deslocamentos no tabuleiro e da contínua atenção às circunstâncias que lhe são impingidas pela dinâmica do passar do tempo (o opositor). Tudo isto vem formar um conjunto de elementos importantes ao combatente da vida (o jogo) e nenhum deles pode ser desprezado, sob pena de ser vencido por sua própria negligência.



Não se deve esquecer que o jogo possibilita ao jogador percorrer o tabuleiro de várias maneiras: em coluna ou verticalmente, em fileira ou horizontalmente e em diagonal, respeitando-se as potencialidades das peças que estão em jogo e as possibilidades que surgem a cada movimento. Este movimento corresponde ao dinamismo da vida terrena que exige do ser vivente (o jogador) atenção e responsabilidade, pois em qualquer direção que queira trilhar o seu caminho, irá arcar com as conseqüências de seus atos.



Observamos assim que o jogo de xadrez abre uma grande perspectiva para o “jogador”, pois vai além de uma simples partida e raciocínios consistentes, guardando em si mesmo, uma complexidade de normas e comportamentos que tiveram origem em sua própria estrutura e criação, pretendendo com isto estabelecer ao mesmo tempo um conjunto de elementos que contemplassem tanto a educação quanto o lazer, tanto a harmonia quanto raciocínio lógico, tanto a beleza quanto a praticidade. Tudo isto pode oferecer ao ser humano (o jogador) novos meios de encarar a vida e conduzi-la, não apenas como um simples competidor, mas como um ser inteligente em busca da vitória que conhece as regras pré-estabelecidas e está atento aos acontecimentos que o cercam, sem jamais deixar de respeitar o seu oponente.



Percebemos assim que sua forma transcende em muito a simples idéia de “passar o tempo” ou o simples conceito de esporte e mesmo que o jogador não tenha conhecimento destas coisas, é beneficiado no sentido de melhor compreender o enigma da vida e aceitar de forma mais objetiva os impactos que as derrotas e as vitórias impõem a todos que trilham esta jornada. E, finalmente, concluir, finalmente, que o vencer ultrapassa o pequeno limite imposto pelo tabuleiro e pelo movimento das peças, pois que está relacionado ao intricado mistério da vida na Terra e à realidade dos mundos extra-dimensionais, que já podem ser notados pela inteligência humana em suas pesquisas científicas e avanços tecnológicos.





* J. A. Fonseca é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de ufologia, filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br), membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA e consultor da Revista UFO.



- Ilustrações: J. A. Fonseca.

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