sábado, 4 de abril de 2009

Reflexão Oriental sobre o Conceito de Unidade

Para o místico oriental, todas as coisas e todos os fatos percebidos pelos sentidos acham-se inter-relacionados, unidos entre si, constituindo tão simplesmente aspectos ou manifestações diversos da mesma realidade última. Nossa tendência para dividir o mundo que percebemos em coisas individuais e isoladas, e para experimentar a nós mesmos como egos isolados neste mundo, é vista como uma ilusão proveniente de nossa mentalidade voltada para a mensuração e a categorização. Essa tendência é denominada avidya (ignorância) na filosofia budista, sendo considerada como o estado de uma mente perturbada que necessita ser superada:

Quando a mente é perturbada, produz-se a multiplicidade das coisas; quando a mente é aquietada, a multiplicidade das coisas desaparece. (Asvaghosha, The Awakening of Faith, p. 78)

Embora as diversas escolas do misticismo oriental divirjam em inúmeros detalhes, todas enfatizam a unidade básica do universo, característica central de seus ensinamentos. O objetivo mais elevado para seus seguidores – sejam hindus, budistas ou taoístas – é precisamente tornar-se consciente dessa unidade e da inter-relação mútua de todas as coisas, transcender a noção de um Si-mesmo (Self) individual e identificar-nos com a realidade fundamental. A emersão dessa consciência – denominada “iluminação” – não é apenas um ato intelectual mas, na verdade, uma experiência que envolve a totalidade do indivíduo e se afigura religiosa em sua natureza básica. Por essa razão, a maioria das filosofias orientais são essencialmente filosofias religiosas.

Na visão oriental do mundo, então, a divisão da natureza em objetos separados está longe de ser fundamental e tais objetos possuem um caráter fluido e em eterna mudança. A visão oriental do mundo é, pois, intrinsecamente dinâmica, contendo o tempo e a mudança como características fundamentais. O cosmo é visto como uma realidade inseparável, em eterno movimento, vivo, orgânico, espiritual e material ao mesmo tempo.

Sendo o movimento e a mudança propriedades essenciais das coisas, as forças geradoras do movimento não são exteriores aos objetos (como na visão grega clássica) mas, sendo ao contrário, são uma propriedade intrínseca da matéria. De forma correspondente, a imagem oriental do Divino não é a imagem de um governante que, das alturas, dirige o mundo, mas a de um princípio que tudo controla a partir de dentro:

Aquele que, habitando em todas as coisas,
É, no entanto, diverso de todas as coisas,

Aquele a quem todas as coisas não conhecem,

Cujo corpo é feito de todas as coisas,

Que controla todas as coisas a partir de dentro –

Aquele é a sua Alma, o Consolador interior,

O Imortal. (Brihad-aranyaka Upanishad, 3.7.15)

(O Tão da Física – Fritjof Capra)

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