quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mestre iogue receita 'amor' contra a crise financeira mundial



Joseph Michael Levry, o Gurunam, trocou Wall Street pela vida espiritual.
Ensinada de NY a Israel, nova forma de ioga usa elementos de cabala.
Diego Assis Do G1, em São Paulo


Joseph Michael Levry, o Gurunam (ao centro, vestido de preto e branco), durante evento de Naam Yoga no México. Ele não gosta de mostrar seu rosto em fotos (Foto: Divulgação)
Que pacote trilionário de resgate, que nada. A receita para tirar o mundo do colapso financeiro em que se meteu, segundo Joseph Michael Levry, ex-executivo de Wall Street e propositor de uma nova filosofia de vida chamada de Naam Yoga, custa bem menos do que isso. Para ele, basta ao homem "abrir o coração".

"Essas pessoas [ligadas às instituições envolvidas na crise] vieram das melhores escolas econômicas, mas ninguém parece entender o que está se passando. No mercado financeiro, parece que há essa cobra, e todos estão tentando encontrar a cabeça do animal, mas não conseguem. Tudo foi construído sobre falsas verdades, e se não nos movermos para uma era de amor, de sabedoria e de verdade, o que não for construído sobre isso vai ruir, e é o que está acontecendo. Entender o quão interconectados estamos vai ajudar as pessoas a esquecer a si próprias um pouco e começar a servir os outros. E isso vem quando o coração está aberto", propõe Levry, que antes de adotar o nome espiritual Gurunam formou-se em engenharia industrial pela Politécnica de Nova York.

Extremamente reservado - "a entrevista não tem de ser sobre mim, mas sobre a sabedoria espiritual divina" -, Levry se recusa a dar detalhes muito precisos de sua vida pessoal, para além do fato de que nasceu na Costa do Marfim, trabalhou no "mundo do dinheiro" cerca de 20 anos atrás e que "estava indo bem" financeiramente quando decidiu largar a vida de executivo e se dedicar à elaboração de sua doutrina, uma mistura de Kundalini, "considerada a mãe de todos os iogas", com cabala, nome dado aos estudos milenares judaicos que procuram desvendar a relação entre Deus e suas criações no universo.

"Esta é a primeira vez na história que essas duas metades são colocadas juntas. A cabala é a ciência mística do mundo ocidental. E o ioga é a ciência mística do mundo oriental. O Naam Yoga junta o aspecto da ioga que toma conta do seu sistema nervoso e sanguíneo com o da cabala, que trata das leis da natureza, de como o universo funciona, para que você tome as decisões certas", explica. Há uma diferença, entretanto, entre o que Levry chama de Cabala Universal - praticada por ele desde a infância - e a cabala tradicional.

"Cabala Universal é a cabala tradicional [do judaísmo] menos as bobagens religiosas e as várias coisas que não fazem sentido. É muito prática, qualquer um pode usar", sugere, frisando que entre os alunos que frequentam o seu Universal Force Healing Center, em Nova York, ou as palestras que faz pelo mundo, da Espanha a Israel, - o Brasil deve recebê-lo em novembro - estão "políticos, advogados, médicos, cientistas e gente de Wall Street".

Além dos exercícios típicos de ioga e do estudo da Cabala Universal, Levry aposta na importância do uso da música e da palavra em sua disciplina. "Naam, em português, é o verbo, a palavra. Como no Gênesis, em que no início era o verbo, você traz o poder da palavra à prática do ioga. Ela tem um grande efeito sobre o cérebro", garante.


Místico cético

Apesar da crença na espiritualidade, o mestre do Naam Yoga se define, sem esconder a gargalhada, como "um cético". Ele descreve sua doutrina como uma "tecnologia" e usa com frequência metáforas desse mesmo universo para expor suas ideias. "Imagine que há dois computadores, o menor, que é o homem, e o grande computador, que é o universo. Quando o seu computador está desconectado do computador maior, você não tem luz. E sem luz nada funciona. Mas, uma vez que você alinha o pequeno computador com o grande, automaticamente, tudo passa a funcionar", defende.. "O Naam Yoga é a ciência de se ligar a Deus usando o seu computador, de fazer o link entre você e o poder que governa e dá vida ao universo inteiro."

Segundo o Universal Force Healing Center, aulas de Levry pelo mundo costumam atrair de 600 até 1.500 participantes, dependendo do evento (Foto: Divulgação)

Da mesma forma, Levry não acredita que "você tem de se mudar para uma montanha" para alcançar a iluminação. "Se o que chamamos de Deus não quisesse que tivéssemos uma experiência humana, ele não nos teria mandado para a Terra. Teríamos ficado no céu ou onde quer de que tenhamos vindo. Você não está encarando suas responsabilidades se se torna esse cara que se deixa perder completamente. Por isso que a maioria das pessoas pensa que espirituais são lunáticos, que não sabem o que estão fazendo. Para mim, elevar a consciência é se responsabilizar por sua vida. Você decide o certo e o errado, e faz a coisa certa por ser espiritual. Se torna um cidadão responsável porque vive no caminho da verdade e tenta o quanto puder ajudar os outros", diz o Gurunam que, aliás, detesta ser chamado de guru.

"Eu não acredito em gurus. Isso é resultado de um erro de conceito do Ocidente. 'Gu' significa escuridão, 'ru' significa luz. Então, guru é a sabedoria que o move da escuridão à luz. Nos nossos ensinamentos, não acreditamos em gurus, mas que você deve procurar as respostas em seu próprio coração. É lá que você encontra seus professores. Eu tenho um nome especial, Gurunam, e as pessoas pensam que isso é porque eu sou um guru, mas Deus me perdoe, eu não quero ser um guru, é a última coisa que quero ser. Gurunam é a pessoa que usa a palavra (naam) para se mover da escuridão (gu) à luz (ru)."

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Capas de alguns dos livros de Levry. Obras vão desde explicar os fundamentos da Naam Yoga até dar dicas de como curar doenças e relacionamentos usando a espiritualidade (Foto: Reprodução)
Limites do dinheiro

Além do cargo de CEO do Universal Force Healing Center, centro de meditação e estudos na região central de Nova York que descreve como uma entidade sem fins lucrativos, Levry é também dono da Rootlight, Inc., a editora e gravadora responsável por publicar seus até agora quatro livros e uma série de CDs de meditação. Cobrando cerca de US$ 20 a aula ou US$ 5.000 para um pacote completo de treinamento de professores, o iogue e executivo diz que enriquecer não é seu objetivo mas nem por isso renega a importância do papel-moeda. "Acho que há um mal-entendido sobre o dinheiro. Dinheiro, em si, é só energia. O uso que você faz do dinheiro é que determina a pessoa por trás dele. É possível ser bem-sucedido e ser muito espiritualizado."

Levry é otimista. Pensa que em 2012, graças a um alinhamento especial entre o planeta Terra e o Sol, finalmente os países entrarão em uma frequência de vibração superior, e o mundo vai sair do buraco. Até lá, despejar rios de dinheiro nos cofres dos bancos e nas economias em apuros, opina, dificilmente resolveria o problema.

"Você pode colocar milhões de dólares lá, mas se não mudar a mentalidade das pessoas e elevar sua consciência para que pensem com responsabilidade, não terá efeito. A cabala diz que é melhor não fazer nada do que fazer algo que vá se transformar em nada. Injetar milhões de dólares é o equivalente, na cabala, a fazer algo que vai se transformar em nada. É preciso assegurar que se você fizer belas ações elas se transformarão em consequências curadoras e construtivas. E, para o homem fazer isso, ele tem de se mover da cabeça ao coração."

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