sábado, 28 de março de 2009

A CLARIVIDÊNCIA




Charles Webster Leadbeater


CONTEÚDO
Capítulo
1 O QUE É CLARIVIDÊNCIA
2 CLARIVIDÊNCIA SIMPLES: INTEGRAL
3 CLARIVIDÊNCIA SIMPLES: PARCIAL
4 CLARIVIDÊNCIA ESPACIAL: VOLUNTÁRIA
5 CLARIVIDÊNCIA ESPACIAL: SEMI-VOLUNTÁRIA
6 CLARIVIDÊNCIA ESPACIAL: INVOLUNTÁRIA
7 CLARIVIDÊNCIA TEMPORAL: O PASSADO
8 CLARIVIDÊNCIA TEMPORAL: O FUTURO
9 MÉTODOS DE DESENVOLVIMENTO

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CAPÍTULO 1

O QUE É CLARIVIDÊNCIA


Clarividência não significa nada mais do que "visão clara", e é uma palavra que tem sido muito mal-usada, e mesmo degradada por ser empregada para descrever a impostura dos charlatães dos shows de variedades. Mesmo em seu sentido mais restrito ela abarca um largo espectro de fenômenos, diferindo tão grandemente em caráter que não é fácil dar uma definição da palavra que ao mesmo tempo seja sucinta e precisa. Tem sido chamada de "visão espiritual", mas nenhuma interpretação poderia ser mais enganosa que esta, pois na vasta maioria dos casos não há nenhuma faculdade associada que mereça a honra de uma denominação tão elevada.

Para o propósito deste tratado podemos, talvez, definí-la como o poder de ver o que está oculto à visão física ordinária. Definiremos igualmente que muitíssimas vezes (mas nem sempre) é acompanhada do que é chamado clariaudiência, ou o poder de ouvir o que seria inaudível ao ouvido físico comum; e por enquanto tomaremos nosso título como cobrindo igualmente esta faculdade, a fim de evitar o incômodo do perpétuo uso de duas longas palavras onde basta uma.

Deixe-me esclarecer dois pontos antes de iniciar. Primeiro, não estou escrevendo para aqueles que não acreditam que haja uma coisa como a clarividência, nem estou procurando convencer os que têm dúvidas sobre a matéria. Em trabalho tão acanhado como este não disponho de espaço para isso; tais pessoas devem estudar os muitos livros contendo relações de casos, ou fazer experimentos por si mesmas ao longo das linhas do mesmerismo. Dirijo-me às classes mais instruídas que sabem que a clarividência existe, e estão suficientemente interessadas no assunto para alegrarem-se com a informação sobre seus métodos e possibilidades; e garanto a elas que o que escrevo é resultado de estudo e experimentação muito cuidadosos, e que mesmo que alguns destes poderes que descreverei possam lhes parecer novos e maravilhosos, não menciono um sequer de que eu mesmo não haja visto exemplos.

Segundo, ainda que eu deva tentar evitar até onde possível especificidades técnicas, mas esteja escrevendo principalmente para estudantes de Teosofia, por vezes me colocarei à vontade para usar, por amor à brevidade e sem explicação detalhada, a usual terminologia Teosófica que posso seguramente presumir que lhes é familiar.

Caia este documento em mãos de qualquer um a quem o uso ocasional destes termos constitua uma dificuldade, só posso desculpar-me com ele e remetê-lo, para explanações preliminares, a qualquer trabalho Teosófico básico, como Ancient Wisdom (A Sabedoria Antiga), ou Man and his Bodies (O Homem e seus Corpos), da Srª. Besant. A verdade é que todo o sistema Teosófico está tão unificado, e suas partes são tão interdependentes, que dar uma explanação completa de cada termo usado necessitaria de um exaustivo tratado Teosófico à guisa de prefácio, mesmo para este breve relato sobre a clarividência.

Antes que uma explanação detalhada da clarividência possa ser utilmente tentada, entretanto, será necessário devotarmo-nos brevemente a algumas considerações preliminares, a fim de que possamos ter claramente na mente alguns poucos fatos genéricos como os diferentes planos onde a visão clarividente pode ser exercitada, e as condições que tornam possível seu exercício.

É-nos constantemente assegurado na literatura Teosófica que todas essas faculdades superiores logo devem tornar-se a herança da humanidade em geral – que a capacidade para a clarividência, por exemplo, existe latente em todos nós, e aqueles em quem já se manifesta, neste particular simplesmente já estão um pouquinho mais avançados que o restante de nós. Agora, esta declaração é verdadeira, mesmo que pareça muito vaga e irreal para a maioria das pessoas, simplesmente porque consideram tal faculdade como algo absolutamente diferente de tudo que já experimentaram, e sentem-se bastante seguras de que elas próprias, de qualquer modo, não estão nem um pouco perto de desenvolvê-las.

Pode ajudar a dissipar este sentimento de irrealidade se tentarmos entender que a clarividência, como tantas outras coisas na Natureza, é principalmente uma questão de vibrações, e de fato não é nada além de uma extensão dos poderes que todos nós já usamos em todos os dias de nossas vidas. Vivemos todo o tempo rodeados de um vasto oceano de ar e éter misturados, este interpenetrando aquele, como o faz a toda matéria física; e é principalmente por meio das vibrações neste vasto mar de matéria que nos chegam impressões de fora. Isso tudo já sabemos, mas talvez jamais tenha ocorrido à maioria de nós que o número das vibrações a que somos capazes de responder é realmente quase insignificante.

Dentre as vibrações extremamente rápidas que afetam o éter há uma pequena faixa – uma faixa muitíssimo estreita – à qual a retina do olho humano é capaz de responder, e estas vibrações peculiares produzem em nós a sensação que chamamos de luz. Isto é, somos capazes de ver somente aqueles objetos dos quais luz daquele determinado tipo pode ser emitida ou refletida.

Exatamente do mesmo modo o tímpano do ouvido humano é capaz de responder a uma certa faixa muito estreita de vibrações comparativamente lentas – lentas o bastante para afetar o ar que nos cerca, e assim os únicos sons que podemos ouvir são aqueles produzidos por objetos que podem vibrar em alguma das freqüências dentro desta faixa especial.

Em ambos os casos é uma matéria perfeitamente bem conhecida pela ciência que há uma grande número de vibrações tanto acima quanto abaixo daquelas duas faixas, e que conseqüentemente há muita luz que não podemos ver, e há muitos sons a que nossos ouvidos são surdos. No caso da luz a ação destas vibrações mais altas e mais baixas é facilmente perceptível nos efeitos produzidos pelos raios actínicos [a luz ultravioleta. O chamado actinismo é o efeito químico produzido por esta freqüência de vibração luminosa sobre determinados compostos químicos - NT] numa das extremidades do espectro, e pelos raios de calor [a vibração, ou luz, infravermelha – NT] na outra extremidade.

É pacífico que existem vibrações de todos os graus concebíveis de rapidez, preenchendo todo o vasto intervalo entre as lentas ondas sonoras e as rapidíssimas ondas de luz; tampouco isso é tudo, pois existem indubitavelmente vibrações mais lentas que as do som, e toda uma infinidade delas são mais rápidas que as que conhecemos como luz. De modo que assim começamos a entender que as vibrações pelas quais vemos e ouvimos são apenas como dois pequeninos grupos de poucas cordas selecionadas de uma enorme harpa, de extensão praticamente infinita, e quando pensamos no quanto temos sido capazes de aprender e inferir pelo uso só destas diminutas porções, veríamos vagamente quais possibilidades poderiam estar à nossa frente se fôssemos habilitados a utilizar o vasto e maravilhoso todo.

Um outro fato que merece ser considerado nesta linha é que os diferentes seres humanos variam consideravelmente, ainda que relativamente dentro de estreitos limites, em suas capacidades de responder mesmo às pouquíssimas vibrações que estão dentro do alcance de nossos sentidos físicos. Não me refiro à acuidade visual ou auditiva que possibilita a um homem ver objetos menores ou ouvir sons mais tênues que um outro; não é afinal uma questão de força visual, mas de uma extensão na amplitude da sensibilidade.

Por exemplo, se alguém tomar um bom prisma de bissulfito de carbono, e por seu intermédio fizer projetar um espectro luminoso nítido sobre uma folha de papel branco, e então solicitar a diversas de pessoas para que assinalem no papel os limites extremos do espectro assim como lhe aparecem, quase certamente descobriria que seus poderes de visão diferem apreciavelmente. Alguns veriam o violeta se estendendo muito mais longe que a maioria; outros talvez vissem muito menos violeta que os demais, mas possuíssem uma correspondente extensão visual no lado do vermelho. Alguns poucos, talvez, pudessem ver mais longe que o normal em ambas as extremidades, e estes quase certamente seriam o que chamamos de pessoas sensitivas – sensíveis de fato a uma amplitude maior de vibrações do que o são a maioria dos homens de hoje.

Na audição a mesma diferença pode ser testada tomando-se um som apenas alto o suficiente para ser quase audível – nas margens da audibilidade – e descobrindo quantas pessoas dentre um certo grupo seriam capazes de ouví-lo. Os guinchos do morcego são um exemplo familiar de tal som, e a experiência mostrará que num anoitecer de verão, quando todo o ar está repleto dos gritos agudos e penetrantes destes animaizinhos, a grande maioria dos homens estará absolutamente inconsciente deles, e incapaz de ouvir qualquer coisa.

Assim estes exemplos claramente demonstram que não há limite imutável no poder de resposta humana seja a vibrações etéricas seja às aéreas, mas que alguns dentre nós já têm este poder em maior extensão que outros; e mesmo veremos que a capacidade do mesmo homem varia em diferentes ocasiões. Não é portanto difícil para nós imaginar que seria possível para um homem desenvolver este poder, e assim no devido tempo aprender a ver muito do que é invisível a seus semelhantes, e ouvir muito do que lhes é inaudível, já que sabemos perfeitamente bem que imenso número destas vibrações extras existem, e estão simplesmente, de fato, esperando reconhecimento.

As experiências com os Raios-X nos dão um exemplo dos assombrosos resultados que são produzidos quando mesmo um pequeno número dessas vibrações são trazidas para dentro do alcance humano, e a transparência, a estes raios, de muitas substâncias até então consideradas opacas, de imediato nos mostra pelo menos uma via pela qual podemos explicar esta clarividência elementar que está envolvida na leitura de uma carta dentro de uma caixa fechada, ou na descrição das pessoas presentes em alguma sala contígua. Aprender a ver através dos Raios-X em acréscimo àqueles ordinariamente empregados será o bastante para habilitar qualquer um a executar um feito de mágica deste tipo.

Fomos tão longe assim na imaginação tratando apenas de uma extensão dos sentidos puramente físicos do homem; e quando lembramos que o corpo etérico do homem é na realidade meramente a parte mais rarefeita de sua moldura física, e que portanto todos os seus órgãos dos sentidos contêm uma grande quantidade de matéria etérica de vários graus de densidade, cujas capacidades estão ainda, na prática, só latentes na maioria de nós, veremos que mesmo se nos limitarmos a esta linha apenas de desenvolvimento já há enormes possibilidades de todos os tipos se abrindo diante de nós.

Mas ao lado e além disso tudo sabemos que o homem possui um corpo astral e um mental, cada um dos quais podem no decurso do tempo ser despertados para a atividade, e responderão por sua vez à matéria de seus próprios planos, abrindo assim diante do Ego, ao aprendermos a atuar através destes veículos, dois inteiramente novos e larguíssimos mundos de conhecimento e poder. Agora, estes dois mundos novos, ainda que estejam todos à nossa volta e livremente interpenetrem um ao outro, não devem ser pensados como distintos e inteiramente separados em substância, mas antes mesclando-se um no outro, o astral inferior formando uma seqüência direta com o físico mais elevado, assim como o mental inferior forma uma seqüência direta com o astral superior. Não somos instados a pensar neles para imaginar algum tipo novo e estranho de matéria, mas simplesmente a pensar na do tipo físico normal como se rarefeita tão mais finamente e vibrando tão mais rápido que nos introduz a condições e qualidades inteiramente novas.

Portanto não nos é difícil captar a possibilidade de constante e progressiva extensão de nossos sentidos, de modo que tanto pela visão como pela audição possamos ser capazes de apreciar vibrações muitíssimo mais elevadas e muitíssimo mais baixas do que aquelas que comumente são reconhecidas. Um amplo leque destas vibrações adicionais ainda pertencerá ao plano físico, e meramente nos capacitará a obter impressões da parte etérica daquele plano, que no presente nos é como um livro fechado. Tais impressões ainda serão recebidas pela retina do olho; é claro que afetarão sua matéria etérica antes que a sólida, mas poderemos não obstante considerá-las ainda se valendo de um órgão especializado para recebê-las, e não de toda a superfície do corpo etérico.

Há alguns casos anormais, entretanto, nos quais outras partes do corpo etérico respondem a estas vibrações adicionais tão rapidamente, ou mesmo mais, do que o olho. Tais aberrações são explicáveis de várias maneiras, mas principalmente decorrem de algum desenvolvimento astral parcial, pois será visto que as partes mais sensíveis do corpo quase invariavelmente correspondem a um ou outro dos chakrams, ou centros de vitalidade no corpo astral. Destarte, se a consciência astral ainda não estiver desenvolvida em seu próprio plano, estes centros podem não ser acessíveis em seu próprio plano, mas mesmo assim seriam fortes o bastante para estimular em mais aguçada atividade a matéria etérica que eles interpenetram.

Quando passamos a tratar dos sentidos astrais propriamente ditos os métodos de trabalho são muito diversos. O corpo astral não possui nenhum órgão sensório especializado – um fato que talvez necessite alguma explanação, uma vez que muitos estudantes que estão tentando compreender sua fisiologia parecem ter dificuldade de reconciliar-se com as declarações que têm sido feitas sobre a perfeita interpenetração do corpo físico pela matéria astral, a exata correspondência entre os dois veículos e o fato de que cada objeto físico tem necessariamente sua contraparte astral.

Porém todas estas declarações são verdadeiras, e ainda é bastante possível para as pessoas que normalmente não vêem o astral interpretá-las erroneamente. Cada tipo de matéria física tem sua ordem correspondente de matéria astral em constante associação a ela – não sendo separável exceto pela aplicação de considerável força oculta, e mesmo então somente para ser mantida à parte dela apenas enquanto a força estiver sendo definidamente exercida para esta finalidade. Mas de qualquer modo a relação das partículas astrais entre si é muito mais frouxa do que no caso de suas correspondentes físicas.

Numa barra de ferro, por exemplo, temos uma massa de moléculas físicas em estado sólido – isto é, capazes de comparativamente pouca alteração em suas posições relativas, ainda que cada uma vibre com imensa rapidez em sua própria esfera. A contraparte astral disso consiste no que muitas vezes chamamos de matéria astral sólida – isto é, matéria do subplano mais baixo e mais denso do astral; mas de qualquer maneira suas partículas estão constante e rapidamente trocando suas posições relativas, movendo-se entre si tão facilmente como aquelas de um líquido no plano físico poderiam fazer. De modo que não há nenhuma associação permanente entre qualquer partícula física e aquela quantidade de matéria astral que em qualquer momento dado estiver atuando como sua contraparte.

Isto é verdade também no que concerne ao corpo astral humano, que para o nosso propósito atual podemos considerar como consistindo de duas partes – a agregação mais densa que ocupa a posição exata do corpo físico, e a nuvem de matéria astral mais rarefeita que rodeia aquela agregação. Em ambas as partes, e entre ambas, está havendo durante todo o tempo a rápida intercirculação das partículas que foram descritas, de modo que se alguém observa o movimento das moléculas no corpo astral lembra-se da aparência da água em plena fervura.

Sendo assim, deverá ser rapidamente compreendido que ainda que qualquer órgão do corpo físico deva sempre ter como sua contraparte uma certa quantidade de matéria astral, não retém as mesmas partículas por mais de poucos segundos a cada vez, e conseqüentemente não há nada correspondendo à especialização da matéria física nervosa dentro dos nervos ópticos ou auditivos, e assim por diante. De modo que mesmo que o olho ou ouvido físicos tenham indubitavelmente sempre sua contraparte de matéria astral, aquele fragmento particular de matéria astral não é mais (nem menos) capaz de responder às vibrações que produzem visão ou audição astrais do que qualquer outra parte do veículo.

Jamais deve ser esquecido que mesmo que constantemente tenhamos que falar de "visão astral" ou "audição astral" a fim de fazermo-nos compreender, tudo o que queremos significar com estas expressões é a faculdade de responder a tais vibrações para levá-las à consciência do homem, quando ele está atuando em seu corpo astral, informação do mesmo caráter da que lhe é veiculada por seus olhos e ouvidos enquanto está em seu corpo físico. Mas nas condições inteiramente diferentes do astral, órgãos especializados não são necessários para atingir-se este resultado; há matéria em todas as partes do corpo astral que são capazes de tal resposta, e conseqüentemente o homem atuando naquele veículo vê igualmente bem objetos atrás, abaixo e acima dele, sem precisar voltar sua cabeça.

Existe, porém, um outro ponto que dificilmente deixaríamos de tratar, e é a questão dos chakrams referida acima.

Estudantes Teosóficos estão familiarizados com a idéia da existência, tanto no corpo astral do homem como no etérico, de certos centros de força que por sua vez devem ser vivificados pelo fogo serpentino à medida que o homem avança na evolução. Ainda que não possam ser descritos como órgãos no sentido comum da palavra, uma vez que não é através deles que o homem vê e ouve, como o faz na vida física através dos olhos e ouvidos, o poder de exercer estes sentidos astrais em grande medida depende da sua vivificação, e cada um deles ao se desenvolver dá a todo o corpo astral o poder de responder a uma nova gama de vibrações.

Tampouco estes centros possuem, contudo, qualquer coleção de matéria astral permanentemente ligada a eles. Eles são simplesmente vórtices na matéria do corpo – vórtices através dos quais todas estas partículas passam em vezes alternadas, talvez, à medida que forças mais elevadas de planos superiores pressionem o corpo astral. Mesmo esta descrição só dá uma idéia muito parcial de sua aparência, pois eles na verdade são vórtices quadridimensionais, de modo que a força que vem através deles e é a causa de sua existência parece provir de lugar nenhum. Mas de toda maneira, já que todas as partículas passam por sua vez por cada um deles, ficará claro que isso é possível para cada um alternadamente evocar em todas as partículas do corpo o poder de receptividade a certo espectro de vibrações, sendo que todos os sentidos astrais são igualmente ativos em todas as partes do corpo.

A visão do plano mental é também totalmente distinta, pois neste caso já não podemos falar em sentidos separados tais como visão e audição, mas antes temos de postular um sentido geral que responde tão integralmente às vibrações que lhe chegam que, quando qualquer objeto entra em seu campo cognitivo, de imediato compreende-o completamente, e é como se o visse, o ouvisse, o sentisse, e conhecesse tudo o que há para conhecer sobre ele numa única operação instantânea. Mas mesmo esta maravilhosa faculdade difere em grau somente, e não em espécie, daquelas que estão sob nosso comando no presente; no plano mental, exatamente como no físico, impressões ainda são veiculadas por meio de vibrações que viajam do objeto visto até quem o vê.

No plano búdico nos deparamos pela primeira vez com uma faculdade absolutamente nova que não tem nada em comum com aquelas de que já falamos, pois lá um homem conhece qualquer objeto através de um método inteiramente diverso, do qual já não fazem parte vibrações externas. O objeto se torna parte de si, e ele o estuda de dentro ao invés de fora. Mas com este poder a clarividência comum não tem nada a ver.

O desenvolvimento, seja integral seja parcial, de qualquer uma destas faculdades entraria em nossa definição de clarividência – o poder de ver o que está oculto à visão física ordinária. Mas essas faculdades podem ser desenvolvidas de várias formas, e será bom dizer umas poucas palavras sobre estas diferentes linhas.

Podemos presumir que se fosse possível para um homem durante sua evolução isolar-se de tudo exceto das mais amenas influências exteriores, e desenvolver-se desde o início de modo perfeitamente regular e normal, provavelmente ele desenvolveria seus sentidos também numa sucessão regular. Ele veria seus sentidos físicos gradualmente estendendo sua amplitude até que respondessem a todas as vibrações físicas, da matéria etérica bem como da mais densa; Então em seqüência ordenada surgiria a sensibilidade à parte mais grosseira do plano astral, e logo a parte mais sutil também seria incluída, até que no devido tempo a faculdade do plano mental por sua vez despontasse.

Na vida real, contudo, um desenvolvimento assim tão regular dificilmente será alguma vez conhecido, e muitos homens têm lampejos ocasionais de consciência astral sem nenhum despertar da visão etérica. E esta irregularidade de desenvolvimento é uma das principais causas da extraordinária suscetibilidade do homem para o erro em matéria de clarividência – uma suscetibilidade para a qual não há escapatória exceto com um longo curso de cuidadoso treinamento sob um instrutor qualificado.

Os estudantes da literatura Teosófica estão bem cientes de que tais instrutores existem – e que mesmo neste materialista século XIX o antigo ditado é verdadeiro, de que "quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece", e que "no vestíbulo do aprendizado, quando é capaz de lá entrar, o discípulo sempre encontrará seu Mestre". Eles estão também bastante cientes de que somente sob tal direção é que um homem pode desenvolver seus poderes latentes com segurança e confiabilidade, uma vez que sabem o quão fatalmente fácil é para o clarividente destreinado iludir-se quanto ao significado e valor do que vê, ou mesmo absolutamente distorcer sua visão completamente ao trazê-la para sua consciência física.

Não se segue disto que mesmo o discípulo que esteja recebendo instrução regular no uso de seus poderes ocultos os verá se desdobrando exatamente na ordem regular que foi sugerida antes como um ideal. Seu progresso prévio pode não ter sido de modo a tornar este o caminho mais fácil ou o mais desejável; mas de qualquer maneira ele está nas mãos de alguém que é perfeitamente competente para ser seu guia no desenvolvimento espiritual, e ele fica perfeitamente seguro de que o caminho que está tomando será o melhor para si.

Uma outra grande vantagem que ele ganha é que quaisquer faculdades que possa adquirir ficam definitivamente sob seu controle e podem ser usadas plena e constantemente quando precisar delas para seu serviço Teosófico; enquanto que no caso do homem destreinado tais poderes freqüentemente se manifestam só muito parcial e espasmodicamente, e parecem ir e vir, como se ao seu bel-prazer.

Pode ser objetado, com certa razão, que se a faculdade clarividente é, como foi dito, uma parte do desenvolvimento oculto do homem, e assim um sinal de certo nível de progresso ao longo daquela linha, parece estranho que freqüentemente seja possuída por pessoas primitivas, ou pelos ignorantes e incultos de nossa raça – pessoas que são obviamente muito subdesenvolvidas, de qualquer ponto de vista que as consideremos. Sem dúvida isso parece muito estranho à primeira vista; mas o fato é que a sensitividade do selvagem ou do grosseiro e vulgar europeu ignorante não é realmente em nada a mesma coisa que a faculdade de seu irmão treinado adequadamente, nem é atingida pelo mesmo caminho.

Uma explanação exata e detalhada da diferença nos conduziria a minúcias técnicas, mas talvez a idéia geral da distinção entre as duas possa ser captada a partir de um exemplo tirado do plano de clarividência mais baixo de todos, em estreito contato com o físico mais denso. O duplo etérico no homem está em uma relação extremamente íntima com seu sistema nervoso, e qualquer tipo de ação sobre um deles rapidamente reage sobre o outro. Mas na aparição esporádica de visão etérica no selvagem, seja da África Central seja da Europa Ocidental, tem sido observado que a correspondente perturbação nervosa está quase toda no sistema simpático, e que tudo está praticamente fora do controle do homem – de fato é uma espécie de sensação massiva pertencendo vagamente a todo o corpo etérico, antes do que uma senso-percepção exata e definida comunicada através de um órgão especializado.

Como nas raças mais novas, e a par do desenvolvimento superior, a força do homem esteja mais e mais direcionada para a evolução de suas faculdades mentais, esta vaga sensitividade usualmente desaparece; mas ainda mais tarde, quando o homem espiritual começa a desabrochar, recupera seu poder clarividente. A esta altura, entretanto, a faculdade é precisa e exata, está sob o controle da vontade do homem, e é exercida através de um órgão sensorial definido; e é digno de nota que qualquer ação nervosa desencadeada por ela em ressonância está quase toda restrita ao sistema cérebro-espinhal.

Sobre este assunto a Srª. Besant escreveu: "As formas inferiores de psiquismo são mais freqüentes em animais e seres humanos muito obtusos do que em homens e mulheres em quem os poderes intelectuais são desenvolvidos. Eles parecem estar conectados ao sistema simpático, não com o cérebro-espinhal. As grandes células nucleadas ganglionares neste sistema contêm uma enorme proporção de matéria etérica, e por isso são mais facilmente afetadas pelas vibrações astrais mais rudes do que o são as células cuja proporção é menor. À medida que o sistema cérebro-espinhal se desenvolve, e o cérebro se torna mais e mais altamente evoluído, o sistema simpático passa para uma posição subordinada, e a sensibilidade a vibrações psíquicas é dominada pelas vibrações mais fortes e ativas do sistema nervoso superior. É verdade que numa fase mais tardia da evolução a sensitividade psíquica reaparece, mas é então desenvolvida em conexão com os centros cérebro-espinhais, e é trazida sob o controle da vontade. Mas o psiquismo histérico e mal-regulado de que vemos tantos exemplos lamentáveis é devido ao escasso desenvolvimento do cérebro e à dominância do sistema simpático".

Lampejos de clarividência ocasionais, contudo, realmente ocorrem ao homem altamente culto e espiritualmente orientado, mesmo que ele jamais possa ter ouvido falar da possibilidade de treinar tal faculdade. Neste caso tais vislumbres usualmente significam que ele está se aproximando do estágio em sua evolução quando estes poderes naturalmente começarão a se manifestar, e sua aparição deveria servir como um estímulo adicional para ele esforçar-se na manutenção daquele alto padrão de pureza moral e equilíbrio mental sem o que a clarividência é uma maldição e não uma bênção a seu possuidor.

Entre os que são inteiramente não-impressionáveis e aqueles que estão em plena posse do poder clarividente há muitos estágios intermediários. Um dos que valeria a pena darmos uma rápida olhada é o estágio em que o homem, ainda que não tenha nenhuma faculdade clarividente em sua vida comum, já a exibe mais ou menos completa sob a influência do hipnotismo. Este é um caso em que a natureza psíquica já é sensitiva, mas a consciência ainda não é capaz de atuar nela entre as múltiplas distrações da vida física. Ela precisa ser libertada pela suspensão temporária dos outros sentidos no transe hipnótico, antes que possa utilizar as divinas faculdades que estão apenas começando a despertar dentro de si. Mas é claro que mesmo no transe hipnótico há inumeráveis graus de lucidez, desde o paciente comum que é bastante obtuso até o homem cujo poder de visão está completamente sob o controle do operador, e pode ser dirigido conforme queira, ou nos estágios mais avançados nos quais, quando a consciência é libertada, escapa também do controle do magnetizador, e paira em campos de visão exaltada que estão inteiramente além de seu alcance.

Um outro passo ao longo da mesma estrada é aquele onde a supressão perfeita do físico como a que ocorre no transe hipnótico já não é necessária, mas o poder de visão supra-normal, ainda que fora de alcance durante a vida desperta, se torna disponível quando o corpo é mantido nos laços do sono normal. Neste estágio de desenvolvimento estavam muitos dos profetas e videntes sobre quem lemos, que foram "avisados por Deus em sonho", ou comungaram com seres muito superiores a si mesmos nas silentes vigílias da noite.

A maioria das pessoas cultas das raças superiores do mundo têm esse desenvolvimento em alguma extensão: isto é, os sentidos de seus corpos astrais estão em ordem plena e atuante, e são perfeitamente capazes de receber impressões de objetos e entidades de seu próprio plano. Mas para torná-los de fato de alguma valia para elas aqui em baixo no corpo físico, duas alterações usualmente são necessárias: primeiro, o Ego deve ser despertado para as realidades do plano astral, e induzido a emergir da crisálida formada por seus próprios pensamentos gerados quando desperto, e olhar em torno para observar e aprender; e segundo, que a consciência deve ser mantida durante o retorno do Ego ao seu corpo físico, de modo a ser capaz de imprimir sobre o cérebro físico a lembrança do que tiver visto ou aprendido.

Se a primeira destas mudanças tiver lugar, a segunda é de somenos importância, uma vez que o Ego, o homem real, será capaz de aproveitar a informação obtida naquele plano, mesmo que ele não tenha a satisfação de trazer qualquer lembrança disso para sua vida desperta aqui embaixo.

Estudantes muitas vezes perguntam como esta faculdade clarividente primeiro se manifestará neles – como eles podem saber quando chegaram ao estágio no qual seus primeiros tênues prenúncios estiverem começando a ser visíveis. Os casos diferem tão amplamente que é impossível dar a esta pergunta qualquer resposta que seja aplicável universalmente.

Algumas pessoas começam de um salto, como se diz, e sob algum estímulo incomum se tornam capazes de ver uma única vez alguma espantosa visão; e muito freqüentemente em tal caso, porque a experiência não se repete, com o tempo o vidente passa acreditar que naquela ocasião estava sendo vítima de alguma alucinação. Outros começam por se tornar intermitentemente cônscios das brilhantes cores e vibrações da aura humana; já outros se acham com crescente freqüência vendo e ouvindo algo a que os que o rodeiam são cegos e surdos; outros, também, vêem rostos, paisagens, ou nuvens coloridas flutuando diante de seus olhos no escuro antes de mergulharem no sono; enquanto talvez a experiência mais comum de todas é aquela dos que começam a lembrar com mais e mais clareza o que vêem e ouvem nos outros planos durante o sono.

Tendo agora clareado em alguma extensão nosso terreno, podemos proceder à consideração dos vários fenômenos da clarividência.

Eles diferem tão amplamente em caráter e em grau que não é muito fácil decidir como podem ser satisfatoriamente classificados. Poderíamos, por exemplo, arranjá-los de acordo com o tipo de visão empregada – seja a metal, astral, ou meramente etérica. Poderíamos dividí-los de acordo com a capacidade do clarividente, levando em conta se é treinado ou não; se sua visão é regular e está sob seu comando, ou se é esporádica e independente de sua volição; se pode exercê-la só por influência hipnótica, ou se tal assistência é desnecessária para ele; se é capaz de usar sua faculdade quando desperto no corpo físico, ou se está disponível somente quando está temporariamente fora do corpo, dormindo ou em transe.

Todas estas distinções são importantes, e teremos de levá-las todas em conta à medida que prosseguirmos, mas talvez no conjunto a classificação mais útil seja nas linhas adotadas pelo Sr. Sinnett em seu trabalho Rational of Mesmerism (Uma Análise do Mesmerismo) – um livro, diga-se, que todos os estudantes da clarividência deveriam ler. Tratando dos fenômenos, então, os arranjaremos antes de acordo com a capacidade da visão empregada do que com o plano onde é exercida, de modo que podemos agrupar os exemplos de clarividência sob as seguintes classes:

1. Clarividência simples – isto é, uma mera abertura da visão, capacitando seu possuidor a ver entidades etéricas ou astrais que porventura estejam em seu redor, mas não incluindo o poder de observar lugares distantes ou cenas pertencentes a qualquer outro tempo que não o presente.

2. Clarividência espacial – a capacidade de ver cenas ou eventos distantes do observador no espaço, e ainda distantes demais para a observação comum ou ocultos por objetos interpostos.

3. Clarividência temporal – isto é, a capacidade de ver objetos ou eventos que estão distantes do vidente no tempo, ou, noutras palavras, o poder de ver o passado ou o futuro.

CAPÍTULO 2

CLARIVIDÊNCIA SIMPLES: INTEGRAL

Nós definimos esta como uma mera abertura da visão etérica ou astral, que possibilita ao seu possuidor ver o que quer que esteja presente em seu entorno nos níveis correspondentes, mas que não é usualmente acompanhada do poder de ver qualquer coisa a grande distância ou de ler seja o passado seja o futuro. É dificilmente possível excluir também estas últimas faculdades, pois a visão astral necessariamente tem uma extensão consideravelmente maior do que a física, e imagens fragmentárias do passado e do futuro são amiúde visíveis mesmo aos clarividentes que não sabem como buscar especialmente por elas; mas de qualquer forma existe uma distinção muito real entre estes vislumbres incidentais e o definido poder de projeção da visão seja no espaço ou no tempo.

Encontramos entre pessoas sensitivas todos os graus deste tipo de clarividência, desde aquele do homem que tem uma vaga impressão que dificilmente merece o nome de visão, até a integral posse da visão etérica e astral respectivamente. Talvez para nós o método mais simples seja começarmos pela descrição do que seria visível no caso do completo desenvolvimento deste poder, e os casos de desenvolvimento parcial então encontrariam naturalmente seus lugares.

Tomemos primeiramente a visão etérica. Esta consiste simplesmente, como já foi dito, na sensibilidade a faixas mais largas de vibrações físicas do que o normal, mas de qualquer maneira sua posse traz à visão muito do que é invisível para a maioria da humanidade. Consideremos que alterações sua aquisição produz no aspecto dos objetos familiares, animados e inanimados, e então vejamos a que fatores inteiramente novos ela nos introduz. Mas deve ser lembrado que o que estou prestes a escrever é o resultado exclusivamente da plena e perfeitamente controlada posse da faculdade, e que a maioria dos exemplos que encontramos na vida real serão bem mais acanhados em uma direção ou outra.

A mais impressionante mudança produzida na aparência dos objetos inanimados pela aquisição desta faculdade é que a maioria deles se torna quase transparente, devido à diferença no comprimento de onda de algumas das vibrações às quais o homem agora começa a tornar-se sensível. Ele se descobre capaz de realizar com a maior facilidade o ditado "ver através das paredes", pois para sua visão recém-adquirida as paredes de alvenaria parecem não ter uma consistência maior do que uma névoa tênue. Portanto ele vê o que está acontecendo numa sala contígua quase como se não houvesse nenhuma parede no caminho; ele pode descrever com precisão os conteúdos de uma caixa fechada, ou ler uma carta lacrada; com uma pequena prática ele poderá encontrar uma passagem específica num livro fechado. Este último feito, ainda que perfeitamente fácil para a visão astral, representa uma dificuldade considerável para alguém usando a visão etérica, por causa do fato de que então cada página tem que ser olhada através de todas que estiverem por cima dela.

Então perguntamos se sob tais circunstâncias um homem vê sempre com esta visão incomum, ou somente quando o deseja fazer. A resposta é que se a faculdade está perfeitamente desenvolvida estará inteiramente sob seu controle, e ele poderá usar esta, ou a sua visão mais comum, à vontade. Ele passa de uma para outra tão pronta e naturalmente quanto nós agora mudamos o foco de nossos olhos quando os desviamos de nosso livro para seguir os movimentos de algum objeto a um quilômetro de distância. É como se fosse uma focalização da consciência em um ou outro aspecto do que é visto: e ainda que o homem tivesse muito claramente sob a visão o aspecto sobre o qual sua atenção estiver fixada no momento, ele sempre estaria vagamente consciente do outro aspecto também, exatamente como quando fixamos nossa vista sobre qualquer objeto seguro em nossas mãos e ainda percebemos vagamente a parede oposta da sala como um pano de fundo.

Uma outra curiosa alteração, que deriva da posse desta visão, é que o chão sólido sobre o qual o homem caminha se torna em certa medida transparente para ele, de modo que é capaz de ver terra adentro até considerável profundidade, muito como quando vemos através de uma água muito límpida. Isto o capacita a observar alguma criatura escavando no subsolo, a distinguir um veio de carvão ou de metal se não estiver muito distante da superfície, e assim por diante.

O limite da visão etérica quando observamos através da matéria sólida parece ser análogo àquele imposto quando olhamos através da névoa ou da água. Não podemos ver além de certa distância, porque o meio através de que estamos vendo não é perfeitamente transparente.

A aparência dos objetos animados é também consideravelmente alterada para o homem que expandiu até este grau o seu poder visual. Para ele os corpos dos homens e animais são quase transparentes, de modo que ele pode observar a ação dos vários órgãos internos, e em alguma extensão diagnosticar algumas de suas doenças.

A visão estendida também o habilita ver, mais ou menos claramente, várias classes de criaturas, elementais ou outras, cujos corpos não são capazes de refletir quaisquer dos raios dentro do limite do espectro ordinariamente percebido. Entre as entidades vistas assim estarão algumas das ordens mais baixas de espíritos da natureza – cujos corpos são compostos de matéria etérica mais densa. A esta classe pertencem quase todas as fadas, gnomos e brownies, sobre os quais ainda existem tantas histórias nas montanhas da Escócia e Irlanda e nos lugares remotos de todo o mundo.

O vasto reino dos espíritos da natureza está principalmente no reino astral, mas ainda ali existe uma grande seção que pertence à parte etérica do plano físico, e esta seção, é claro, é muito mais passível de chegar ao alcance das pessoas comuns do que as outras. Na verdade, ao ler as histórias comuns de fadas freqüentemente encontramos nítidas indicações de que é com esta classe que estamos lidando. Qualquer estudante do amor das fadas lembrará quão amiúde é feita menção a uma misteriosa unção ou droga, que quando aplicada ao olho humano o habilita a ver membros da comunidade das fadas sempre que lhe ocorrer de os encontrar.

A história desta aplicação e seu resultado ocorre tão constantemente e nos chega de partes tão diversas do mundo que deve haver alguma verdade por detrás dela, como sempre acontece no caso de tradições populares realmente universais. Agora, nenhuma unção dos olhos sozinha poderia de modo algum abrir a visão astral do homem, ainda que certo ungüento friccionado por sobre todo o corpo auxilie em muito o corpo astral para que deixe o físico em plena consciência – um fato cujo conhecimento parece ter sobrevivido desde os tempos medievais, como se vê por algumas evidências deixadas em processos por feitiçaria. Mas a aplicação no olho físico poderia mui facilmente estimular sua sensitividade a ponto de torná-lo sensível a algumas vibrações etéricas.

A história freqüentemente prossegue relatando como o ser humano em quem foi usada esta unção mística usa sua visão expandida para ver alguma fada, e esta lhe golpeia ou perfura o olho, privando-o assim não só da visão etérica, mas também da do plano físico mais denso (Vide The Science of Fairy Tales - A Ciência dos Contos de Fada - de E. S. Hartlane, na série Contemporary Science – A Ciência Contemporânea – ou na verdade quase em qualquer coleção abrangente de histórias de fadas). Se a visão adquirida for a astral, tal procedimento seria inteiramente ineficaz, pois nenhum ferimento no aparato físico poderia afetar uma faculdade astral; mas se a visão produzida pela unção fosse etérica, a destruição do olho físico na maioria dos casos de imediato a interromperia, pois ele é o meio pelo qual ela funciona.

Qualquer um possuindo a visão de que estamos falando também seria capaz de perceber o duplo etérico humano; mas uma vez que este é quase idêntico ao físico em tamanho, dificilmente chamaria sua atenção, a menos que fosse parcialmente projetado em transe ou sob influência de anestésicos. Após a morte, quando ele se retira inteiramente do corpo denso, seria claramente visível, e seria freqüentemente visto pairando sobre túmulos recém-ocupados se o homem passasse por um campo santo ou cemitério. Se ele fosse assistir a uma sessão espírita veria a matéria etérica extravasando pelo lado do médium, e poderia observar as várias maneiras pelas quais as entidades comunicantes o utilizam.

Um outro fato que dificilmente não seria logo notado seria a extensão de sua percepção de cores. Ele se encontraria capaz de ver diversas cores inteiramente novas, sequer semelhantes a quaisquer das que formam o espectro como hoje o vemos, e portanto de todo indescritíveis por quaisquer termos que possuímos. E não somente veria objetos novos que seriam todos destas cores novas, mas também descobriria que modificações teriam sido introduzidas na cor de muitos objetos que lhe eram bem familiares, podendo ter ou não alguns tons novos misturados aos antigos. De modo que duas superfícies de cor que aos olhos comuns pareceriam se harmonizar perfeitamente, freqüentemente apresentariam nuanças diferentes à sua visão mais aguçada.

Agora tocamos em uma das principais alterações que seriam introduzidas no mundo do homem quando este adquirisse a visão etérica; e deve ser lembrado sempre que na maioria dos casos uma mudança correspondente ocorreria ao mesmo tempo também em seus outros sentidos, de modo que se tornaria capaz de ouvir, e talvez mesmo sentir, mais que a maioria dos outros em à sua volta. Agora, supondo que em adição a isso ele obtivesse a visão do plano astral, que mudanças adicionais ele observaria? Bem, elas seriam muitas e grandes; de fato, todo um mundo novo se abriria aos seus olhos. Consideremos brevemente suas maravilhas na mesma ordem de antes, e vejamos primeiro que diferença haveria na aparência dos objetos inanimados. Neste ponto eu poderia citar uma recente e abalizada resposta dada em The Vahan:

"Há uma diferença nítida entre visão etérica e visão astral, e é esta última que parece corresponder à quarta dimensão.

"O modo mais simples de entender a diferença é tomar um exemplo. Se você olhar para um homem por sua vez com ambas as visões, você veria os botões na parte de trás de seu casaco em ambos os casos; mas se você usasse a visão etérica, você os veria através do homem, e veria o lado de trás dos botões como se estivessem mais perto de você, mas se você olhasse astralmente, veria não só assim, mas também como se você mesmo estivesse atrás do homem.

"Ou se você estivesse olhando etericamente para um cubo de madeira com inscrições em todos os seus lados, seria como se o cubo fosse de vidro, de modo que você poderia ver através, e veria o escrito no lado oposto de trás para diante, enquanto que os escritos dos lados direito e esquerdo não ficariam claros exceto se você se movesse, por causa do ângulo de visão tangencial. Mas se o olhasse astralmente, veria todos os lados de uma só vez, e todos na posição "certa", como se todo o cubo tivesse sido achatado diante de você, e você veria cada partícula do interior também – não através umas das outras, mas todas planificadas umas ao lado das outras diante de você. Você estaria olhando para ele a partir de uma certa direção, mas seria como se todas as faces que conhecemos estivessem de frente para você.

"Se você olhasse etericamente para o verso de um relógio, veria através de todas as engrenagens, e a frente através delas todas, mas invertida; se você o olhasse astralmente, veria a frente direito e todas as engrenagens estando separadas, mas nenhuma por cima uma da outra."

Aqui temos logo a nota-chave, o principal fator de diferença; o homem está olhando para tudo de um ponto de vista absolutamente novo, inteiramente fora de tudo que jamais imaginou antes. Ele já não tem a mais leve dificuldade em ler qualquer página de um livro fechado, porque agora ele não a estaria vendo através de todas as páginas da frente ou de trás, mas estaria olhando direto para ela como se fosse a única página a ser vista. A profundidade em que um veio de metal ou de carvão pudesse jazer já não seria uma barreira à visão dele, porque agora já não vê através de toda a camada intermediária de terra. A espessura de uma parede, ou o número de paredes entre o observador e o objeto, fariam uma grande diferença para a clareza da visão etérica; isso não faria, porém, diferença nenhuma à visão astral, porque no plano astral eles não se interporiam entre o observador e o objeto. É claro que soa paradoxal e impossível, e é bastante inexplicável para uma mente não especialmente treinada para captar a idéia; não obstante, é absolutamente verdadeiro.

Isso nos leva direto ao cerne da polêmica questão da quarta dimensão – uma questão do mais profundo interesse, ainda que não a pretendamos discutir no espaço à nossa disposição. Aos que a quiserem estudar como merece recomendamos iniciar com Scientific Romances (Romances Científicos) de C. H. Hinton ou Another World (Um Outro Mundo), do Dr. A. T. Schofield, e então acompanhar o primeiro autor em um trabalho maior, A New Era of Thought (Uma Nova Era do Pensamento). O Sr. Hinton não só afirma ser capaz de captar mentalmente algumas da figuras quadridimensionais mais simples, mas também assegura que qualquer um que se der ao trabalho de seguir suas orientações pode também com perseverança adquirir aquela capacidade mental. Não estou certo de que o poder de fazer isso esteja ao alcance de todos, como ele imagina, pois parece-me requerer considerável habilidade matemática; mas posso de qualquer modo testemunhar que o tesseract ou cubo quadridimensional que ele descreve é uma realidade, pois é uma figura familiaríssima no plano astral. Ele agora aperfeiçoou um novo método de representar as diversas dimensões através de cores em vez de por símbolos escritos arbitrários. Ele coloca que deseja simplificar muito o estudo, como o leitor será capaz de distinguir instantaneamente pela vista qualquer parte ou característica do tesseract. Diz que uma descrição completa deste novo método, com ilustrações, está pronta para a impressão, e deve sair em um ano, desse modo pretendendo que estudantes deste assunto fascinante poderiam fazer bem em esperar sua publicação.

Sei que Madame Blavatsky, aludindo à teoria da quarta dimensão, expressou uma opinião que é só uma exposição tosca da idéia da inteira permeabilidade da matéria, e que W. S. Stead seguiu ao longo das mesmas linhas, apresentando esta concepção a seus leitores sob a denominação de pervasividade. Investigação cuidadosa, reiterada e detalhada, entretanto, parece mostrar muito conclusivamente que esta explanação não cobre todos os fatos. É uma perfeita descrição da visão etérica, mas a idéia ulterior e muito diferente da quarta dimensão como exposta pelo Sr. Hinton é a única que dá aqui algum tipo de explicação dos fatos constantemente observados da visão astral. Eu arriscaria respeitosamente sugerir que, quando Madame Blavatsky escreveu aquilo, tinha em mente a visão etérica e não a astral, e que a aplicabilidade estrita da frase a esta outra e mais elevada faculdade, na qual não estava cogitando no momento, não ocorreu a ela.

A posse deste poder extraordinário e escassamente descritível, então, deve ser tida em mente através de tudo o que se segue. Ele deixa cada ponto no interior de todo o corpo sólido absolutamente aberto à visão do vidente, exatamente como cada ponto no interior de um círculo está aberto à visão do homem que o observa.

Mas mesmo isto não é de modo nenhum tudo o que concede a seu possuidor. Ele vê não apenas o interior e o exterior de cada objeto, mas também sua contraparte astral. Cada átomo e molécula de matéria física tem seus átomos e moléculas astrais correspondentes, e a massa que surge disso é claramente visível ao nosso clarividente. Usualmente a parte astral de qualquer objeto projeta-se um pouco além de sua parte física, e assim os metais, pedras e outras coisas são vistos rodeados de uma aura astral.

Será visto prontamente que mesmo no estudo da matéria inorgânica um homem ganha imensamente pela aquisição desta visão. Não só ele vê a parte astral do objeto para o qual olha, e que antes lhe estava totalmente oculta; não só ele vê muito mais de sua constituição física do que via antes, mas mesmo o que antes lhe era visível agora é visto com muito maior clareza e verdade. Uma breve reflexão mostrará que sua nova visão o aproxima muito mais da verdadeira percepção do que o faz a vista física. Por exemplo, se ele olhar astralmente para um cubo de vidro, todos os seus lados parecerão iguais, como realmente o são, enquanto que no plano físico ele vê os outros lados em perspectiva – isto é, parecem menores do que o lado mais próximo, o que é, evidentemente, uma mera ilusão devida às limitações físicas.

Quando passamos a considerar as facilidades adicionais que isso oferece na observação dos objetos animados, vemos ainda mais claramente as vantagens da visão astral. Ela exibe ao clarividente a aura das plantas e animais, e assim, no caso destes, seus desejos e emoções, e quaisquer pensamentos que possam ter, estão todos nitidamente expostos diante de seus olhos.

Mas é no trato com seres humanos que ele mais apreciará o valor desta faculdade, pois ele freqüentemente será capaz de ajudá-los muito mais efetivamente quando se guiar pela informação que ela lhe der.

Ele será capaz de ver a aura tanto quanto o corpo astral, e ainda que deixe toda a parte superior do homem ainda escondida de seus olhos, de qualquer modo ele achará possível aprender muito sobre a parte mais elevada que está ao seu alcance. Sua capacidade de examinar o duplo etérico lhe dará vantagem considerável na localização e classificação de qualquer defeito ou doença do sistema nervoso, enquanto que pela aparência do corpo astral ele de imediato se cientificará de todas as emoções, paixões, desejos e tendências do homem que estiver diante de si, e mesmo também de muitos de seus pensamentos.

Ao olhar para uma pessoa a verá rodeada pela névoa luminosa da aura astral, resplandecendo com todos os tipos de cores brilhantes, e constantemente alterando os tons e fulgor de acordo com cada variação de sentimentos e pensamentos da pessoa. Ele verá esta aura inundada com o belo rosa da afeição pura, o rico azul do sentimento devoto, o embaçado e escuro marrom do egoísmo, o escarlate profundo da raiva, o horrível vermelho berrante da sensualidade, o lívido cinza do medo, as nuvens negras do ódio e da malícia, ou qualquer das outras centenas de indicações tão facilmente lidas nela pelo olho treinado; e assim será impossível para quaisquer pessoas esconder dele o estado real de seus sentimentos sobre qualquer assunto.

Estas várias indicações da aura são por si um estudo do mais profundo interesse, mas aqui não tenho espaço suficiente para tratar disso em detalhe, Um relato muito mais completo, junto com ilustrações coloridas, será encontrado em meu trabalho Man, Visible and Invisible (O Homem Visível e Invisível).

Não só a aura astral lhe mostra o resultado temporário da emoção que perpassa nele naquele momento, mas também lhe dá, pelo arranjo e proporção de suas cores quando em condição de comparativo repouso, uma chave para a disposição e caráter gerais de seu possuidor. Pois o corpo astral é uma expressão do tanto do homem que pode ser manifestado naquele plano, de modo que do que é visto nele, muito mais - que pertence aos planos superiores - pode ser inferido com certeza considerável.

Neste julgamento do caráter nosso clarividente será muito ajudado pelo quanto dos pensamentos da pessoa se expressem no plano astral, e conseqüentemente entram no seu campo de percepção. O verdadeiro lar dos pensamentos é o plano mental, e todo o pensamento se manifesta primeiro lá como uma vibração do corpo mental. Mas se de alguma maneira for um pensamento egoísta, ou se for ligado de qualquer forma com uma emoção ou desejo, imediatamente ele desce para o plano astral, e assume uma forma visível de matéria astral.

No caso da maioria dos homens quase todo o pensamento recairá em uma ou outra destas categorias, de modo que praticamente todas as suas personalidades se apresentarão claramente diante da visão astral do amigo, uma vez que seus corpos astrais e as formas-pensamento constantemente se irradiando deles lhe serão como um livro aberto, no qual suas características estarão tão desnudadas quanto o puder lê-las quem as olha. Qualquer um que deseje obter alguma idéia de como as formas-pensamento se apresentam à visão clarividente pode satisfazer-se até certo ponto examinando as ilustrações que acompanham o assunto no valioso artigo de Annie Besant publicado no Lucifer de setembro de 1896.

Estivemos estudando algo da alteração na aparência tanto de objetos animados como inanimados, quando vistos por alguém possuidor de visão clarividente plena até onde interessa ao plano astral; passemos a considerar como os objetos inteiramente desconhecidos serão vistos. Ele estará consciente de uma pletora muito maior na Natureza, em muitos sentidos, mas sua atenção será atraída principalmente pelos habitantes vivos deste novo mundo. Nenhuma descrição detalhada deles pode ser tentada dentro do espaço de que dispomos; para isso o leitor deve reportar-se ao Manual Teosófico nº V. Aqui não podemos fazer muito mais que meramente enumerar só umas poucas classes da vasta legião dos habitantes astrais.

Ele ficará impressionado pelas formas mutantes da incansável maré da essência elemental, sempre rodopiando ao seu redor, muitas vezes ameaçadora, mas geralmente se retirando mediante um esforço determinado da vontade; ele ficará maravilhado com o enorme exército de entidades temporariamente chamadas à vida separada neste oceano pelos pensamentos e desejos dos homens, seja bons ou maus. Ele observará as variadas tribos de espíritos da natureza em seu trabalho ou folguedos; algumas vezes será capaz de estudar com deleite crescente a magnífica evolução de algumas ordens inferiores do glorioso reino dos Devas, que correspondem aproximadamente à hoste angélica da terminologia Cristã.

Mas talvez de interesse ainda maior do que todos para ele serão os habitantes humanos do mundo astral, e ele os encontrará distinguíveis em duas grandes classes - os que chamamos vivos, e os outros, a maioria dos quais infinitamente mais vivos, que tolamente chamamos de mortos. Entre os primeiros ele encontrará aqui e ali algum plenamente desperto e consciente, talvez, enviado para trazer-lhe alguma mensagem, ou examiná-lo com atenção para verificar que progresso ele está fazendo; enquanto que a maioria de seus vizinhos, quando fora de seus corpos físicos durante o sono, flutuarão a esmo, tão envolvidos em suas próprias cogitações que se tornam praticamente inconscientes do que está acontecendo ao seu redor.

Entre as grandes hostes dos mortos recentes encontrará todos os graus de consciência e inteligência, e todas as variedades de caráter – pois a morte, que nos parece uma mudança tão absoluta para nossa visão limitada, na realidade não altera nada no próprio homem. No dia depois de sua morte ele é precisamente o mesmo homem que era no dia anterior, com a mesma disposição, as mesmas qualidades, as mesmas virtudes e vícios, exceto que terá abandonado seu corpo físico; mas a sua perda jamais faz dele um homem diferente de alguma forma mais do que o faria o tirar um casaco. Assim entre os mortos nossos estudantes encontrarão homens inteligentes e estúpidos, bondosos e rabugentos, sérios e frívolos, espiritualmente orientados e sensualmente orientados, exatamente como entre os vivos.

Uma vez que ele pode não apenas ver os mortos, mas também falar-lhes, ele pode muitas vezes ser de grande valia para eles, e dar-lhes informações e orientação que lhes será do mais alto valor. Muitos deles estão em uma condição de grande surpresa e perplexidade, e algumas vezes mesmo de aguda aflição, porque para eles os fatos do novo mundo são tão diferentes das lendas infantis que são tudo o que todas as religiões populares no Ocidente têm a oferecer com respeito a este assunto transcendentalmente importante; e portanto um homem que entende este novo mundo e pode explicar questões é nitidamente um amigo na necessidade.

De muitas outras formas um homem que possua plenas faculdades pode ser de utilidade para os vivos e para os mortos; mas este aspecto do assunto eu já abordei em meu livreto Invisible Helpers (Auxiliares Invisíveis). Além das entidades astrais ele verá cadáveres astrais – sombras e cascões em todos os estágios de desintegração; mas estes aqui só precisam de uma menção, pois o leitor que desejar uma descrição mais completa deles a encontrará nos nossos manuais, terceiro (Death – and After? – O que Há Além da Morte?) e quinto (The Astral Plane - O Plano Astral).

Um outro maravilhoso resultado que o pleno uso da clarividência astral traz ao homem é que ele já não sofre nenhuma interrupção de consciência. Quando ele deita à noite, ele dá ao seu corpo físico o descanso que precisa, enquanto vai para seu trabalho no muito mais confortável veículo astral. De manhã ele retorna e reassume o corpo físico, mas sem qualquer perda de consciência ou memória entre os dois estados, e assim ele é capaz de viver como que uma vida dupla, que é uma só, e ser usado utilmente todo o tempo, em vez de perder um terço de sua existência na inconsciência vazia.

Um outro estranho poder que o homem se vê de posse (mesmo que seu controle pleno pertença antes a uma faculdade devachânica mais elevada) é o de magnificar à vontade a mais mínima partícula física ou astral para qualquer tamanho desejado, como se fosse num microscópio – ainda que nenhum microscópio jamais construído ou sequer passível de o ser possua sequer a milésima parte deste poder magnificante. Através dele os hipotéticos átomos e moléculas postulados pela ciência se tornam realidades visíveis e vivas para o estudante do oculto, e no seu exame minucioso ele os descobre muito mais complexos em sua estrutura do que o homem de ciência jamais os concebeu. Isso também o habilita a acompanhar com a maior atenção e o interesse mais vivo todos os tipos de ação elétrica, magnética e etérica; e quando alguns dos especialistas de algum destes ramos da ciência estiverem aptos a desenvolver o poder de ver as coisas sobre as quais escrevem com tamanha desenvoltura, algumas revelações muito maravilhosas e belas podem ser esperadas.

Este é um dos siddhis ou poderes descritos nos livros Orientais como surgindo no homem que se devota ao desenvolvimento espiritual, mesmo que o nome sob o qual é mencionado não possa ser reconhecível de imediato. É falado como sendo "o poder de fazer-se grande ou pequeno à vontade", e a razão por que a descrição aparece tão em sentido oposto ao fato é que na verdade o método pelo qual esta façanha é executada é precisamente aquele indicado pelos antigos livros. É pelo uso de um mecanismo visual temporário de inconcebível pequenez que o mundo do infinitamente pequeno é visto assim tão claramente; e do mesmo modo (ou antes do modo oposto) é por aumentar temporariamente o tamanho do mecanismo usado que é possível aumentar a amplitude da visão de alguém – tanto no sentido físico como, esperamos, no moral – muito para além de qualquer coisa que a ciência jamais sonhou possível para o homem. Assim a alteração no tamanho realmente se dá no veículo da consciência do estudante, e não em nada externo a si mesmo; e o velho livro oriental, no fim das contas, colocou a questão com maior precisão do que nós.

A psicometria e a segunda-visão in excelsis também estão entre as faculdades que nosso amigo terá sob seu comando; mas estas serão melhor abordadas em uma seção posterior, uma vez que quase todas as suas manifestações envolvem clarividência seja no espaço como no tempo.

Eu indiquei, mesmo que nas linhas mais gerais, o que um estudante treinado, possuidor de visão astral integral, veria no mundo imensamente mais largo em que esta visão o introduziu; mas eu ainda não disse nada sobre a estupenda modificação em sua atitude mental que vem da certeza experimental sobre a existência da alma, sua sobrevivência após a morte, a ação da lei do karma, e outros pontos de importância igualmente fundamental. A diferença entre mesmo a mais profunda convicção intelectual e o conhecimento preciso obtido pela experiência direta pessoal deve ser experimentada a fim de ser bem avaliada.

CAPÍTULO 3

CLARIVIDÊNCIA SIMPLES: PARCIAL

As experiências do clarividente destreinado – e seja lembrado que esta classe inclui todos os clarividentes europeus exceto pouquíssimos – usualmente ficarão muito aquém do que tentei descrever; ficam aquém de diferentes modos – em grau, em variedade ou em constância, e sobretudo em precisão.

Algumas vezes, por exemplo, a clarividência de um homem será permanente, mas muito parcial, abrangendo talvez uma ou duas classes dos fenômenos observáveis; ele pode achar-se provido de apenas um fragmento isolado de visão superior, aparentemente sem possuir outros poderes de visão que normalmente deveriam acompanhar aquele fragmento, ou mesmo precedê-lo. Por exemplo, um dos meus amigos mais caros teve durante toda a vida o poder de ver o éter atômico e a matéria atômica astral, e reconhecer sua estrutura, seja à luz ou na escuridão, como interpenetrando tudo o mais; mas ele só raramente viu entidades cujos corpos são compostos dos éteres inferiores muito mais óbvios ou de matéria astral mais densa, e de qualquer forma não é capaz de vê-los sempre. Ele simplesmente se acha de posse desta faculdade especial, sem qualquer outra razão aparente para explicá-la, ou tendo alguma relação reconhecível com qualquer outra coisa; e além de provar-lhe a existência destes planos atômicos e seu arranjo, é difícil de ver qual utilidade específica isso tem para ele presentemente. Mas a coisa está lá, e é um prenúncio de coisas maiores que estão por vir – de poderes adicionais ainda esperando desenvolvimento.

Há muitos casos similares – similares, digo, não na posse daquela forma particular de visão (que é única em minha experiência), mas por mostrarem o desenvolvimento de alguma pequena parte da plena e clara visão dos planos astral e etérico. Em nove de dez casos, entretanto, uma clarividência assim parcial ao mesmo tempo também carecerá de precisão – isto é, haverá boa quantidade de impressões vagas e suposições, em vez da definição nítida e da certeza do homem treinado. Exemplos deste tipo são constantemente encontrados, especialmente entre os que se anunciam como "clarividência para testes e negócios".

Então, há novamente aqueles que são apenas temporariamente clarividentes sob condições especiais. Entre estes há várias subdivisões, alguns sendo capazes de reproduzir o estado clarividente à vontade desde que sejam dispostas as mesmas condições, enquanto para outros ele só vem esporadicamente, sem qualquer relação observável quanto ao ambiente, enquanto em outros os poderes se apresentam só uma ou duas vezes no curso de todas as suas vidas.

À primeira destas subdivisões pertencem os que são clarividentes só quando em transe mesmérico – os que quando não em transe são incapazes de ver ou ouvir qualquer coisa anormal. Estes podem às vezes alcançar grandes alturas de conhecimento e ser extremamente precisos em suas indicações, mas quando isso ocorre geralmente estão seguindo um curso de treinamento regular, ainda que por algumas razões permaneçam incapazes de se livrar do peso do laço terreno sem assistência.

Na mesma classe poderíamos colocar aqueles – principalmente orientais – que obtêm alguma visão temporária só sob influência de certas drogas, ou por meio da execução de certas cerimônias. O cerimonialista algumas vezes hipnotiza a si mesmo por suas repetições, e em tais condições se torna clarividente em alguma medida; mais freqüentemente ele se reduz a uma condição passiva na qual alguma outra entidade pode obsedá-lo e falar através dele. Algumas vezes, também, suas cerimônias não têm a intenção de afetar a si mesmo, mas de invocar alguma entidade astral que lhe dê a informação requerida; mas é claro que este é um caso de magia, e não de clarividência. Tanto as drogas quanto as cerimônias são métodos enfaticamente a serem evitados por qualquer um que deseje se aproximar da clarividência a partir do lado superior, e usá-la para seu próprio progresso e auxílio de outros. O médico ou curandeiro da África central ou o xamã da Tartária são bons exemplos deste tipo.

Aqueles para quem só ocasionalmente chega certa parcela de poder clarividente, e sem qualquer relação com sua própria vontade, freqüentemente têm sido pessoas histéricas ou muito nervosas, a quem estas faculdades são em grande medida um dos sintomas de sua doença. Seu aparecimento demonstra que o veículo físico chegou a tal enfraquecimento que já não oferece qualquer obstáculo para alguma porção de visão etérica ou astral. Um caso extremo desta classe é o homem que se embriaga até o delirium tremens, e na condição de absoluta ruína física e excitação psíquica impura acarretada pela destruição causada por aquela doença terrível, é capaz de ver nesta ocasião alguns elementais desagradáveis e outras entidades que ele atraiu a si por seu longo curso de permissividade bestial e degradada. Há, entretanto, outros casos onde o poder de ver aparece e desaparece sem relação aparente com o estado de saúde física; mas parece provável que mesmo nestes, se pudessem ser observados suficientemente de perto, alguma alteração no duplo-etérico teria sido percebida.

Aqueles que tiveram um único evento clarividente a relatar em toda a sua vida formam uma faixa difícil de classificar inteiramente, por causa da grande variedade de circunstâncias participantes. Há muitos dentre estes para quem a experiência ocorre em algum momento supremo de suas vidas, quando é compreensível que possa ter havido uma exaltação temporária da faculdade que seria suficiente para explicá-la.

No caso de uma outra subdivisão destes, o caso isolado tem sido a visão de uma aparição, mais usualmente de um amigo ou parente no momento de sua morte. Duas possibilidades são então oferecidas para nossa escolha, e em cada uma delas o forte desejo do moribundo é a força geradora. Esta força pode tê-lo capacitado a se materializar por um momento, caso em que obviamente nenhuma clarividência era requerida; ou mais provavelmente pode ter agido mesmericamente sobre o percebedor, e momentaneamente restringido seu físico e estimulado sua sensibilidade superior. Em ambos os casos a visão é produto de uma emergência e não é repetida simplesmente porque as condições necessárias não são repetidas.

Permanece, entretanto, um insolúvel resíduo de casos nos quais um evento isolado ocorre pelo exercício de indubitável clarividência, enquanto já a ocasião nos parece inteiramente trivial e desimportante. Sobre estes podemos somente tecer hipóteses; as condições determinantes evidentemente não estão no plano físico, e seria necessária uma investigação separada para cada caso antes que pudéssemos falar com alguma certeza sobre suas causas. Em alguns tem parecido que uma entidade astral estava tentando fazer alguma comunicação, e foi capaz de imprimir apenas detalhes superficiais sobre o assunto – a parte útil ou significativa do que tinha a dizer falhando em alcançar a consciência do indivíduo.

Na investigação dos fenômenos da clarividência todos estes tipos variados e muitos outros serão encontrados, e um certo número de casos de mera alucinação quase certamente também aparecerão, e terão de ser cuidadosamente excluídos de nossa lista de exemplos. O estudante de um assunto como este precisa de uma reserva inexaurível de paciência e perseverança constante, mas se ele prosseguir tempo bastante ele começará fracamente a discernir ordem por trás do caos, e gradualmente conseguirá alguma noção das grandes leis sob que trabalha toda a evolução.

Será de grande ajuda se em seus esforços ele adotar a ordem que acabamos de seguir – isto é, se ele se der ao trabalho de primeiro familiarizar-se o quanto possa com os fatos reais a respeito dos planos relacionados com a clarividência. Se ele aprender o que realmente existe lá para ser visto com a visão etérica e astral, e quais são suas respectivas limitações, ele terá então, diríamos, um parâmetro com que comparar os casos que ele observar. Uma vez que todos os exemplos de visão parcial devem necessariamente se encaixar em algum nicho deste conjunto, se ele tiver na cabeça uma idéia do esquema inteiro, ele achará comparativamente fácil, com um pouco de prática, classificar os exemplos com que for chamado a lidar.

Ainda não dissemos nada sobre as ainda mais maravilhosas possibilidades da clarividência no plano mental, nem mesmo é necessário que muito se diga, já que é extremamente improvável que o investigador encontre qualquer caso exceto entre discípulos adequadamente treinados em alguma das escolas mais elevadas de Ocultismo. Para estes já se abre um mundo inteiramente novo, muito mais vasto do que todos abaixo dele – um mundo no qual tudo que podemos imaginar sobre a mais excelsa glória e esplendor é o estado comum de existência. Algumas indicações sobre suas maravilhosas propriedades, sua inefável bem-aventurança, suas magníficas oportunidades de aprendizado e de trabalho, são dadas no sexto de nossos manuais Teosóficos, e a ele o estudante pode se dirigir.

Tudo o que tem a oferecer – pelo menos tudo o que se pode assimilar – está dentro do alcance do discípulo treinado, mas para o clarividente destreinado, atingí-lo dificilmente representa mais do que uma possibilidade remota. Tem sido realizado em transe mesmérico, mas a ocorrência é extremamente rara, pois requer qualificações quase sobre-humanas no sentido de elevadas aspirações espirituais e absoluta pureza de pensamento e intenção tanto de parte do paciente como do operador.

Para um tipo de clarividência como esta, e ainda mais completamente para aquela que pertence ao plano imediatamente acima, pode ser aplicado com justiça o nome de visão espiritual; e uma vez que o mundo celestial ao qual abre nossos olhos existe todo à nossa volta aqui e agora, basta que seja feita esta menção passageira a ela sob o nome de clarividência simples, ainda que possa ser necessário aludir a ela novamente quando tratarmos com a clarividência no espaço, à qual passaremos agora.

CAPÍTULO 4

CLARIVIDÊNCIA ESPACIAL: VOLUNTÁRIA

Definimos esta como a capacidade de ver eventos ou cenas distantes do observador no espaço e afastadas demais para a observação normal. Seus exemplos são tão numerosos e tão variados que achamos desejável tentar uma classificação deles um pouco mais detalhada. Não importa muito qual ordenação particular adotemos, desde que seja abrangente o bastante para incluir todos os casos; talvez uma conveniente seja os agruparmos sob as amplas divisões de clarividência espacial voluntária e involuntária, com uma classe intermediária que poderia ser descrita como semi-voluntária – um título curioso, mas o explicarei mais tarde.

Como antes, iniciarei indicando o que é possível ao longo desta linha para o vidente completamente treinado, e tentando explicar como suas faculdades operam e sob quais limitações atua. Depois disso nos encontraremos em posição melhor para tentarmos entender as múltiplas manifestações da visão parcial e da destreinada. Discutamos, em primeiro lugar, a clarividência voluntária.

Será óbvio, a partir do que foi dito antes sobre o poder da visão astral, que qualquer um que o possua em plenitude será capaz de ver por seu intermédio praticamente qualquer coisa neste mundo que ele queira ver. Os lugares mais secretos estão descobertos à sua visão, e os obstáculos no caminho não têm existência para ele, por causa da mudança em seu ponto de vista; de modo que se lhe concedermos o poder de se mover no corpo astral ele poderá sem dificuldade ir para toda parte e ver qualquer coisa dentro dos limites do planeta. Na verdade isso lhe é possível em grande medida mesmo sem a necessidade de deslocar-se no corpo astral, como logo veremos.

Detenhamo-nos mais nos métodos pelos quais esta visão supra-física pode ser usada para observar eventos que têm lugar à distância. Quando, por exemplo, um homem aqui na Inglaterra vê com minúcia de detalhes algo que está acontecendo no mesmo momento na Índia ou na América, como isto é feito?

Uma hipótese bem engenhosa foi oferecida como explicação do fenômeno. Foi sugerido que todo objeto está perpetuamente emitindo vibrações em todas as direções, similares aos raios da luz em alguns aspectos, mas definitivamente muito mais sutis, e que a clarividência não é nada senão o poder de ver por meio destas vibrações mais sutis. Neste caso a distância não impediria a visão, todos os objetos que estivessem no caminho seriam atravessados por estes raios, que seriam capazes de se cruzar em infinitas direções sem confusão, precisamente como o fazem as vibrações da luz comum.

Mas ainda que este não seja exatamente o modo como a clarividência atua, a teoria outrossim é correta na maior parte de suas premissas. Cada objeto indubitavelmente está emitindo radiações em todas as direções, e é precisamente desta maneira, ainda que em um plano superior, que os registros akáshicos parecem ser formados. Sobre estes será preciso falar algo em nossa próxima seção, de modo que por ora só os mencionaremos. Os fenômenos da Psicometria também são dependentes destas radiações, como a seguir explicaremos.

Existem, entretanto, certas dificuldades práticas no caminho de usarmos estas vibrações etéricas (pois é o que são, é claro) como o substrato por cujo intermédio se possa ver qualquer coisa que aconteça à distância. Os objetos intermédios não são inteiramente transparentes, e como os atores na cena que o experimentador tentar observar serão igualmente semi-transparentes [no original consta transparentes, mas deve ter havido algum lapso do autor ou do editor, pois pelo que já foi dito o caso não é este, em se tratando da visão etérica – NT], é óbvio que muito provavelmente sucederá uma confusão séria.

A dimensão adicional que entraria em jogo se as radiações astrais fossem percebidas em vez das etéricas resolveria algumas das dificuldades, mas por outro lado introduziria algumas novas complicações por sua própria conta; de modo que para propósitos práticos, ao tentarmos entender a clarividência, podemos excluir de nossas mentes esta hipótese das radiações, e voltar aos métodos de visão à distância que verdadeiramente estão à disposição do estudante. Será descoberto que existem cinco: quatro deles sendo realmente variedades de clarividência, enquanto que o quinto não se encaixa propriamente sob esta denominação, mas pertence ao domínio da magia. Passemos a esta última em primeiro lugar, e a retiremos então do caminho.

1. Pela assistência de um espírito da natureza.

Este método não envolve necessariamente a posse de qualquer faculdade psíquica da parte do experimentador; ele precisa apenas saber como induzir algum habitante do mundo astral a realizar a investigação por ele. Isto pode ser feito seja por invocação seja por evocação; isto é, o operador pode ou persuadir seu coadjuvante astral através de preces ou oferendas para que lhe ajude como deseja, ou pode forçar sua ajuda pelo emprego de uma vontade altamente desenvolvida.

Este método tem sido praticado largamente no Oriente (onde a entidade empregada usualmente é um espírito da natureza) e na velha Atlântida, onde os "senhores da face tenebrosa" usavam uma variedade altamente especializada e daninha de elemental artificial para este propósito. A informação é obtida às vezes do mesmo modo que nas sessões espíritas de hoje, mas naquele caso o mensageiro empregado mais comumente é um ser humano recentemente falecido atuando mais ou menos livremente no plano astral – ainda que mesmo aqui às vezes haja um espírito da natureza envolvido, que se diverte aparecendo como se fosse um parente falecido. Em qualquer caso, como eu disse, este método não é clarividência, mas magia; e é mencionado aqui somente a fim de que o leitor possa evitar confusão ao tentar classificar os casos de seu conhecimento sob alguma das classes seguintes.

2. Por meio de uma corrente astral

Esta é uma frase empregada freqüentemente mas de modo um tanto vago para abranger uma variedade considerável de fenômenos, e dentre outros os que desejo explicar. O que realmente é feito pelo estudante que adota este método não é tanto a colocação em movimento de uma corrente na matéria astral, mas é como se construísse uma espécie de telefone temporário com ela.

É impossível dar aqui uma descrição completa da física astral, mesmo que eu dispusesse do conhecimento necessário para fazê-lo; mas tudo o que preciso dizer é que é possível fazer na matéria astral uma linha de conexão definida que atua como uma linha telefônica para veicular vibrações por meio das quais tudo o que se passa do outro lado da linha pode ser visto. Uma linha destas não é estabelecida, bem entendido, por uma projeção direta de matéria astral através do espaço, mas antes pela ação sobre uma linha (ou antes muitas linhas) de partículas daquela matéria, de modo que as torna capazes de atuar como condutores para as vibrações do tipo requerido.

Esta ação preliminar pode ser executada de duas maneiras – seja pela transmissão de energia de partícula a partícula até que se forme a linha, ou pelo uso de uma força a partir de um plano superior que seja capaz de agir sobre toda a linha de uma vez. É claro que este último método implica um desenvolvimento muito maior, uma vez que envolve o conhecimento de (e o poder de empregar) forças de um nível consideravelmente mais alto; de modo que um homem que fosse capaz de formar uma linha deste jeito não precisaria, para seu próprio uso, de uma tal linha, uma vez que poderia ver muito mais fácil e completamente por meio de uma faculdade toda mais elevada.

Mesmo a operação mais simples e puramente astral é algo difícil de descrever, ainda que facílimo de executar. Pode ser dito que se aproxima da natureza da magnetização de uma barra de ferro, pois consiste no que chamamos de polarização, por obra de um esforço da vontade humana, de um número de linhas paralelas de átomos astrais entre o operador e a cena que ele deseja observar. Todos os átomos assim afetados são mantidos durante o período com seus eixos rigidamente paralelos entre si, de modo a formarem temporariamente uma espécie de tubo por onde o clarividente possa enxergar. Este método tem a desvantagem de que a linha telefônica está sujeita a desarranjo ou mesmo destruição por qualquer corrente astral suficientemente forte que aconteça de lhe cruzar o caminho; mas se o esforço original de vontade for bastante definido, esta será uma contingência bastante rara.

A visão de uma cena distante obtida por meios desta "corrente astral" de muitas formas não é dessemelhante à que é vista com um telescópio. Usualmente as figuras humanas aparecem bem pequenas, como as que estão num palco distante, mas a despeito de seu tamanho diminuto são tão nítidas como se estivessem perto. Às vezes é possível por este meio ouvir o que é dito assim como ver o que é feito; mas como na maioria dos casos isso não ocorre, devemos considerá-los antes como uma manifestação de um poder adicional do que um corolário obrigatório da faculdade de visão.

Será observado que neste caso o vidente usualmente não deixa o seu corpo físico; não há nenhum tipo de projeção de seu veículo astral ou de alguma parte de si mesmo para onde ele está olhando, mas simplesmente constrói para si um telescópio astral temporário. Conseqüentemente, ele mantém, até certo grau, o uso de seus poderes físicos mesmo enquanto examina a cena distante; por exemplo, sua voz normalmente estará sob seu controle, de modo que ele pode descrever o que viu mesmo enquanto estava no ato de realizar suas observações. A consciência do homem, de fato, ainda fica nitidamente com ele deste lado da linha.

Isto, entretanto, tem suas limitações assim como suas vantagens, e estas largamente se assemelham às limitações do homem que usa um telescópio no plano físico. O experimentador, por exemplo, não tem o poder de mudar seu ponto de vista; seu telescópio, por assim dizer, tem um campo de visão específico que não pode ser aumentado ou alterado; ele está olhando para a cena a partir de certa direção, e não pode subitamente contorná-la e ver como ela aparece do outro lado. Se ele tem energia psíquica suficiente para gastar, ele pode abandonar inteiramente o telescópio que estiver usando e manufaturar um todo novo para si, que enfocará seu objeto de um ângulo diferente; mas este procedimento provavelmente não seria adotado na prática.

Mas, poderia ser dito, o mero fato de que ele está usando a visão astral deveria permitir-lhe ver a cena de todos os lados de uma vez. Assim seria se ele estivesse usando esta visão do modo normal para um objeto que lhe estivesse próximo – dentro de seu alcance astral, por assim dizer; mas à distância de centenas ou milhares de quilômetros o caso é muito diferente.

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