quarta-feira, 25 de março de 2009

A Catedral da Alma

Emblema Sagrado dos Illuminati Svmmvm Bonvm
pelo S+B Illuminatus Frater Velado (*)
Irmão Leigo da Ordem Rosacruz
Iniciado do 7º Grau do Faraó



Durante oito anos como eremita sob a Regra de São Bento entoei milhares e milhares de vezes o Gloria Patri (fundo musical desta página), pois é o mantra Católico Apostólico Romano que fecha a entoação de um salmo, para que se possa passar para o seguinte ou encerrar a seqüência estabelecida no Psalterium Monasticum pelo próprio São Bento. Usando um hábito beneditino e recolhido à solidão do eremitério essas orações em Latim eram, três vezes ao dia (ao amanhecer, as Matinas; à tarde, Laudes; e à noite, Completas) o meu meio de contato com os Planos Superiores do Cósmico. Como Rosacruz eu não havia podido ingressar no âmbito do cenóbio e tornara-me anacoreta, sendo na prática eu mesmo o meu Abade. Todas as vezes em que entoava o Gloria Patri a imagem que me vinha à mente era a da Catedral da Alma, a imagem que ilustra o alto deste pequeno trabalho – uma criação mental de um protestante, o Dr. Harvey Spencer Lewis, organizador da AMORC, a Ordem Rosacruz da qual eu me tornara membro vitalício, após quase três décadas de estudos contínuos e ininterruptos. O Dr. Spencer Lewis havia idealizado um lugar sagrado no espaço intemporal, longe do burburinho e da trepidação do dia-a-dia, no qual os estudantes da AMORC pudessem se reunir mentalmente, para um congraçamento que era, também e principalmente, um encontro com os Mestres Cósmicos. Por suas raízes Cristãs, já que fora um pregador de sucesso, e apesar de ter sido membro da Ordo Templi Orientis (OTO), que com Aleister Crowley passara a ser essencialmente anti-Cristã, o Dr. Spencer Lewis construiu sua criação mental em moldes religiosos: uma Catedral da Alma com a forma de uma igreja convencional, e deu-lhe o nome de Sanctum Celestial.

Essa construção mental foi um marco no esoterismo ocidental da época, porque até então nenhum místico havia idealizado algo parecido. Aparentemente os esoteristas da época dedicavam-se de tal modo e com tal afinco às suas atividades místicas e ocultistas pessoais que, na prática, quase nada construíam que tivesse um real interesse coletivo para os estudantes de misticismo e tudo se resumia em escrever ensaios e/ou apresentar tratados – a maioria dos quais alegadamente ditados por Mestres Cósmicos. Quando Spencer Lewis projetou sua criação mental no espaço astral, com aquela forma e aquele alicerce metafísico, a Lei do triângulo, na qual tudo o que existe, existiu e está por existir se baseia, funcionou, mais uma vez, no Ocidente, com fundamento na Santíssima Trindade, que o Gloria Patri exalta para a sublimação do êxtase místico via harmonização pela oração. Como não poderia deixar de ser, em uma sociedade construída em cima do Cristianismo, o sucesso de tal criação mental foi simplesmente fantástico. Era naquele lugar místico totalmente imune ao envenenamento mental que os estudantes da AMORC de todas as partes do mundo se recolhiam e se encontravam, em períodos de Sanctum que não podem ser descritos com meras palavras ou sequer mostrados em imagens artísticas. Talvez apenas a música sacra, o canto gregoriano, possa produzir ao alcance de todos uma réplica do clima místico harmoniosamente vivenciado por todos na Catedral da Alma, no congraçamento da Paz Profunda. Dificilmente alguma religião poderia propiciar algo parecido.

Ali, no Sanctum celestial, os estudantes da AMORC não só recebiam instruções especiais diretamente dos Mestres Cósmicos como também tinham a oportunidade de realizar e receber curas para todos os tipos de aflições que desde o alvorecer da autoconsciência atormentam o ser humano, constituindo-se na cruz das adversidades sobre a qual a rosa da evolução deve desabrochar para a compreensão dos Planos Superiores, indo até acima das Polaridades que regem o mundo dual. Lembro-me nitidamente, como se fosse hoje, com que grande emoção recebi pelo correio o Líber 777, a publicação da AMORC que tratava especificamente da Catedral da Alma. Aquilo era algo muito especial e totalmente novo, simplesmente porque se situava, realmente, em um Plano muito acima dos desgostos e das desilusões que, com o passar do tempo, acabam quase sempre por embotar a religiosidade dos fiéis das várias religiões, principalmente daquelas marcadas pelo farisaísmo e pela prática de violências e outras indignidades praticadas “em nome de Deus”. Considero, por esse motivo, que a Catedral da Alma foi a construção mental mística mais bem sucedida da modernidade, principalmente por sua importância coletiva, atingindo e servindo a uma congregação internacional que, á época, andava pela casa dos 260 mil membros. Essa notável expansão dava bem a medida do sucesso que a AMORC havia alcançado no mundo.

Durante muitos anos o Sanctum Celestial foi tido e havido como a imagem da Egrégora da AMORC, embora isso não fosse exatamente assim, já que, por suas origens remontando ao Antigo Egito, fundamentava-se basicamente no tradicional símbolo da pirâmide, que significa Hierarquia e Evolução sobre uma base solidamente assentada na realidade humana. De qualquer forma, não se afigurava estranho para os estudantes da AMORC entoar o mantra OM (AUM) no interior da Catedral da Alma, de aspecto gótico, e nem ali se deparar, talvez, com tradicionais figuras de Khem, como a do próprio Akhenaton, o Nisut que proclamou o monoteísmo, balançando, por algum tempo, todo um panteão também construído mentalmente pelo homem com base em noções e símbolos provenientes de fontes extraterrestres. Isso tudo mostra o natural ecumenismo que vigora no Todo Existente, no qual há apenas e tão-somente várias interpretações para uma mesma coisa, que quase todos simplesmente não sabem direito o que seja. E foi assim que a Catedral da Alma foi cumprindo sua dupla missão de ser a sede de encontros místicos mentais e a representação de uma coletividade voltada para a Luz Maior.

Em certa época das atividades da AMORC foi decidido que tais eram os benefícios gerais produzidos pela Catedral da Alma que esta deveria ser franqueada ao público em geral – e assim foi feito. Um livreto com instruções foi produzido para distribuição pública, a fim de que todas as pessoas interessadas pudessem freqüentar mentalmente a Catedral da Alma – ou pelo menos tomar conhecimento da existência dessa possibilidade. Em matéria de misticismo prático essa foi realmente um inovação sem precedentes, pois o que se estava fazendo era mostrar aos chamados profanos as portas da Esfera Celestial realmente alcançável. Essa teria sido, provavelmente, a primeira grande democratização do esoterismo em um mundo que teimava em manter trancados a sete chaves todos os ensinamentos esotéricos, religiosos e não-religiosos, na tentativa que promover uma preservação que, em termos práticos, resultava apenas na formação de uma suposta elite de iluminados. O grande mérito dessa inovação sem precedentes e que, aparentemente, parecia arranhar as redomas da Tradição, era mostrar claramente que a Luz era algo para ser difundido e não para ficar restrito a algum tipo de âmbito privilegiado, formando nichos inalcançáveis pela maioria dos simples mortais. Creio que daí deve ser tirada uma grande lição, para ser aplicada em todas as circunstâncias: a Evolução tem de estar ao alcance de todos e o mais amplamente possível. Senão, de que adiantaria a alguém assumir a missão de ser portador da Luz? Logicamente que tudo isto é aqui dito em tese e dentro dos limites do razoável – mesmo porque todos os tipos de instrução mística requerem como condição sine qua non a gradatividade, já que o aprendizado do misticismo é por efeito cumulativo, compreendendo vários degraus perfeitamente definidos, não existindo a possibilidade de queimar etapas.

A construção mental da Catedral da Alma e sua posterior abertura ao público em geral são dois marcos na História do Misticismo que não podem ser esquecidos e devem ser constantemente trazidos à memória dos estudantes, para que estes, meditando sobre tais fatos, cheguem por si próprios às conclusões metafísicas que se situam acima das meras interpretações pessoais e estão sempre voltadas para a constante necessidade de se trabalhar por um mundo melhor para todos os seres.

Estejamos sempre atentos, para que não se perca a Luz de vista!



Svmmvm Sanctissimvs Illvminatvs,

25 de Abril de 2005 CE



Per Novus Ordo Seclorum,


Frater Velado, Abade para o Terceiro Mundo
Sacrossanctae Ordo Svmmvm Bonvm
http://svmmvmbonvm.org/

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