terça-feira, 12 de maio de 2009

A campanha entre a polícia e a Justiça

Enquanto o presidente-candidato e a oposição quebravam a cabeça para entender e interpretar o sobe-e-desce das últimas pesquisas, o governo e a campanha foram abalroados pela traseira com a violenta trombada da denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza - um nome para se gravar na memória destes tempos de decepção - que esmiuçou o esquema do mensalão e do caixa dois e não deixou pedra sobre o pântano.

Na relação dos 40 envolvidos na maior trapaça da nossa suja crônica eleitoral, desde que o voto iniciou a caminhada vacilante das fraudes e trapaças que nos envergonham, desfilam, de braços dados, a cúpula petista, ministros, ex-ministros e assessores do presidente Lula, valérios, dudas, parlamentares, empresários, empreiteiros e demais integrantes do bloco da corrupção.

Com a carga atômica a campanha implodiu e é preciso juntar os cacos, rezar na Semana Santa e recomeçar com novo discurso e a escovadela em regra nos cuidados éticos.

Entre os destroços, coberto de poeira e o cheiro de mofo da velharia imprestável, a evidência de que o singular estilo presidencial da omissão deliberada, da fuga aos compromissos no esconderijo das desculpas de que ''nada ouviu, de nada sabe'', necessita de recauchutagem em regra, como os pneus gastos até a lona.

É aconselhável incluir na faxina a reformulação de campanha para o seu ajuste às normas da decência e do respeito à respeitabilidade do mandato presidencial, que o titular pretende duplicar. O candidato Lula não engana a ninguém, nem se engana, na comédia do faz-de-conta que ainda não é candidato, enquanto há mais de três meses não faz outra coisa senão caçar o voto, sem gastar um centavo, com tudo pago pela Viúva - que ainda garante o palanque e o auditório bem comportado para ouvir e aplaudir os improvisos de autolouvação ao ''maior presidente que este país já teve'' e que realiza ''o maior governo de todos os tempos''.

A mistificação colheu o seu resultado, mas iludiu mais do que garantiu votos. Desde as primeiras pesquisas - e especialmente nas últimas - os tímpanos de advertência disparam e só os moucos e os que tamparam os ouvidos não se alarmaram com o estridente som das campainhas. Nas simulações do primeiro turno da fase de pré-campanha, os índices percentuais de Lula pendularam entre 37,5% e 40%, com oscilações para baixo na faixa da margem de erro.

Ora, é pouco, muito pouco para o único candidato em campanha, com abundante exposição na mídia, presença obrigatória nos noticiários da manhã, da tarde, da noite e da madrugada de todas as redes de televisão e repique nos jornais e revistas. E que fala pelos cotovelos para dizer o que lhe vem à boca, sem o filtro da conveniência. Usando e abusando da máquina do poder, da estrutura do governo com a indigente desculpa da inauguração de coisa nenhuma ou do lançamento de programas fictícios.

Com tais privilégios do exercício do mandato - assegurados pela tolerância ou a falha da emenda da reeleição montada e executada pelo primeiro beneficiário, o presidente Fernando Henrique Cardoso - Lula deveria estar flutuando acima das nuvens e tormentas, pelas alturas de mais de 60%, além da maioria absoluta que garantiria a liquidação da fatura nas urnas do primeiro turno, a 1° de outubro, daqui a seis meses e meio.

Soou a hora de calçar os ásperos tamancos da humildade e reconhecer que o governo, o PT, o candidato e a campanha estacionaram a porta da Justiça e terão que cair na defensiva.

A luta mudou de ringue. E as velhas alegações de parcialidade do Conselho de Ética, das CPI dos Bingos, dos Correios, do Mensalão, das denúncias do mensalão e do caixa dois, do caseiro Francenildo Costa que levaram o primeiro ministro Antonio Palocci a pedir o boné, foram assumidas e passam para a responsabilidade da Justiça, encaminhadas pelo corregedor- geral da República, Antônio Fernando de Souza, ao Supremo Tribunal Federal (STF) desde o dia 30 de março.

Chega em boa hora para um banho de ética nos três poderes. No Executivo com salpicos de lama do maior escândalo de todos os tempos. No Congresso exposto ao desprezo do país com o samba da passista-deputada Ângela Guadagnin, no show da absolvição dos acusados de receber gordas propinas do valerioduto e, no Supremo, certamente constrangido com a calamitosa presidência do ministro Nelson Jobim e que ainda rende embaraços, como a denúncia, muito mal explicada, do recebimento de R$ 28 mil como adicionais por viagens feitas em 2005, com passagens e despesas integralmente pagas pelas empresas que o convidaram.

O ex-ministro Jobim justificou-se, apelando para a explicação que como as viagens tiveram cunho oficial, o recebimento das diárias é legal.

Essas coisas sempre têm uma boa desculpa. Mas, é melhor quando não acontecem e dispensam a prova da inocência.

# Villas-Bôas Corrêa (villasbc@uol.com.br) escreve às quartas e sextas-feiras.

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