sábado, 22 de setembro de 2012

A Imprensa Marrom

 
Cadeia para os "gangsters"
É em ocasiões como esta que o repórter sente a pobreza do nosso vocabulário. Porque não há palavras exatas para definir o que era na realidade essa nauseante imprensa marrom. Aliás, nem a denominação de imprensa marromé correta. Isso que circulava por aí, em forma de revistas como EscândaloIndiscretaCódigo SecretoMoral e outras, nunca foi imprensa. Dom Hélder Câmara disse bem, ao afirmar que Confidencial e sua coirmãs não passavam de simples caso de Polícia. Não eram impressas a tinta, mas a lama. Representavam, nas mãos dos seus donos, o mesmo papel do pé-de-cabra nas mãos do ladrão, e do revólver nas mãos do assaltante. A chantagem era a grande fonte de renda. Pela chantagem conseguiram os gangsters da pena arranjar bons empregos. Pela chantagem lançaram o opróbrio sôbre pessoas de tôdas as classes sociais. O achaque persistente, insistente, desesperante, abrangia desde as coristas da Praça Tiradentes até o lar de ministros. E nem Dom Hélder Câmara escapou de ameaças de escândalo. A história da nomeação dêsses abutres para polpudos cargos na administração da Gunabara, quando ainda éramos Distrito Federal, é vergonhosa demais para ser contada ao público. Mas êste repórter pode dar a fonte onde, quem quiser saber, poderá ter tôdas as informações sôbre como êles foram nomeados. É só conversar com os jornalistas credenciados na ex-Câmara de Vereadores do Distrito Federal. Êsses piolhos da imprensa bateram fotografias de determinada figura da administração pública, em situação comprometedora com determinada senhora, e propuseram: ou o emprêgo ou a publicação da foto. E dizer-me que ninguém, até hoje, havia ainda aplicado, a êsses malandros, o castigo que mereciam. É verdade que certa vez Freddy Daltro quase foi morto na barra da Tijuca, por ter injuriado famosa cantora de rádio. Mas a lição não lhe valeu. Continuou por aí, impunemente, atassalhando a dignidade de meio mundo, e o que é pior, mantendo ligação estreita com elementos da Polícia, que eram seus informantes. Possuíam porte de arma, concedido a mando da chefia do Gabinete. E os próprios policiais, denunciados como amigos e protetores dos abutres, justificaram-se dizendo que tinham mêdo dêles! Até parece que essas revistas - que poderiam ter sido fechadas com uma penada, por atentaram contra o decôro público -, representavam um império de fôrça, que amedrontava meio mundo. Ainda agora, quando o Governador Sette Câmara ordenou a formação de uma comissão de inquérito, para sacudir no ôlho da rua os piratas marrons, houve um diretor de administração do Estado da Gunabara, um certo senhor Byron, que teve o peito de vir a público dizer que êles, lá dentro, eram bons funcionários. E quando a comissão de inquérito deu seu parecer, deixando a porta aberta à exoneração pelo Governador Sette Câmara, surge outro cavalheiro, um certo senhor Barçante, para torcer as conclusões do inquérito, protegendo os crápulas. Chego a pensar que a covardia, ou o comodismo de muitos, é que favoreceu a proliferação das revistas de chantagem. Freddy Daltro, Alberto Conrado (A. Cordeiro), Waldemiro Barbosa da Silva, Delorme Amaral, Hercules Woyames (ex-comunista) enfrentavam, com desfaçatez incrível, a sociedade brasileira, os homens públicos, e até o fim de sua carreira de gangsters continuavam arreganhando os dentes, fazendo ameaças, prometendo voltar com outras revistas, outros jornais, para cobrir de lama o nome daqueles que os combateram e os castigaram. E a essa altura, aparece um Romeiro Neto, com aquela conhecida babinha no canto da bôca, para defender os escroques. Dou parabéns ao criminalista Evandro Lins - meu adversário no caso de contrabandista de Corumbá, Carivaldo Salles - , porque achou indigno demais defender criminosos dessa espécie. E parabéns também ao presidente da Ordem dos Advogados, por ter se manifestado no mesmo sentido. Dou até parabéns ao Wilson Lopes dos Santos, por estar como auxiliar da acusação contra os vermes marrons, contratado pela família de Elzevir Pereira da Silva, o môço que se suicidou, de pavor da gang. Só Romeiro Neto é que topou defender os monstros. Que triste sina está marcando o fim de carreira daquele que foi um mestre da tribuna, um criminalista que a gente admirava porque não podia deixar de admirar.
Os marginais já estão na rua. Sette Câmara sacudiu-os, com um decreto, à sarjeta, o lugar de onde vieram, e de onde nunca deveriam ter saído. Poque o habitat dêles é o bueiro. Que coisa repugnante era a presença dêsses ratos humanos no funcionalismo da Guanabara. Sua função era dar pareceres sôbre processos. Imagine-se o que deveria estar acontecendo lá dentro. Gangsters fazendo relatórios de processos! E ainda havia lá o certo senhor Byron, que dizia serem êles, bons funcionários. Mal assinavam o ponto e ganhavam 25 mil cruzeiros por mês, enquanto muitos pracinhas, tuberculosos ou na miséria, comparecem diàriamente ao mercado para apanhar restos de verduras, ou frangos mortos, jogados fora. Se êles já estão na rua, a missão da imprensa sadia, a verdadeira imprensa, e a dos homens públicos que se aliaram nessa operação-limpeza ainda está longe de ter terminado. Só se encerrará quando os Freddys Daltros e A. Cordeiros cruzarem os portões da cadeia. Nos Estados Unidos, diretores de uma revista semelhante, que também vivia da chantagem e do atassalhamento da honra alheia, estão cumprindo 30 anos de prisão. Aqui, êles mereciam pena igual porque causaram a morte do cinegrafista Elzevir, tantas foram as ameaças de chantagem e escândalo que lhe fizeram. Por outro lado, é chegada a hora de se fazer uma revisão geral nos registros dos jornalistas de todo o Brasil. Há pasquins circulando por aí que só diferem de Confidencial e Escândalo no nome. Os Sindicatos de Jornalistas e a Associação Brasileira de Imprensa precisam fazer uma limpeza em regra nos seus quadros. Não é justo escroques dêsse jaez estejam agindo por aí, de pistola em punho, enlameando o bom nome de uma classe. É necessário que se crie no Brasil a Ordem dos Jornalistas, como existe a Ordem dos Advogados, para fiscalizar a conduta dos profissionais da imprensa - antiga idéia do veterano Carlos Eiras. E o público tome nota: se algum dia aparecer um dêsses gangsters - o que não acredito - pedindo dinheiro, ou com ameaças, agarre-o pelo colarinho e leve-o, imediatamente, ao Distrito Policial mais próximo. Mesmo que depois apareça o Romeiro Netto para defender o bandido.

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