domingo, 14 de outubro de 2012

O Bambu


História

O bambu é uma matéria-prima muito utilizada em diversas partes do mundo para os mais variados fins. No Brasil, no entanto, ainda não se aproveita todo o potencial dessa gramínea gigante.
A espécie vegetal conhecida vulgarmente por bambu pertence à família das Gramineae e apresenta mais de mil espécies espalhadas pelo mundo. A maioria das espécies encontra-se distribuída nos Continentes Asiático e Americano. A Ásia é o maior centro de biodiversidade do bambu, podendo ser considerada seu berço, principalmente pela grande aceitação que o bambu encontra junto à população.
Devido às suas múltiplas utilizações e pela facilidade em se efetuar seu plantio, o bambu é considerado, principalmente pelos povos asiáticos, como uma dádiva dos deuses, o ouro verde da floresta e o amigo do homem. No entanto, em outros países, como no Brasil, ao bambu ainda é atribuído, de forma pejorativa, o título de “madeira dos pobres”.
No Brasil, as espécies mais conhecidas e disseminadas de bambu são aquelas de origem asiática. Algumas delas foram introduzidas pelos colonizadores portugueses (principais gêneros: Bambusa e Dendrocalamus), tendo sido trazidas de suas possessões na Ásia. Atualmente, tais gêneros de bambus encontram-se disseminados por todo o território nacional, fazendo parte do ecossistema, servindo de proteção da fauna e preservando os lençóis d’água.
Além de fazer parte da típica paisagem rural brasileira, tais bambus começam a despertar o interesse econômico junto a diversas empresas. Pode-se citar, por exemplo, em Coelho Neto, no estado do Maranhão, as imensas plantações de Bambusa vulgaris Schrad, pertencentes ao grupo João Santos (Itapagé), destinadas à produção de celulose para a fabricação de sacarias industriais, principalmente para sacos de cimento.
Outros gêneros de bambus foram introduzidos mais recentemente ao Brasil, trazidos por imigrantes asiáticos (gêneros Sasa ePhyllostachys). Cabe destacar que tais bambus, de crescimento alastrante, atualmente constituem-se em importante fonte de renda para agricultores, artesãos e construtores em bambu.
O Brasil é detentor de um grande número de gêneros e de espécies de bambu. As espécies nativas são conhecidas geralmente por taquara, taboca, jativoca, taquaruçú ou taboca-açú, conforme sua região de ocorrência. Tais espécies, geralmente de porte arbustivo, se misturam e se confundem com a floresta. Existem grandes áreas desses tipos de bambu na Floresta Amazônica (Acre), no parque da Foz do Iguaçú e nas margens de alguns rios do Pantanal. Nessas regiões ocorrem bambus pertencentes ao gênero Guadua – um dos mais importantes para uso em construções.
Os portugueses, durante a colonização, estavam interessados apenas na extração do pau-brasil presente na Mata Atlântica, e não deram importância às gramíneas existentes nessa floresta, devido ao fato de as mesmas apresentarem pequeno porte, não servindo, de um modo geral, para uso em construções. Cabe lembrar que os bambus genuinamente nacionais e que apresentam porte elevado encontravam-se longe da Costa Atlântica; pode-se, inclusive, afirmar que a “descoberta” das florestas de bambus gigantes brasileiros é relativamente recente.

O Bambu na América Latina

Quando comparado com a Colômbia e o Equador, o Brasil encontra-se ainda em clara desvantagem no tocante ao uso e na aceitação do bambu junto à população. Uma hipótese provável para esse possível “atraso” tecnológico refere-se à direção segundo a qual se processou a colonização desses países, ou seja, enquanto que o Brasil foi colonizado via Oceano Atlântico, a Colômbia e o Equador o foram pelo Oceano Pacífico. Portanto, quando os espanhóis iniciaram a colonização de seus territórios na América do Sul, já se defrontaram com verdadeiras fortalezas construídas pelos nativos, feitas com o bambu Guadua. Desse modo, os descendentes desses nativos apenas continuaram (e com certeza aprimoraram) o uso da tecnologia da construção com bambu, combinando os conhecimentos ancestrais com as novas tecnologias aportadas pelo desenvolvimento de equipamentos mais adequados para processar o bambu. No Equador foi desenvolvido um importante programa social denominado “Hogar de Cristo“, o qual visa suprir a deficiência de moradias para a população de baixa renda, por meio da industrialização na produção de casas em bambu . 
No entanto, esse quadro desfavorável quanto à aceitação do bambu começa ser revertido em nosso país. Como fruto do esforço de abnegados pesquisadores (Dirceu Ciaramelo, Anísio Azzini, Antonio Luiz Salgado, dentre outros), situados na Seção de Plantas Fibrosas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), um pequeno grupo de interessados começou também desenvolver atividades relacionadas a essa planta. Assim, ainda de forma tímida, em universidades começaram a ser investigadas as propriedades do bambu, propondo-se novas aplicações para esse material. Esse mesmo caminho já havia sido trilhado por pesquisadores que haviam se interessado pelo estudo e aplicação do eucalipto – um gênero exótico introduzido da Austrália. Inicialmente recebido com muita desconfiança, o eucalipto tem se mostrado atualmente uma importante fonte de riqueza para o Brasil, servindo para os mais variados usos na fabricação de carvão, na produção de celulose e papel e também para uso na construção civil.

Agora é chegada a hora do bambu…

Importantes eventos científicos, tais como EBRAMEM, NOCMAT e CONBEA, já dedicam parte da programação à apresentação de trabalhos sobre o bambu; da mesma forma, organismos financiadores (CNPq, FAPESP, dentre outros) também tem apoiado projetos que visem avaliar as características do bambu e de seus derivados. No entanto, cumpre ressaltar o apoio institucional que o bambu vem recebendo nos últimos tempos- o Seminário Nacional, realizado pela primeira vez em 2005, em Brasília, constituiu um divisor de águas, e permitiu que pela primeira vez no Brasil, houvesse um edital específico para pesquisar o bambu, conseguindo-se, em 2007,  financiamento para 12 grupos espalhados pelo território nacional. No segundo evento, realizado em 2008, em Rio Branco – AC, constituiu-se a Rede Brasileira do Bambu (RBB), que visa congregar todos aqueles que se interessam pelo estudo e pela aplicação do bambu e de seus derivados.
Para confirmar de vez o apoio governamental, em recente missão à China, o Governo Federal firmou um acordo de cooperação técnica, justamente para parcerias com um velho conhecido dos chineses – o bambu!
E, finalmente, em 2011 o Governo Federal sancionou uma lei de incentivo ao plantio do bambu (Lei Federal 12484), o que sem sombra de dúvida irá despertar o interesse empresarial visando à implantação do plantio do bambu em grande escala, provavelmente para fins de obtenção, em uma primeira etapa, de biomassa energética.
Deve-se lembrar que uma iniciativa similar, na década de 1960, estimulou o plantio do eucalipto e do pinus no território nacional. E hoje produtos à base dessas duas madeiras respondem por substancial parcela no agronegócio brasileiro, empregando milhares de pessoas.

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