ugandeses Investimentos impulsionam a classe média africana
Ugandeses na área VIP de um show do músico norte-americano Sean Kingston. Foto: Will Boase/IPS

Kampala, Uganda, 8/1/2013 – Os investimentos no setor de serviços da África, o aproveitamento de seus vastos recursos naturais e as sólidas políticas econômicas dos governos nas duas últimas décadas impulsionaram a expansão da classe média no continente a um ritmo mais rápido do que o próprio crescimento populacional.
Os investimentos em setores importantes – como bancário, imobiliário, telecomunicações, tecnologias da informação, transporte e turismo – fizeram crescer a classe média do continente, explicou à IPS o pesquisador Lawrence Bategeka, do Centro de Estudos sobre Políticas Econômicas, com sede em Uganda. “A liberalização das economias africanas significou maior eficiência e um rápido crescimento do setor de serviços. O crescimento, impulsionado pelo setor privado, teve como consequência a ampliação da classe média do continente”, afirmou Bategeka.
A classe média na África é definida como o grupo populacional que apresenta consumo diário por habitante entre US$ 2 e US$ 20, segundo o informe The Middle of the Pyramid (O Meio da Pirâmide), elaborado no ano passado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). Por este estudo, a classe média africana passou de 27% da população do continente, em 1980, para 34% em 2010. A África conta hoje com cerca de um bilhão de habitantes. Isto significa taxa de crescimento de 3,1%, contra a de 2,6% da população em geral do continente no mesmo período, diz o BAD.
A classe média é considerada fundamental para o futuro da África, já que é crucial para seu desenvolvimento econômico e político. Mas é difícil determinar exatamente os que entram nesse grupo e, portanto, definir sua constituição, segundo o BAD. Em Uganda, uma pessoa é considerada de classe média se tem boa instrução, pode alugar ou comprar uma boa moradia, tem acesso à internet, faz compras habituais em supermercados e gasta o equivalente a US$ 15 por dia, explicou à IPS o administrador associado da companhia privada de estudos Alpha Partners, Stephen Kabovo.
Joseph Nsubuga, agente imobiliário próximo de Kampala, capital de Uganda, aproveitou bem a expansão da classe média. “O aumento da renda de muitas pessoas fez disparar a procura por terra e vi nisso uma oportunidade para fazer meus próprios ganhos. Comecei a vender o que havia herdado dos meus pais, e agora meu trabalho é comprar e vender terras. Meu ganho melhorou e posso enviar meus filhos para boas escolas”, contou à IPS.
O pedagogo James Babalanda, de Kampala, também viu uma oportunidade para melhorar sua qualidade de vida. Ele disse à IPS que, “desde que as pessoas começaram a ganhar mais, passaram a comprar melhores equipamentos eletrônicos. Então, decidi abrir várias lojas desse ramo na capital e, acredite, tenho uma boa vida. Meu negócio cresce porque há um bom mercado.
Bategeka afirmou que há espaço para um crescimento ainda maior da classe média, mas ressaltou que o governo deve investir mais em infraestrutura. “Uganda é um bom exemplo de como as reformas econômicas melhoram a renda das pessoas, e este crescimento seria ainda maior se houvesse mais investimentos em infraestrutura. A maioria dos países tem um lento crescimento do setor privado devido ao déficit em infraestrutura”, acrescentou.
Reduzindo o controle estatal e adotando políticas favoráveis ao setor privado, as economias africanas estimularam o crescimento da classe média, e ainda há espaço para uma expansão maior se houver mais investimentos públicos em infraestrutura, insistiu Bategeka. Na década de 1990, as economias africanas adotaram os programas de ajuste estrutural exigidos pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com políticas de livre mercado.
“A liberalização, que se concentrou em um crescimento do setor privado, foi essencial para a expansão da classe média do continente”, pontuou Bategeka, acrescentando que “os países adotaram políticas econômicas sólidas que controlaram a inflação, beneficiando os investimentos em suas economias”. Para este especialista, “os investimentos no setor de serviços são parte do motor do crescimento da classe média no continente. As sólidas políticas macroeconômicas, ao mesmo tempo, atraíram investimentos estrangeiros diretos, que contribuíram para o crescimento da classe média”, ressaltou.
Os países do norte da África são os que têm maior classe média. A Tunísia registra a maior proporção de população nesse setor socioeconômico, com 89,5%, seguida do Marrocos com 84,6%. A Libéria é o país que tem a menor concentração de classe média entre os países estudados, com apenas 4,8% de sua população, seguida de Burundi com 5,3%.
“A classe média africana é uma fonte fundamental do crescimento do setor privado na África, pois representa uma grande parte da demanda efetiva de bens e serviços”, segundo o BAD. A África subsaariana continua protegida dos fatores negativos que afetam o crescimento em muitas nações em desenvolvimento, e a atividade econômica na região é, em geral, sólida. Espera-se que o crescimento no período 2012-2013 seja igual ao do período anterior, afirma o FMI em suas perspectivas para a região, apresentadas em outubro do ano passado. Envolverde/IPS
(IPS)