O BRASIL E PORTUGAL
Eça de Queiróz
Os jornais ingleses
desta semana têm-se ocupado prolixamente do Brasil. Um correspondente do Times,
encarregado por esta potência de ir fazer pelo continente americano uma
«vistoria social» definitiva, deu-nos agora, em artigos repletos e maciços o
resultado do seu ano de jornadas e de estudos.
O último artigo é
dedicado ao Brasil: eu, que nunca visitei o império, não tenho naturalmente
autoridade para apreciar essas revelações (porque o correspondente toma a
atitude de um revelador) sobre a religião, a cultura, os produtos, o comércio,
a emigração, o carácter nacional, o nível de educação, a situação dos
portugueses, a dinastia, a constituição, a república et de omni re braziliensi,
e não posso transcrevê-las também porque elas enchem, no Times vasto como é,
mais espaço que o próprio Brasil ocupa no território da América do Sul. Esse
artigo excitou o interesse e os comentário da Pall-Mall Gazette e de outros
jornais, e aí se rompeu a falar do Brasil com simpatia, com curiosidade, com
essas admirações ingénuas pela sua rutilante flora, esse pasmo quase assustado
pela sua vastidão, que decerto tiveram nossos avós quando o bom
Pedro Álvares Cabral,
largando a procurar o Preste João, voltou com a, rara nova das terras
entrevistas do Brasil... Devendo mostrar-lhes a opinião presente da Inglaterra
sobre o Brasil, desses artigos floridos, escolho o do Times, anotando e
glosando o trabalho do seu enviado. (E deste modo respeitoso que se deve falar
sempre de um correspondente do Times.)
Começa, pois, o
grande jornal da City por dizer – «que a descrição do vasto império do Brasil
com que foi fechada a série das cartas sobre o continente americano deve ter
feito transbordar o sentimento de admiração pelo esplendor, etc. Seguem-se aqui
naturalmente vinte linhas de êxtase: é, em prosa, a ária do quarto acto da
Africana, Vasco da Gama de olhos húmidos e coração suspenso no enlevo de tanta
flor prodigiosa, de tão raros cantos de aves raras...
Depois vem o espanto
clássico pela extensão do império: «Só o simples tamanho de um tal domínio
(exclama) na mão de uma diminuta parcela da humanidade é já em si um facto
suficientemente impressionador!»
E todavia esta
admiração do Times pelo gigante é misturada a um certo patrocínio familiar, de
ser superior – que é a atitude ordinária da Inglaterra e da imprensa inglesa
para com as nações que não têm duzentos couraçados, um Shakespeare, um Bank of
England e a instituição do roast-beef... Neste caso do Brasil, o tom de
protecção é raiado de simpatia...
Depois o artigo rompe
de novo num hino: «A Natureza no Brasil não necessita do auxílio do homem para
se encher de abundâncias e se cobrir de adornos!... Para seu próprio prazer
planta, ela mesma, luxuriantes parques! E não há recanto selvagem que não faça
envergonhar as mais ricas estufas da Europa...» Isto é decerto exacto: mas o
Times, receando que os seus leitores viessem a supor que a Natureza do Brasil
está de tal modo repleta, tão indigestamente atestada, que não permite, que se
recusa com furor a receber no seu ventre empanturrado uma semente mais sequer –
apressa-se a tranquilizá-los: «Mas (diz este sábio jornal judiciosamente) ainda
que a Natureza dispense bem todo o trabalho do homem, que outros solos menos
generosos requerem para se abrir em flores e frutos – não o repete todavia. Isto
sossega os nossos ânimos: ficamos assim certos que nenhum fazendeiro, nos
distantes cafezais, ao atirar à terra, a terra-mãe, com a enxada fecundadora, a
semente inicial, corre o risco atroz de ser por ela atacado à pedrada ou a
golpes de bananeira... Nem outra coisa se podia esperar da doce e pacífica
Ceres..
Tendo assim floreado,
de penacho oratório ao vento, o Times investe com as ideias práticas. E começa
por declarar que, segundo o copioso relatório do seu correspondente, «o que
surpreende na América do Sul (se exceptuarmos aquela tira de terra que
constitui a República do Chile, e alguns bocados da costa do enorme Império do
Brasil) é a grandeza de tais recursos comparada à desapontadora magreza dos
resultados». Seria fácil responder com a escassez da população. O Times, de
resto, sabe-o bem, porque nos fala logo dessa população nas repúblicas
espanholas, mas não a acha escassa; o que a acha é torpe!... A pintura que nos
dá do Peru, Bolívia, Equador e consortes e ferina e negra: «Essa gente vive numa
indolência vil, que não é incompatível com muita arrogância e muita exagerada
vaidade! Desse torpor só rompe, por acesso de frenesi político. Todo o trabalho
aí empreendido para fazer produzir a Natureza é dos estrangeiros: os naturais
limitam-se a invejá-los, a detestá-los por os verem utilizar oportunidades que
eles mesmo não se quiseram baixar a usar!» Isto é cruel: não sei se é justo:
mas entre estas linhas palpita todo o rancor de um inglês possuidor de maus
títulos peruanos. «E se o nosso correspondente (continua o artigo) oferece de
alto o Brasil à nossa admiração, não é em absoluto, é relativamente, em
contraste com os países que quase o igualam em vantagens materiais, como o Peru
e o Rio da Prata, mas onde a discórdia intestina devora e destrói todo o
progresso nascido da actividade estrangeira. O Brasil é português e não
espanhol: e isto explica tudo. O seu sangue europeu vem daquela parte da
Península Ibérica em que a tradição é a liberdade triunfante e nunca
suprimida.» O Times aqui abandona-se com excesso às exigências rítmicas da
fase: parece imaginar que desde a batalha de Ourique temos vindo caminhando
numa larga e luminosa estrada de ininterrompida democracia!...
Mas, enfim, continua:
«Quando o Brasil quebrou os seus laços coloniais não tinha a esquecer feias
memórias de tirania e rapacidade nem teve de suprimir genericamente os
vestígios de um mau passado.» Com efeito; pobres de nós, nunca fomos decerto
para o Brasil senão amos amáveis e timoratos.
Estávamos para com
ele naquela melancólica situação de velho fidalgo, solteirão arrasado,
desdentado e trôpego, que treme e se baba diante de uma governanta bonita e
forte. Nós verdadeiramente é que éramos a colónia: e era com atrozes sustos do
coração que, entre uma salve-rainha e um lausperene, estendíamos para lá a mão
à esmola...
O Times prossegue:
«Ainda que independente, o Brasil ficou português de nacionalidade e
semieuropeu de espírito. Pelo simples facto de se sentir português, o povo
brasileiro teve, e conserva, o instinto do grande dever que lhe incumbe: tirar
o partido mais nobre da sua nobre herança... Sejam quais tenham sido os erros
de Portugal, não se pode dizer que se tenha jamais contentado com o mero número
das suas possessões, sem curar de lhes extrair os proventos O Times aqui dormita,
como o secular Homero.
E justamente o que
nos preocupa, o que nos agrada, o que nos consola é contemplar simplesmente o
número das nossas possessões: pôr-lhes o dedo em cima, aqui e além, no mapa;
dizer com voz de papo, ore rotundo: «Temos oito; temos nove, somos uma nação
colonial, somos um génio marítimo!...» Enquanto a extrair-lhes os proventos, na
frase judiciosa do Times, desses detalhes miseráveis não cura o pretor nem os
netos de Afonso de Albuquerque!... Mas prossegue o Times. «O império colonial
de Portugal talvez tenha sido outrora caracterizado por desfortuna – quase
nunca por estagnação.» Talvez é bom: com o império do Oriente, no nosso
passado, que é um dos mais feios monumentos de ignomínia de todas as idades...
Continuemos.
«Do sentido donde o
Brasil deriva a sua actividade deriva também (o que não é menos importante) o
respeito pela opinião da Europa. O vadio das ruas de Lima, de Caracas ou de
Buenos Aires nutre um soberano desprezo pelos juízos que a Europa possa formar
das suas tragicomédias políticas... Não tem consciência de coisa alguma, a não
ser do seu sangue castelhano... Sente decerto o inconveniente de ser expulso do
crédito e das bolsas da Europa... Mas avalia esta circunstância apenas pelos
embaraços momentâneos que ela lhe traz. O financeiro brasileiro, porém, esse
presta uma tão respeitosa atenção ao temperamento das bolsas de Paris e Londres
como ao da mesma praça do Rio de Janeiro...» O Times vê neste sintoma a
consideração que o Brasil tem pela opinião da Europa.
Mas onde o Times se
engana é quando pretende que o Brasil deve ao seu sangue português esta bela
qualidade de obedecer aos juízos do mundo civilizado. Não há pais no universo
onde se despreze mais, creio eu, o julgamento da Europa que em Portugal: nesse
ponto somos como o vadio das ruas de Caracas, que o Times tão pitorescamente
nos apresenta: porque eu chamo desdenhar a opinião da Europa não fazer nada
para lhe merecer o respeito. Com efeito, o juízo que de Badajoz para cá se faz
de Portugal não nos é favorável, nós sabemo-lo bem – e não nos inquietamos! Não
falo aqui de Portugal como Estado político. Sob esse aspecto gozamos uma
razoável veneração. Com isto, nós não trazemos à Europa complicações
importunas; mantemos dentro da fronteira uma ordem suficiente: a nossa
administração é correctamente liberal; satisfazemos com honra os nossos
compromissos financeiros.
Somos o que se pode
dizer um povo de bem, um povo boa pessoa. E a nação, vista de fora e de longe,
tem aquele ar honesto de uma pacata casa de província, silenciosa e caiada,
onde se pressente uma família comedida, temente a Deus, de bem com o regedor e
com as economias dentro de uma meia... A Europa reconhece isto: e todavia olha
para nós com um desdém manifesto. Porquê? Porque nos considera uma nação de medíocres:
digamos francamente a dura palavra – porque nos considera uma raça de
estúpidos. Este mesmo Times, este oráculo augusto, já escreveu que Portugal era
intelectualmente tão caduco, tão casmurro, tão fóssil, que se tornara um país
bom para se lhe passar muito ao largo e atirar-lhe pedras (textual).
O Daily Telegraph já
discutiu em artigo de fundo este problema: se seria possível sondar a espessura
da ignorância lusitana! Tais observações, além de descorteses, são decerto
perversas. Mas a verdade é que numa época tão intelectual, tão crítica, tão
científica como a nossa, não se ganha a admiração universal, ou se seja nação
ou indivíduo, só com ter propósito nas ruas, pagar lealmente ao padeiro e
obedecer, de fronte curva, aos editais do Governo Civil. São qualidades
excelentes mas insuficientes.
Requer-se mais:
requer-se a forte cultura, a fecunda elevação de espírito, a fina educação do
gosto, a base científica e a ponta de ideal que em França, na Inglaterra, na
Alemanha, inspiram na ordem intelectual a triunfante marcha para a frente; e
nas nações de faculdades menos criadoras, na pequena Holanda ou na pequena
Suécia, produzem esse conjunto eminente de sábias instituições que são, na
ordem social, a realização das formas superiores do pensamento.
Dir-me-ão que eu sou
absurdo ao ponto de querer que haja um Dante em cada paróquia e de exigir que
os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos. Bom Deus, não! Eu não reclamo
que o país escreva livros, ou que faça artes: contentar-me-ia que lesse os
livros que já estão escritos e que se interessasse pelas artes que já estão
criadas. A sua esterilidade assusta-me menos que o seu indiferentismo. O
doloroso espectáculo é vê-lo jazer no marasmo, sem vida intelectual, alheio a
toda a ideia nova, hostil a toda a originalidade, crasso e mazorro, amuado ao
seu canto, com os pés ao sol, o cigarro nós dedos e a boca às moscas... E isto
o que punge.
E o curioso é que o
país tem a consciência muito nítida deste torpor mortal e do descrédito
universal que ele lhe atrai. Para fazer vibrar a fibra nacional, por ocasião do
centenário de Camões, o grito que se utilizou foi este: «Mostremos ao mundo que
ainda vivemos, que ainda temos uma literatura!»
E o país sentiu
asperamente a necessidade de afirmar alto à Europa que ainda lhe restava um
vago clarão dentro do crânio. E o que fez? Encheu as varandas de bandeirolas e
rebentou de júbilo a pele dos tambores. Feito o que – estendeu-se de ventre ao
sol, cobriu a face com o lenço de rapé e recomeçou a sesta eterna. Donde eu
concluo que Portugal, recusando-se ao menor passo nas letras e na ciência para
merecer o respeito da Europa inteligente, mostra, à maneira do vadio de
Caracas, o desprezo mais soberano pelas opiniões da civilização. Se o Brasil,
pois, tem essa qualidade eminente de se interessar pelo que diz o mundo culto,
deve-o às excelências da sua Natureza, de modo nenhum ao seu sangue português:
como português, o que era lógico que fizesse era voltar as costas à Europa,
puxando mais para as orelhas o cabeção do capote...
Mas retrocedendo ao
artigo do Times: a conclusão da sua primeira parte é que «em riqueza e
aptidões, o Brasil leva gloriosamente a palma às outras nacionalidades da
América do Sul». Todavia, o Times observa no Brasil circunstâncias
desconsoladoras: «Doze milhões de homens estão perdidos num estado maior que
toda a Europa: a receita pública, que é de doze milhões de libras esterlinas, é
muitos milhões inferior à da Holanda e à da Bélgica; com uma linha de costa de
quatro mil milhas de comprimento, e com pontos de uma largura de duas mil e
seiscentas milhas, o Brasil exporta, em valor de géneros, a quarta parte menos
que o diminuto reino da Bélgica.» O Times, todavia, tem a generosidade de
admitir que nem a densidade de população, nem o total das receitas, nem a cifra
das exportações constituem a felicidade de um povo e a sua grandeza moral. A
Suíça, que tem dois milhões de habitantes e justamente os mesmos dois milhões
(em libras) de receita, vive em condições de prosperidade, de liberdade, de
civilização, de intelectualidade bem superiores à tenebrosa Rússia, com os seus
oitenta milhões de libras de receita e os mesmos oitenta milhões em homens.
«Todavia (continua o Times), se a escassez da população, de rendimento e de
comércio não colocam o Brasil num estado de adversidade são uma prova que
faltam a esse povo algumas das qualidades que fazem a grandeza das nações.
Que os colonizadores
portugueses, apenas apoiados pelo pequeno trono português, tivessem feito da
metade do novo mundo que lhes concedeu o papa Alexandre mais que os
colonizadores espanhóis, que tiravam a sua força da grande nação de Espanha, é
uma coisa que prova a favor do sangue português comparado com o sangue
castelhano, andaluz ou aragonês. Mas que as conquistas feitas no Brasil à
Natureza sejam tão insignificantes e tão vastos os espaços que permanecem não
só inconquistados mas desamparados – indica que são análogos os defeitos da
colónia espanhola e da colónia portuguesa..
O resto do artigo é
mais sério; e eu devo transcrevê-lo sem interrupção. «O Brasileiro não é, como
o Peruano ou Boliviano, altivo de mais, ou preguiçoso de mais para se dignar
reparar nos meios de riqueza e de grandeza tão .prodigamente espalhados em
torno de si. Não; o Brasileiro tem energia suficiente para ambicionar e para
calcular. A sua atenção está fixa nas férteis regiões do interior. Desejaria
bem ver a rede dos seus rios navegáveis cobertos de barcos e vapores. Sucede
mesmo que, nos pontos mais ricos da costa, o habitante queixa-se que uma
excessiva porção dos impostos com que é sobrecarregado vai ser gasta em
colossais trabalhos empreendidos em vantagem de remotas e incultas regiões que
nunca, ou ao menos só daqui a longos anos, poderão aproveitar com eles. Mas em
todo o caso o Brasil sente em si força suficiente para dar ao seu vasto
território os benefícios de uma sábia administração.»
O Times aqui tem um
pequeno período aludindo à nobre ambição que têm os Brasileiros de fazer tudo
por si mesmos; vendo com aborrecimento as grandes obras entregues à perícia
estrangeira, preferindo os esforços da ciência e do talento nacionais, ainda
mesmo quando eles falham, custando ao país milhões perdidos... Depois
prossegue:
«Mas enquanto o
Brasileiro se mostra assim, em teorias políticas e administrativas, ansioso por
fomentar ele mesmo, eles mesmos fazerem todas as obras dos seus cinco milhões
de milhas quadradas – as suas mãos repugnam a agarrar o cabo da enxada, ou
tomar a rabiça do arado, que é justamente o serviço que a Natureza reclama
dele. Num continente que depois de três séculos e meio continua a ser um torrão
novo, a grandeza das repúblicas ou dos impérios depende exclusivamente do
trabalho manual. Italianos, alemães, negros, têm sido, estão sendo importados
para fazerem o trabalho duro que repugna aos senhores do solo. Mas, inaclimatados
em certos distritos, eles nunca poderiam labutar como os naturais dos trópicos.
Nem mesmo nas províncias mais temperadas do império jamais os imigrantes
trabalharão resolutamente – até que o exemplo lhes seja dado pela população
indígena, senhora da terra. O Brasileiro ou tem de trabalhar por suas mãos, ou
então largar a rica herança que é incompetente para administrar. À maneira que
o tempo se adianta, vai-se tornando uma positiva certeza que todos os grandes
recursos da América do Sul entrarão no património da humanidade.»
O Times aqui
embrulha-se. Prefiro explicar a sua ideia, a traduzir-lhe a complicada prosa;
quer ele dizer que o dia se aproxima em que a civilização não poderá consentir
que tão ricos solos, como os dos estados do Sul da América, permaneçam estéreis
e inúteis: e que se os possuidores actuais são incapazes de os fazer valer e
produzir, para maior felicidade do homem, deveriam então entregá-los a mãos
mais fortes e mais hábeis. E o sistema de expropriação por utilidade de civilização.
Teoria favorita da Inglaterra e de todas as nações de rapina.
Continua depois o
artigo, com ferocidade: «No Peru, na Bolívia, no Paraguai, no Equador, na
Venezuela... em outros mais, os actuais ocupadores do solo terão gradualmente
de desaparecer e descer àquela condição inferior que o seu fraco temperamento
lhes marca como destino. (Nunca se escreveu nada tão ferino!) O povo
brasileiro, porém, tem qualidades excelentes e a Inglaterra não chegará
prontamente à conclusão de que ele tem de partilhar a sorte de seus febris ou
casmurros vizinhos...
Mas dadas as
condições do seu solo, o Brasil mesmo tem a escolher entre um semelhante futuro
ou então o trabalho, o duro esforço pessoal contra o qual até agora se tem
rebelado. Se o seu destino tivesse levado os Brasileiros a outro canto do
continente, nem tão largo nem tão belo, poder-se-ia permitir-lhes que passassem
a existência numa grande sonolência. Mas ao Brasileiro está confiada a décima
quinta parte da superfície do globo: essa décima quinta parte é toda um tesouro
de beleza, riquezas e felicidades possíveis; e de tal responsável – tem de
subir ou de cair!»
E com esta palavra à
Gambeta termino. Já se alonga muito esta carta para que eu a sobrecarregue de
comentários à prosa do Times. No seu conjunto é um juízo simpático.
O Times, sendo, por
assim dizer, a consciência escrita da classe média da Inglaterra, a mais rica,
a mais forte, a mais sólida da Europa, tem uma autoridade formidável;
escrevendo para o Brasil eu não podia deixar de recolher as suas palavras – que
devem ser naturalmente a expressão do que a classe média da Inglaterra pensa ou
vai pensar algum tempo do Brasil. Porque a prosa do Times é a matéria-prima de
que se faz em Inglaterra o estofo da opinião.
E reparando agora
que, por vezes nestas linhas, fui menos reverente com o Times – murmuro, baixo
e contrito, um peccavi...
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